Os suplementos multivitamínicos frequentam as prateleiras das farmácias desde os anos 1930, quando começaram a ser sintetizados em laboratório. As vitaminas são essenciais para o nosso corpo: por definição, são substâncias não produzidas pelo organismo e, por isto, precisam ser absorvidas através da alimentação.
Em 1912, o bioquímico polonês Kazimiers Funk batizou estes compostos com letras: A, B1, B2, B3, B5, B6, B7, B9, B12, C, D, E e K. O cientista acreditava que todos eles tinham a mesma constituição: eram formados por aminas (substâncias que têm o nitrogênio como base) e, como eram essenciais para a conservação da vida, o cientista acrescentou o radical latino “vital”, criando a palavra. Posteriormente, descobriu-se que os compostos possuem composições diferentes, mas o termo “vitamina” já se havia popularizado.
Em 1960, o químico americano Linus Pauling ajudou a indústria dos multivitamínicos. Pauling é um dos poucos seres humanos a obter dos prêmios Nobel; o de Química, em 1954, pelos seus estudos sobre a natureza das ligações químicas, e o da Paz, em 1962, pela campanha contra os testes nucleares. O químico desenvolveu o conceito da medicina ortomolecular (que ainda não é aceito no meio científico) e defendeu a ideia de que as vitaminas poderiam prevenir doenças como o câncer, cardiopatias e mesmo o envelhecimento. Na década seguinte, publicou o livro “A Vitamina C e o Resfriado Comum”: foi mais do que suficiente para acabar com os estoques de efervescentes vitamínicos das drogarias.
O problema é que, nos milhões de anos anteriores à sintetização das proteínas, a humanidade sempre supriu suas necessidades com a alimentação. Quando tomamos um suco de laranja (com três frutas), já preenchemos a necessidade de vitamina C diária. Ao acrescentarmos multivitamínicos, simplesmente daremos mais trabalho ao sistema excretor: rins, bexiga, ureteres e uretra terão de fazer hora extra para eliminar o excesso.
O corpo humano não tem capacidade para estocar vitaminas. Absorve o necessário para desenvolver as diversas tarefas e elimina o supérfluo através da urina. Por exemplo, uma das funções da vitamina A é regenerar um pigmento das retinas, chamado rodopsina, responsável por dilatá-las quando estamos em locais pouco iluminados. A carência de vitamina A (encontrada na cenoura, ovos e queijos gordurosos) provoca cegueira noturna, a incapacidade de enxergar no escuro. Mas, desde que a iluminação elétrica foi inventada, cada vez menos precisamos de vitamina A.
Quando começam os problemas
É difícil manter uma dieta alimentar que garanta a absorção ideal das 13 vitaminas. Muitas pelas, em função do trabalho e dos estudos, “pulamos” refeições, fazemos lanches rápidos, apelamos para o fast food, encomendamos pizza ou comida chinesa no jantar, por preguiça de ir para a cozinha. Um estudo da Universidade Federal de São Paulo, realizado em 2007, indicou que 99% dos brasileiros não absorvem a quantia necessária de vitaminas D e E. Para suprir esta carência, entram em cena os multivitamínicos.
Mas a ingestão exagerada pode trazer prejuízos à saúde. Por exemplo, o consumo excessivo e continuado de vitamina A pode causar pele seca e áspera, fissuras nos lábios, dores nas articulações, tontura, náuseas, cãibras, lesões no fígado e, nas crianças problemas no desenvolvimento físico.
Em 2008, a Universidade do Texas (EUA) realizou uma pesquisa com 35 mil pessoas, para verificar a alegada prevenção do câncer de próstata com o uso de selênio e vitamina E. O índice de homens que desenvolveram a doença foi idêntico entre os que tomaram o suplemento e os que receberam o placebo. Comprovou-se que a vitamina E não é capaz de impedir a doença.
A vitamina B6 é indicada para atenuar os efeitos da tensão pré-menstrual (TPM). No entanto, ela causa problemas nevrálgicos, que desaparecem imediatamente quando a medicação é suspensa. Um estudo da Universidade de Copenhague (Dinamarca), que cruzou os resultados de mais de 60 pesquisas durante três anos, num universo de 232 mil pessoas, revelou um número de óbitos 5% maior no grupo que tomava multivitamínicos. O dado é estatisticamente desprezível, mas comprova que as vitaminas sintéticas são desnecessárias. Mas há um dado preocupante na pesquisa, entre os que tomaram vitamina A, o número de mortes foi 16% maior. A principal hipótese é a maior propensão para o desenvolvimento do câncer e de problemas vasculares.
O excesso de vitamina B9 (necessitamos de 0,4 grama diário, que pode ser obtido com 100 gramas de cereais em flocos) está relacionado ao câncer do cólon. Há um grupo, porém, que pode se favorecer com o consumo de multivitamínicos: mulheres em idade fértil devem consumir esta vitamina (também chamada ácido fólico), para prevenir doenças na medula espinal. A vitamina B9 está presente nas verduras verde-escuro (brócolis, couve, etc.), carnes magras, fígado, feijão e batata.