O ataque cardíaco – ou infarto do miocárdio – ocorre com mais frequência com o avanço da idade. Trata-se de uma necrose do músculo cardíaco (ou miocárdio), provocada pela falta de nutrição em determinada área do coração, geralmente causada pelo entupimento parcial ou total de uma ou mais artérias, vasos responsáveis por levar sangue rico em oxigênio, o “combustível” do nosso organismo. Há sinais clássicos de ataque cardíaco, mas alguns permanecem ocultos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares – entre elas, o AVC e o infarto – são a maior causa de mortalidade no mundo. Em metade dos episódios, o ataque cardíaco é a primeira manifestação da doença coronariana, que se desenvolve lentamente. O cigarro é o principal causador, mas existem outros vilões: o sal (o Ministério da Saúde preconiza o consumo diário de 10 gramas diários, mas os brasileiros ingerem o dobro disto), o sedentarismo e os maus hábitos alimentares estão do topo da lista.
Os sinais de ataque cardíaco
Ao contrário dos ataques cardíacos cinematográficos, em que os infartados sofrem longas dores no peito, nos braços e chegam a perder os sentidos, o infarto nem sempre com tanta intensidade. Tudo depende da extensão da região atingida pela necrose. Em casos leves e dependendo das condições do paciente, os primeiros sintomas podem surgir até alguns dias antes do ataque propriamente dito.
Infelizmente, estes sinais costumam ser negligenciados. A maioria das pessoas não gosta de admitir que esteja envelhecendo – apesar de esta ser a herança de todos aqueles que não morrem jovens. Assim, falta de ar, cansaço ao fazer esforços físicos, aumento da ansiedade, etc., tendem a ser ocultados ou disfarçados na presença dos parentes e amigos. Muitos se recusam a admiti-los para si próprios que estão com problemas de saúde.
A ansiedade costuma surgir horas ou dias antes do ataque cardíaco. A sensação cresce com o passar do tempo: é uma resposta emocional a fatores físicos como a dor e dificuldade para respirar. Aliás, especialmente entre as mulheres, o risco de morte se eleva justamente em função de diagnósticos mal feitos: em vez de ser identificado o ataque do coração que estão sofrendo, a crise de ansiedade e seus sinais se tornam mais visíveis, principalmente nas nossas superlotadas unidades de saúde.
As dores no peito (em especial do lado esquerdo) são uma das principais características do infarto do miocárdio, mas elas não estão presentes em 100% dos casos – e, claro, nem todo desconforto no tórax indica a ocorrência de um ataque do coração, mas elas são um forte indício para a equipe médica. Em alguns casos, a queixa do paciente não é de dor, mas de pressão ou queimação (novamente, mais comum entre as mulheres).
Quando acompanhadas pelas dores no tórax, a tosse seca ou o chiado no peito podem indicar que o ataque cardíaco levou a um acúmulo de líquido nos pulmões. Mas a tosse com expectoração acompanhada de febre quase sempre é sinal de um problema pulmonar, e não de um infarto.
Outras dores podem acompanhar o ataque do coração. É comum a queixa de desconforto no pescoço, mandíbula, ombros, abdômen e braços (mais comum no esquerdo entre os homens e nos dois entre as mulheres). A dor no ventre pode ser confundida com enjoo e, nos casos mais leves, pode responder pela falta de apetite, que também surge quando o infarto provoca inchaço abdominal. A retenção de líquidos também pode causar inchaços nas pernas e nos pés.
De acordo com a extensão da lesão, o infarto pode comprometer a irrigação do cérebro; o músculo cardíaco não tem força suficiente para levar sangue arterial suficiente até a cabeça (pela mesma razão, pode haver sensação de irrigação nas extremidades dos membros).
Com o cérebro pouco oxigenado, o paciente pode sentir tonturas e até mesmo desmaiar. A mesma situação acontece nas arritmias cardíacas, que alteram a frequência ou o ritmo dos batimentos cardíacos.
O cansaço, também mais comum entre as mulheres, também pode indicar o ataque cardíaco. É normal sentir-se cansado depois de esforços físicos ou ao final de um dia de trabalho, mas, no caso do infarto, a fadiga é anormal, intensa, repentina e sem causa aparente. Ela pode surgir até semanas antes do ataque. O suor exagerado e sem causa aparente é mais um sinal de alerta.
Infarto entre as mulheres
Os ataques do coração sempre foram associados aos homens, em função dos fatores de risco. No entanto, as mulheres conquistaram o mercado de trabalho (e passaram a ter dupla jornada) e adotaram hábitos masculinos, como fumar ou beber em excesso. Isto elevou sua participação entre os casos.
No exame clínico, os médicos costumam procurar os sintomas clássicos, mas as pacientes podem exibir um quadro bem diferente. Por exemplo, apenas 43% das infartadas reclamam de dores no peito (que quase sempre se irradia para o pescoço, costas, braços e abdômen) e, em um terço dos casos, não há queixa de nenhuma dor. Este é um dos motivos pela busca tardia por socorro médico, com as consequentes complicações e aumento dos óbitos.
O sinal mais comum é a falta de ar, relatada por mais da metade das pacientes. Pode ser apenas um sinal do avanço da idade ou da falta de forma física, mas se a dificuldade de respirar surge sem motivo aparente ou após a realização de uma tarefa de rotina que nunca provocou qualquer sinal semelhante, o ataque cardíaco é uma probabilidade bastante forte.
Em muitos casos, este é o único sintoma, mas há relatos de ondas de calor e sensação de estar com frio e calor ao mesmo tempo. Muitas infartadas reclamam apenas de azia, mas é preciso conhecer o corpo: a “azia” que acompanha o infarto apresenta características diferentes e apenas a paciente que a sofre consegue identifica-la; no exame clínico, isto precisa ser informado ao médico.
Muitas pessoas acreditam que o infarto é uma doença de “velhos”. Não é exatamente isto, mas a maioria dos casos efetivamente ocorre acima dos 45 anos. Nas últimas décadas, porém, o número de infartados entre 35 e 45 anos tem crescido sensivelmente.
As causas são, além de fatores congênitos, o consumo precoce de álcool e cigarro, o uso de drogas ilícitas (comprovadamente, cocaína, crack e anfetaminas aumentam o risco de ataques do coração), o sedentarismo e a agenda sobrecarregada, que gera ansiedade e transtornos emocionais – as mesmas que provocam o infarto nas pessoas de mais idade, mas adotadas com menos idade.
Algumas pessoas, no entanto, simplesmente não têm boa sorte. Apesar da alimentação regrada, dos exercícios bem orientados, da distância ao cigarro e outras drogas, do consumo consciente de álcool, etc., elas são surpreendidas pelos ataques cardíacos da mesma forma que os colegas menos regrados. Por isto, exames médicos e laboratoriais periódicos a partir dos 40 anos são fundamentais para evitar surpresas desagradáveis. Estamos vivendo cada vez mais e, portanto, cada vez mais suscetíveis a doenças.