Visão embaçada pode indicar doenças

Muitas doenças podem ser diagnosticadas no fundo do olho, região entre o cristalino (lente responsável pelo foco) e a retina (membrana receptora das imagens). A visão embaçada, especialmente quando acompanhada por dores de cabeça, ardência, olhos vermelhos, dificuldade de focar e visualização de pontos luminosos, pode indicar diversas doenças.

Um exame do fundo do olho pode inclusive salvar vidas. A avaliação completa é realizada com a pupila dilatada (a pupila é responsável pela passagem da luz do meio exterior aos órgãos sensoriais da retina). Lentes especiais ampliam diversas vezes o nervo óptico, a retina e os vasos sanguíneos da região. O procedimento é útil para detectar diversos problemas oculares e sistêmicos.

Principalmente entre crianças e jovens, a visão embaçada pode indicar os problemas mais comuns diagnosticados no consultório do oftalmologista: miopia (dificuldade em enxergar de longe), astigmatismo e hipermetropia (dificuldade em enxergar de perto).

O astigmatismo evolui muito pouco no curso da vida, mas, ao contrário da miopia e hipermetropia, que podem regredir e mesmo desaparecer, o astigmatismo quase sempre se mantém.

Nos casos de evolução, ele pode ser um sintoma de ceratocone, deformidade progressiva da córnea que pode ser corrigida com o uso de lentes de contato ou, em casos mais graves, com transplante de córnea. Outros sintomas são fotofobia (hipersensibilidade à luz), visão distorcida e aumento rápido do grau de miopia. O ceratocone afeta uma entre 250 pessoas (é, portanto, mais comum do que se imagina). A coceira frequente é um sinal característico da doença.

Nuvem à frente

Crianças pequenas raramente conseguem descrever os sintomas que as afligem, e a visão embaçada está entre eles. Por isto, é importante encaminhar os filhos entre quatro e seis anos ao exame oftalmológico, mesmo na ausência de queixas específicas.

Caso sejam notados desvios nos olhos, pupila branca ou outra anormalidade qualquer, o exame se torna urgente. Nas crianças maiores e no início da adolescência, o embaçamento da visão prejudica o rendimento escolar e o bom desempenho em brincadeiras e esportes.

Os adultos costumam encarar a visão embaçada como uma condição dentro da normalidade. A partir de certa idade, a ocorrência de presbiopia (vista cansada) é um evento bastante comum, mas, nem por isto, pode ser classificado como normal. Pode ser corrigido facilmente com lentes. Os exames, a partir dos 40 anos, também são importantes para o eventual diagnóstico precoce de glaucoma, catarata e degeneração da retina.

O embaçamento da visão identificado em apenas um dos olhos é uma condição urgente: pode indicar a presença de tumores, neurite óptica, complicações do diabetes e acidente vascular cerebral.

Quando a nuvem progride e toma forma de uma cortina à frente dos olhos, pode estar ocorrendo um descolamento da retina (separação da retina e da coroide, camada de vasos sanguíneos nutrientes). Se a retina não for recolocada em algumas horas, o paciente pode ter perda total da visão.

Resultados possíveis

O exame de fundo do olho não é preventivo, mas permite o controle adequado de doenças já instaladas, como diabetes, hipertensão arterial, enfermidades reumáticas, tuberculose, hanseníase, toxoplasmose, AIDS e até tumores intracranianos (que, em alguns casos, se manifestam primeiramente nos olhos).

Muitos clínicos gerais encaminham pacientes diabéticos a oftalmologistas, já que, através das observações obtidas através dos vasos sanguíneos oculares, contidas no relatório do exame de fundo do olho, é possível verificar o funcionamento dos rins e também controlar os níveis de glicose no sangue.

Em casos de diabetes, o açúcar se dilui nos fluidos dos olhos e tecidos adjacentes, alterando o índice de refração. Em um AVC, quando o acidente ocorre na região responsável pelo processamento das imagens, o paciente deixa de enxergar parte das coisas ao seu redor
Uma pupila contraída indica possível uveíte (inflamação a úvea, formada pela íris, corpo ciliar e coroide), que pode levar à cegueira, se não receber o atendimento correto. A uveíte pode ser uma complicação da toxoplasmose, tuberculose, herpes, doenças reumáticas autoimunes, hanseníase e algumas formas de leucemia.

Já a pupila dilatada pode estar relacionada a tumores, glaucoma e doenças do sistema nervoso central. Ela também pode ser provocada por traumas no rosto e na cabeça.

A visão dupla pode indicar a presença de um tumor intracraniano, acidente vascular cerebral, traumas e hiperglicemia (elevação do teor de glicose no sangue).

Olhos saltados e inchados são sinais de hiperglicemia. Episódios de cegueira momentânea são indicativos de tumor intracraniano, dificuldades na circulação sanguínea no cérebro ou arritmia cardíaca. A visão borrada pode indicar diabetes, sangramento ocular, inflamação e hipertensão arterial. Os olhos secos podem ser causados por alterações hormonais, menopausa e síndrome de Sjogren, uma doença reumática crônica.

A visão embaçada e turva, acompanhada por halos ao redor de luzes à noite e dificuldade discernir cores brilhantes (que se instalam gradualmente) podem indicar o surgimento de catarata. Não é uma emergência médica, mas, sem cuidado, o cristalino ficará cada vez mais embaçado com o envelhecimento, demandando uma cirurgia para implante de lente intraocular artificial, para substituição do cristalino não funcional. O adiamento da cirurgia pode provocar outras doenças.

Dores de cabeça

Aliada à visão embaçada, a dor de cabeça, especialmente quando se instala no final do dia, quase sempre está relacionada à falta do uso de óculos. Os sintomas são bastante comuns depois dos 40 anos, quando se instala a presbiopia.

Pacientes que adiam muito tempo para renovar a receita do oftalmologista ou que apresentam grande diferença de acuidade visual entre os olhos também sofrem com estes males. Portanto, as consultas regulares são fundamentais.

Quem sofre de enxaqueca e não faz parte de nenhum dos grupos citados acima podem estar correndo o risco de aumento na escavação do disco óptico, que, no médio prazo, provoca glaucoma e neuropatia óptica isquêmica, causada pela contração dos vasos sanguíneos oculares.

Estresse

O aumento da produção, pelo organismo, de cortisol (hormônio associado ao estresse crônico) enfraquece a musculatura ciliar responsável pela capacidade de focar do cristalino – é a chamada acomodação, que compromete gradualmente a produtividade no trabalho e pode ser responsável por diversos acidentes, tais como quedas.

O estresse também pode induzir o acúmulo de líquido entre as camadas da retina, provocando visão distorcida na região central, hipermetropia induzida e metamorfopsia (tortuosidade durante a leitura), que pode ser permanente.