Estudos da Universidade de Indiana (EUA) revelam que 75% das pessoas apresentam sinais de timidez em situações estranhas e inéditas. Questionamentos e juízos de valor eventualmente feitos por pessoas recém-apresentadas dificultam os primeiros diálogos, fato que tende a ser superado com a convivência mais próxima. No entanto, os excessivamente tímidos têm problemas que podem dificultar em muito sua atuação social, conjugal e profissional.
A timidez é classificada, pelo código internacional de doenças (CID), como uma fobia social, mas apresenta diversos graus de comprometimento. Em geral, as pessoas ficam tímidas em determinadas ocasiões, como ter que falar em público, aproximar-se de alguém do sexo oposto (com intenções sexuais ou românticas) e até quando são observadas escrevendo e digitando. Esta é a chamada timidez situacional, que, se não estiver relacionada a traumas e conflitos íntimos (por exemplo, a mulher que teme se aproximar de um possível pretendente porque foi exposta anteriormente a algum tipo de violência sexual), pode ser atenuada com a ajuda de amigos, colegas de trabalho e familiares.
Quando a timidez se torna doença
A fobia social se instala quando as ocasiões que provocam a timidez ganham amplitude e tornam determinadas tarefas impossíveis de serem realizadas. Em alguns casos, a pessoa evita comer fora de casa ou usar banheiros públicos. Uma sensação de ameaça iminente se instala em diversos momentos em que a interação poderia ser prazerosa e mesmo útil para a vida social e profissional.
Na timidez crônica, o acanhamento se revela em todas as formas de interação social: com autoridades, chefes, pessoas estranhas, colegas e até mesmo parentes próximos. Nestes casos, é comum ocorrer de a timidez tornar-se cada vez mais patológica e determina o auxílio psicoterapêutico.
A timidez proposital ou misantropia é classificada pela misantropia, um desejo constante de isolar-se para não ter que tolerar a família ou o círculo de amigos. O tímido tem vergonha de si mesmo, de sua apresentação pessoal, de como fala e age; o misantropo tem aversão à sociedade em que está inserido e, por isto, evitar sociabilizar-se.
Causas da timidez
Alguns especialistas defendem que a timidez tem raízes na herança genética recebida dos pais pela criança: tomografias indicam que crianças tímidas utilizam principalmente o hemisfério direito do cérebro, relacionado às emoções. A amígdala e o hipocampo parecem estar relacionados à timidez: a amígdala comanda o medo (sentimento natural, sem o qual ficaríamos expostos a riscos constantes), enquanto o hipocampo transmite os sintomas da timidez (tremores, suor, tensão muscular), percebidos facilmente por outras pessoas.
No entanto, todos concordam em que o meio em que a criança se desenvolve pode atenuar ou agravar esta carga hereditária. Pais extremamente severos, lares excessivamente normatizados, violência doméstica e falta de diálogo podem levar o filho à introspecção, como também podem despertar agressividade exacerbada.
Aparentemente, os efeitos do ambiente são mais nocivos do que a ação dos genes no funcionamento do cérebro e da mente.
Já na adolescência, jovens podem desenvolver sentimentos de inadequação social, por exemplo, por serem muito magros ou gordos, muito altos, portar algum tipo de deficiência e mesmo ter uma visão distorcida da realidade.
Aqui, o comportamento do grupo é fundamental para definir como será a estruturação psicológica do jovem em pauta. Os que tendem à introversão vão se tornar cada vez isolados, com prejuízo inclusive para o aprendizado. Durante a adolescência, o apoio do grupo é fundamental: os indivíduos estão se tornando independentes, realizando tarefas e participando de eventos sem a presença da família.
É comum ouvir pessoas afirmando que “jovens têm comportamento de manada”. Efetivamente, eles criam gostos parecidos sobre música, artes e esportes, trajam-se de forma semelhante e adotam um vocabulário “do bando”. É uma forma de conseguir aceitação.
O tratamento
Identificada em crianças e adolescentes, a timidez crônica pode ser tratada com ludoterapia, em que o terapeuta fará o paciente vivenciar e relatar suas dificuldades, encontrando formas próprias de superá-las.
Diagnosticada em adultos – e é necessário eliminar outras causas, como a síndrome do pânico, em que o desconforto se instala sem que haja um agente externo interferindo – o tratamento mais indicado é a psicoterapia cognitiva, que também vai ajudar a encontrar respostas próprias para reagir às situações de tensão. Raramente é necessário o uso de medicamentos para combater a ansiedade e frustração.