Com exceção do Natal, todos os feriados católicos são definidos pelo calendário lunissolar, que era adotado pelos judeus no século I d.C. O período da Quaresma varia entre 40 e 46 dias, entre a Quarta-Feira de Cinzas e a Páscoa, celebrada no primeiro domingo após o a primeira lua cheia depois do equinócio de primavera no hemisfério norte. É um período de jejum e privações, em que várias religiões cristãs – entre elas o Catolicismo, Luteranismo e Anglicanismo – se preparam, com diversos ritos, para comemorar a ressurreição do Cristo.
Para a maioria dos cristãos, Jesus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade (Deus Pai, Deus Filho e Espírito Santo), imolou-se para salvar toda a espécie humana, apartada da divindade em função do pecado original. Adão e Eva, o casal que deu origem à humanidade, teriam comido o fruto proibido e, com isto, teriam sido expulsos do Paraíso terrestre – o jardim do Éden –, dando origem às imperfeições humanas.
Apesar de a fonte do dogma ser o Antigo Testamento, nem judeus nem muçulmanos partilham a crença. O pecado original tem como base duas passagens de cartas do apóstolo Paulo de Tarso (São Paulo, para católicos, ortodoxos e anglicanos): “assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, também a morte passou a todos os homens, já que todos pecaram” (epístola aos romanos) e “assim como todos morrem em Adão, todos vivem em Jesus” (primeira epístola aos coríntios). Jesus morreu para reconciliar a humanidade com Deus, permitindo a salvação a todos que creem nele.
A Quaresma é o período em que os cristãos recordam a criação, elevação e morte do Deus encarnado – Jesus – e está repleta de significados e ritos. Nas missas católicas, o termo “aleluia” (louvem a Deus) não é pronunciado neste período, que remete aos 40 dias em que Cristo permaneceu no deserto jejuando, após o batismo, fato relatado nos Evangelhos segundo Mateus, Marcos e Lucas. No século I, a expectativa de vida era de 40 anos.
Este período tem início na Quarta-Feira de Cinzas, em que os ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior são queimados, misturados à água benta e apostos na testa dos fiéis. No Antigo Testamento, o povo se cobria de cinzas nos rituais fúnebres. Na Idade Média, muitos cristãos deixavam de tomar banho durante a Quaresma, para permanecer com as cinzas bentas no corpo.
É também um rito para lembrar que “do pó viemos e para o pó retornaremos”, determinação divina ao primeiro casal, após o pecado original, que introduziu a morte no mundo, de acordo com o Livro da Gênese. O Domingo de Ramos dá início à Semana Santa, em que se rememora a paixão e morte de Jesus. Neste dia, os católicos recordam a chegada de Jesus a Jerusalém, quando foi saudado com ramos e palmas pela população local. Jesus entrou na cidade montado numa jumenta, cujo significado é a paz – jumentos são animais pacíficos, ao contrário dos cavalos, utilizados nas guerras da época.
A cerimônia de Ramos tem caráter festivo, mas logo em seguida tem início a recordação da paixão: o período entre a prisão e morte de Jesus e há um luto nas igrejas. A batina usada pelos padres é roxa em toda a Quaresma. Na Quarta-Feira de Trevas, relembra-se o pedido de Jesus a Deus, para que o libere da imolação (mas que “se faça a sua vontade, e não a minha”). Na quinta-feira, dia de endoenças (ou indulgências), recorda-se a humildade do Cristo, que teria lavado os pés dos apóstolos na última ceia. É concedido o perdão dos pecados a todos os que observaram a penitência pascal, principal significado da Quaresma.
A Sexta-Feira da Paixão é o dia da morte de Jesus, imolado para a salvação dos homens, livrando-os de seus pecados. É um dia de jejum e abstinência, em que não e celebrada nenhuma missa – nos cultos católicos, o ponto máximo das cerimônias é a transubstanciação: a transformação da hóstia e do vinho cerimonial em corpo e sangue do Cristo. Neste dia, são realizadas procissões que evocam vários momentos da Via Sacra, como o encontro de Jesus com sua mãe, as quedas durante o trajeto até o calvário, várias frases pronunciadas pelo Cristo na cruz e, finalmente, sua morte para a remissão dos pecados.
Cristãos costumam permanecer em reflexão até o Sábado de Aleluia, uma alusão de que Deus está novamente conosco. No domingo, terceiro dia após a morte de Jesus, celebra-se a ressurreição do Cristo. Na verdade, de acordo com o Novo Testamento, Jesus morreu numa sexta-feira e os judeus deviam observar o sábado, período em que nenhuma atividade podia ser feita, obrigação estabelecida no Livro do Êxodo (“lembra-te do dia do sábado, para santificá-lo. Trabalharás durante seis dias e farás todas as tuas obras. O sétimo dia, porém, é o sábado do Senhor, teu Deus. Não farás nenhum trabalho”, este é o terceiro mandamento mosaico). Por isto, familiares e discípulos de Jesus só poderiam preparar o corpo, de acordo com as tradições, na manhã do domingo.
Na Páscoa, palavra derivada do hebraico Pessach que significa “passagem” – uma referência à saída dos hebreus do Egito –, celebra-se a ressurreição. O “tempo pascoal” continua até o Pentecostes, que se estende por mais 50 dias, quando se comemora a ascensão de Jesus, em corpo e alma, para o Paraíso celeste. Em seguida, começa o “tempo comum”, que dura 33 ou 34 semanas, até o “tempo do advento”, período em que é celebrado o nascimento de Deus – o Natal.