Acne é uma doença de pele, mais comum durante a adolescência, por causa do aumento da produção hormonal, mas pode ocorrer em qualquer fase da vida. Afeta milhões de pessoas em todo o mundo. O mal se caracteriza pelo aumento da secreção das glândulas sebáceas, provocando a erupção de espinhas, cravos e bolhas, especialmente no rosto, costas, peito e ombros.
É comum a ocorrência do entupimento dos poros, gerando bolhas de pus. Muitas pessoas tentam livrar-se delas, principalmente por causa do mau aspecto, e acabam espremendo-as. No entanto, isto só aumenta o problema, agravando a infecção e gerando cicatrizes, manchas e ferimentos.
O tratamento da acne geralmente é feito à base de cremes e sabonetes bactericidas e que também reduzem a oleosidade da pele, coadjuvado por esfoliantes. Mulheres podem reduzir os efeitos da acne com o uso de contraceptivos orais, que reduzem a quantidade de hormônios masculinos no organismo e, em casos mais graves, é preciso a adoção de retinoides (contraindicados para grávidas) e antibióticos para combater a infecção.
No entanto, pesquisadores das universidades da Califórnia e de Pittsburgh (EUA) descobriram vírus que vivem na pele humana e de outros animais e podem combater as bactérias causadoras da acne. Chamados genericamente de fagos (foram identificados 11 tipos diferentes), estes vírus produzem uma enzima, a endolisina, que ataca e destrói os invasores. São classificados como bacteriófagos, ou seja, comedores de bactérias.
A enzima quebra as moléculas da Propionibacterium acnes, bactéria responsável pela obstrução dos poros que provoca a acne, quando se multiplica de forma descontrolada. Com o rompimento da membrana celular da bactéria, torna-se impossível a mutação que a torna mais resistente a outros métodos de tratamento.
As 11 espécies de vírus compartilham mais de 85% do RNA, um percentual inédito, uma vez que estes microrganismos costumam apresentar grande diversidade genética. Isto se explica porque, durante séculos de evolução, eles se especializaram em matar bactérias, para capturar seu DNA e reproduzir-se.
Os vírus não provocam nenhum mal à saúde humana. O estudo foi publicado recentemente no site da American Society for Microbiology e reproduzido em diversos sites de instituições científicas.
Está sendo iniciada a fase 3 da pesquisa, das quatro fases exigidas pela Food and Drug Administration (FDA) para permitir o uso em escala comercial. A FDA é o órgão americano responsável por aprovar a venda de alimentos industrializados e medicamentos no país.
A quarta etapa determina a segurança para a saúde e a eficácia nos tratamentos. Estudos em voluntários indicaram que a aplicação do vírus na pele produz efeitos contra a acne, mas ainda não se sabe se a enzima isolada acarretará os mesmos resultados.
Com a descoberta e o sequenciamento do DNA, chega a vez da indústria cosmética, que começa a testar cremes e pomadas com os fagos ou apenas com a enzima responsável por matar as bactérias da acne. O principal benefício é que os vírus não exterminam todas as bactérias, ao contrário dos antibióticos.
A Propionibacterium acnes é importante para a saúde da pele, por se alimentar das secreções produzidas pelas glândulas sebáceas, ajudando a manter o equilíbrio cutâneo. Ela só se torna nociva quando a população aumenta demais, como é o caso da adolescência, gravidez e menopausa. Ela também está presente no trato gastrointestinal e é usada na indústria alimentícia: o ácido propiônico, produzido pela bactéria, é usado para evitar o amarelecimento dos pães.
Enquanto os fagos e suas enzimas não chegam às gôndolas das drogarias, é preciso seguir com os tratamentos tradicionais. No entanto, os cientistas estão entusiasmados com o avanço das pesquisas.