Em se tratando de teorias malucas, os cientistas não têm nada a dever às mitologias: eles já criaram muitas doideiras para explicar o universo, com todas as suas características. A ciência, como a conhecemos, é relativamente recente – data do século XIX – e muitas hipóteses propostas se tornaram inviáveis e obsoletas.
Mesmo assim, ainda temos muitas versões circulando nos meios acadêmicos e fora deles. O homem é um ser muito criativo e, quando não sabe – e não sabemos quase nada sobre o universo – o atalho mais conveniente é inventar. Desta forma, talvez por orgulho intelectual, antes de dizer simplesmente “não sei”, cientistas preferem criar teorias malucas sobre o universo.
No começo era o verbo?
Cada cultura criou seus próprios mitos para explicar o universo. Os chineses antigos acreditavam que o primeiro ser foi P’an Chu, retirado do caos primordial e gerado durante 18 mil anos em um ovo cósmico. Cumprido este tempo, ele rompeu a casca: tudo o que ficou acima dele se tornou o céu e, abaixo dele, a terra. Assim surgiram também os opostos: masculino e feminino, úmido e seco, claro e escuro, bem e mal, etc.
P’an Chu se partiu em milhares de pedaços, cada qual se tornando um elemento do universo: Lua, Sol, estrelas, montanhas, plantas, seres humanos. É por isto que não nos cansamos de procurar a integração cósmica, objetivo final de todos os seres e coisas.
Na mitologia hindu, são três os deuses que formam o “Supremo”: Brahma (o criador), Vishnu (o preservador) e Shiva (o destruidor). O mito da criação tem várias versões, mas começa basicamente com Brahma sendo gerado de uma flor de lótus ou da água. Antes disto, porém, Brahma lançou seu próprio sêmen, do qual surgiu um ovo dourado, fonte de seu próprio corpo.
Do restante deste ovo (novamente ele), surgiram todas as coisas: o próprio deus se dividiu e criou, entre outras coisas, o primeiro casal. Passados muitos anos, Shiva vem e destrói tudo, gerando um oceano de caos, onde flutua Vishnu. De seu umbigo, ressurge Brahma – e retoma-se a lei do eterno retorno: tudo começa novamente.
Os escandinavos – vikings e outros – eram um povo de imaginação fértil. No início, para eles, havia Nilfheim, um deserto gelado. No local vizinho, estava Muspelheim, onde havia fogo e muitos demônios. Da união de fogo e gelo, surgiu a vaca Audhumla e o gigante Ymir. Enquanto Ymir mamava nas tetas da vaca, surgiram outros seres – inclusive Odin, o chefe do panteão do norte.
Odin matou o gigante Ymir e de sua carne surgiram a terra, o mar, as nuvens, as árvores e as montanhas. Depois disto, nasceu finalmente a morada dos deuses, que gerou duas árvores, as matrizes da espécie humana.
Os tupis-guaranis acreditam que o deus-sol Tupã (ou Iamandu, ou Nhanderu), com a ajuda da deusa-lua Araci (ou Jaci), criou tudo sobre a face da terra, e também as estrelas. Ele desceu do firmamento em um local próximo a Aregúa (Paraguai) e, depois de criar o mundo, fez esculturas de argila do homem e da mulher.
Depois de soprar a vida nestas estátuas, Tupã deixou as criaturas com os espíritos do bem e do mal e retornou para sua posição. Ele continua presidindo o dia, enquanto Araci reina na noite, momento em que a humanidade deve se preservar para não ser tragada e retornar ao barro primordial.
Para os astecas, no início, tudo era negro e morto. Os deuses se reuniram em Teotihuacán, para decidir qual deles deveria se sacrificar e criar o mundo. O escolhido foi Tecucitzecatl, mas este deus não teve coragem de caminhar para a fogueira.
O segundo deus na escolha do sacrifício era humilde e pequeno: Nanahuatzin lançou-se no fogo sem hesitar e imediatamente se transformou no Sol. Ao ver isto, Tecucitzecatl criou coragem e imolou-se, gerando a Lua. Os dois luminares continuam imóveis no céu – e é por isto que precisam ser alimentados com sacrifícios humanos.
Na mitologia ioruba, Olorum é o deus supremo. Ele não aceita oferendas, porque tudo lhe pertence, em todos os nove espaços de Orum. Ele criou toda a terra, mas deixou a criação da humanidade a cargo de Oxalá, seu filho.
Oxalá tentou usar ferro e madeira, mas eram rígidos demais. Pensou na água, mas ela não tinha forma definida. Com a pedra, criou um homem muito frio. Na tentativa como fogo, a criatura se consumiu nas próprias chamas. Cansado de tantas tentativas infrutíferas, Oxalá sentou-se à beira do rio. Nanã – a deusa das águas doces – apareceu e perguntou o motivo da tristeza. Ciente do insucesso, Nanã mergulhou e retornou trazendo barro do leito do rio. Oxalá criou o homem, viu que tinha flexibilidade, e finalmente soprou a vida em suas narinas.
Para os persas, Omuz é o criador do mundo. O Sol é seu olho, o céu, suas roupas bordadas de estrelas, o relâmpago, seus cílios. Sua mulher é Apô, a deusa das águas. Ahura Mazda, seu filho, está cercado por sete divindades, que presidem as partes da criação.
Omuz e Apô também geraram Angra Mainyu (ou Arimã), o deus malfazejo que invade a criação para perturbar a ordem. O conflito entre Ahura Mazda e Arimã se prolonga por toda a eternidade, até que o bem, finalmente, vence o mal.
Para os gregos, no início havia apenas o Caos. Surge em seguida Gaia, a deusa-mãe, que gera Eros, o amor, capaz de inspirar a criação. Nix (a noite), Hemera (o dia) e Éter (o ar superior onde vivem os deuses) vêm em seguida.
Gaia dá a luz Urano (o deus do céu). Um deus não identificado pôs as coisas da terra em ordem, mas deuses e titãs – gigantes criados por sementes divinas – entraram em guerra. Um deles, Prometeu, criou os homens e trouxe o fogo dos deuses para eles. É por isto que a humanidade anda ereta, mirando o céu e as estrelas, enquanto os demais animais andam com o rosto voltado para a terra.
Novidades na criação
Mesmo com todo o conhecimento disponível sobre a formação do nosso globo e o comportamento astronômico em seus giros cósmicos, muita gente acredita em teorias bem malucas sobre o universo. A mais comum é a da Terra plana, centro do universo. Outros apregoam que nosso planeta é totalmente oco, com diferentes espécies humanas – mais ou menos adiantadas do eu o Homo sapiens – vivendo em seu interior.
A teoria da Terra oca deu origem a outra hipótese, aventada pelo cientista – e alquimista – Cyrus Teed, também no século XIX. Ele se tornou um líder messiânico e propôs um novo conjunto de ideias científicas. Para o novo messias, tanto a Terra como o céu estariam dentro de uma imensa esfera oca: 12 mil quilômetros de diâmetro. O Sol seria uma imensa bateria eletromagnética, situado no centro da esfera, e as demais estrelas seriam apenas reflexos da luz do astro central. As ideias de Teed não resistiram à sua morte, mesmo com a criação de uma comuna de seguidores na Flórida, EUA.
No século XVII, o americano Jasper Danckaerts, fundador da colônia dos labadistas, recriou o mito da tartaruga, criado por chineses e indianos, segundo o qual a Terra não é um planeta rochoso: a humanidade se equilibra no lombo de quatro elefantes gigantes que, por sua vez, se apoia, no casco deste réptil, um eterno navegante das águas primordiais existentes deste antes da criação. O mito é comum também entre os indígenas americanos.
A Terra está em expansão constante; se o universo vive crescendo, por que não o nosso planeta? A teoria foi embasada parcialmente do movimento relativo dos continentes. A ideia surgiu no século XIX e foi abraçada por cientistas influentes, como o naturalista inglês Charles Darwin. A hipótese foi rejeitada décadas depois, com o reconhecimento da teoria das placas tectônicas.
Mas, se alguns acham que a Terra está crescendo, outros afirmam exatamente o contrário: o planeta está murchando. A ideia surgiu antes do conhecimento sobre as placas tectônicas e é baseado no resfriamento geofísico: o centro terrestre, composto por material derretido, estaria sofrendo uma gradual queda de temperatura, com a consequente contração. A teoria serviu para explicar, por exemplo, o surgimento de vulcões: com menos espaço, o interior do planeta estaria expulsando magma.
A teoria mais aceita
O Big Bang é praticamente um consenso na comunidade científica atualmente. Tempo e espaço não existiam antes da Grande Explosão que deu origem a todas as galáxias, há 13,7 bilhões de anos. Ainda de acordo com esta hipótese, não há um centro do universo e não é possível saber se ele está se expandindo ou se existe alguma coisa além de suas fronteiras.
Ironicamente, o fenômeno não foi batizado como Bing Bang, mas como “hipótese do átomo primordial”, por Georges Lemaître, sacerdote, físico e astrônomo belga. Fred Hoyle, astrônomo inglês que havia proposto um modelo alternativo para o surgimento do universo, usou o termo Big Bang de forma pejorativa, em várias entrevistas concedidas a jornais e rádios. O apelido pegou e está nos livros de ciências até hoje.