Os vampiros, como conhecemos, voltaram à moda na Idade Média, na Europa central e oriental, e de lá as lendas se disseminaram por todo o continente. Há relatos de acusações de vampirismo e violações de sepulturas para perfurar cadáveres com estacas em diversos países.
O principal exemplo é real. O conde Vlad III, da Romênia, se tornou famoso por seu sadismo. Era prática comum empalar inimigos – ou seja, introduzir uma estaca de madeira pelo ânus até a boca (ou até onde entrasse) e deixar os desafetos morrerem aos poucos, com hemorragias e perfurações. O número de vítimas chegaria a dezenas de milhares. O pai desse conde era cavaleiro da Ordem do Dragão, organização católica que combatia o crescimento do Islamismo. Dragão em romeno é “dracul”, e filho de dragão, “draculea”. Assim, Vlad ficou conhecido como o conde Draculea.
Em 1447, Vlad pai foi assassinado e a família perdeu as terras. Anos depois, Vlad filho retomou as posses e os camponeses da região se confundiram, imaginando tratar-se do velho Vlad, ressurgido do inferno. Imaginem o pavor que o conde espalhava. Em tempo: à época, diversas alcateias caçavam nos bosques romenos e era comum encontrar cadáveres humanos dilacerados. Vincular a ferocidade de Vlad III aos cadáveres espalhados pelos caminhos foi um passo bem curto.
Mais de 400 anos depois, Bram Stoker tomou conhecimento da história desse conde e criou “Drácula”, o vampiro mais lembrado da literatura e do cinema (apesar de o meu favorito ser Nosferatu, o primeiro filme sobre vampiros da história).
Vampiros tomam sangue porque precisam de fluidos vitais para viver. Eles podem ser afastados com alho (planta considerada apotrópica, isto é, que tem poderes para afastar o mal), podem ser mortos com uma estaca no coração, não suportam luz e não se veem no espelho (há uma excelente cena em “A Dança dos Vampiros”, de Roman Polanski, em que o investigador descobre os vampiros num baile, justamente quando eles passam por um espelho).
Até aqui, história e lendas. Mas os vampiros existem. É uma doença rara, a porfiria, mais comum entre os nobres europeus, que insistiam em casar seus filhos sempre nas mesmas famílias, para manter riqueza e poder e gerar filhos com várias doenças hereditárias. A porfiria se manifesta através de problemas na pele, provocando fotossensibilidade (aversão à luz) ou distúrbios mentais. A pele fica arroxeada, o doente perde sangue pela urina e fezes, que ficam avermelhadas. Até o século XIX, o tratamento indicado era tomar sangue de animais; era comum ver doentes em matadouros.
Anemia, pele clara e sensibilidade à luz. Os ingredientes foram dados, só faltava o imaginário popular criar mais um mito monstruoso, mas divertido.