O transtorno explosivo intermitente, popularmente chamado de “pavio curto”, é um distúrbio psiquiátrico em que a pessoa, em momentos de raiva, não consegue controlar seus instintos: xinga, grita, destrói objetos e chega a agredir outras pessoas, em alguns casos não diretamente envolvidas com a situação que desencadeou a ira. É o caso, por exemplo, de um motorista que se envolve num acidente de trânsito e ataca o policial que veio verificar a situação.
Neste transtorno, o paciente pode estar bem, passeando com a família, brincando e rindo, mas basta uma situação que o contrarie para que o “gatilho” seja disparado: pode ser uma piada, uma observação pessoal, ou, no trânsito, um carro que dá uma “fechada” ou faz uma ultrapassagem irregular.
É comum ver motoristas com transtorno explosivo intermitente perseguindo o incauto que, na avaliação do doente, o prejudicou gravemente. Outros perdem o ônibus ou o elevador e descarregam a raiva onde puderem: bancos, postes, cestos de lixo. A reação é sempre desproporcional ao fato ocorrido.
Muitas pessoas desconhecem que o “pavio curto” seja uma doença. Acreditam que nasceram desse jeito e passam a vida toda sofrendo, com a autoestima em baixa, sem saber que há tratamento para o mal e os resultados obtidos são muito positivos e relativamente rápidos.
Os portadores do transtorno explosivo intermitente, depois dos acessos de raiva, percebem que exageraram e sentem vergonha, remorso e culpa. O distúrbio não está relacionado ao consumo de álcool e drogas e os pacientes raramente se envolvem em problemas sérios com a justiça. Em geral, existem casos de parentes sofrendo da mesma doença.
O diagnóstico de transtorno explosivo interminente
Antes de estabelecer o diagnóstico de transtorno explosivo intermitente, é preciso descartar outros transtornos: personalidade antissocial (desprezo pelas normas de conduta social e pelos sentimentos e direitos dos outros), personalidade limítrofe (desregulação emocional, raciocínio extremista e relações instáveis), de conduta (manifestações constantes de crueldade e tirania), de déficit de atenção (ou hiperatividade, quando o paciente inicia várias atividades ao mesmo tempo e não consegue se organizar para terminá-las) e bipolar (alternação de momentos de tristeza e de euforia), além de possíveis psicoses.
Em muitos casos, os pacientes conviveram em lares instáveis na infância e adolescência, onde agressões verbais e físicas eram comuns. Assim, não aprenderam a dar respostas positivas em situações de risco, desmotivação, desânimo, frustração e mesmo de contrariedade de interesses imediatos.
O tratamento do transtorno explosivo intermitente
Normalmente, os pacientes que têm transtorno explosivo intermitente reagem bem à psicoterapia, onde aprendem técnicas para responder adequadamente a situações de estresse e situações de conflito. A terapêutica da ênfase ao autoconhecimento e à identificação das próprias emoções, para que o paciente aprenda a expressar-se de forma positiva.
Vale lembrar que a raiva não é um mal em si: apenas o descontrole é que acarreta situações desagradáveis e, em alguns casos, perigosas.
O tratamento é necessário porque a maioria dos pacientes não tratados tende a afastar amigos e familiares, além de não conseguir manter relações amorosas estáveis e, quando as mantém, cria um clima de medo e discórdia no relacionamento.
Pode ser necessário o envolvimento da família, que deve aprender a reforçar as atitudes que representam pequenas conquistas de autocontrole do dia a dia.
Casos mais graves podem precisar de apoio medicamentoso, com drogas antidepressivas ou para estabilizar o humor. Pessoas que se isolam (chegam a abandonar o trabalho, os estudos ou os amigos), deixam de dirigir, recorrem ao álcool ou às drogas, em função do “pavio curto” ou apresentam quadros de depressão.