Muitas pessoas – homens e mulheres – não gostam de sexo durante a menstruação. Claro, é um período em que surgem muitas dores e desconforto físico nas mulheres, mas as principais razões são a vergonha e a insegurança. Nossa sociedade foi moldada a partir de princípios judaico-cristãos e a menstruação foi relacionada entre as coisas “imundas” (inadequadas para a presença de deus), juntamente com cadáveres, alguns animais, etc.
No entanto, regras como estas, ditadas há milênios, não podem reger nossas atividades. O mesmo livro bíblico (Levítico) afirma que, se uma mulher der à luz um menino, ficará imunda por sete dias e não poderá tocar em coisas sagradas por outros 33 dias (de onde veio o conceito de “dieta”, período de 40 dias após o parto em que as relações sexuais estão interditadas). Se der à luz uma menina, os prazos dobram: duas semanas de “imundície” e 66 dias sem tocar objetos sagrados, o que mostra o caráter paternalista da sociedade que determinou estas normas. Mulheres, definitivamente, eram inferiores aos homens.
Já abolimos diversos costumes da época, como o sacrifício de animais, o apedrejamento de adúlteros, etc. Mas o sexo durante a menstruação continua sendo um tabu. O principal motivo é que aprendemos que sexo deve ser reservado à procriação, a carne é fraca e suja, temos que sublimar o corpo e nos dedicarmos às coisas do espírito. Durante a menstruação, a fecundação é quase impossível e, por isto, o sexo deve ser evitado.
Atenção: o sexo durante a menstruação não é garantia contra uma possível e indesejada gravidez. Eventualmente, os dois ovários liberam óvulos no mesmo ciclo (em outras situações, pode ocorrer ovulação do mesmo ovário) e, mesmo enquanto ocorre o sangramento, pode haver um óvulo viável em uma das trompas, pronto para ser fecundado pelo espermatozoide. O fato é incomum, mas a probabilidade sempre existe. Portanto, é necessário usar algum método anticoncepcional.
Fluidos corporais
Se as secreções do nosso corpo – como a menstruação – precisam ser evitadas, o sexo seria impraticável, não só durante a menstruação, mas também em todos os momentos em que há secreções de fluidos: suor, hidratações naturais do pênis, ânus e vagina, etc.
Se fôssemos seguir este parâmetro, o sexo se tornaria inviável e, além de tornar o mundo extremamente sem graça, a espécie humana seria extinta em apenas uma geração. O fluido menstrual, como todos os outros, é sinal de que o organismo está funcionando corretamente.
As mulheres, a partir dos 12 ou 12 anos, se preparam mensalmente para engravidar. Os ovários, alternadamente, liberam um óvulo. O endométrio, onde se fixará o futuro embrião, é reforçado no útero. Quando isto não ocorre, este reforço do tecido é eliminado, junto com sangue e hormônios.
Quando isto não acontece, é indicativo de problemas de saúde, como a amenorreia (ausência de menstruação), que significam problemas hormonais e necessidade de intervenção médica, para que não se instalem doenças mais graves nos ovários e no útero.
Menstruação e libido
Apesar de não ser uma regra, muitas mulheres experimentam aumento da libido no período menstrual. Com o aumento da sensibilidade, é possível identificar zonas erógenas com mais facilidade. Estes são os dias ideais para conhecer o próprio corpo e descobrir os pontos que provocam excitação sexual, um verdadeiro treino para encontrar o caminho para orgasmos intensos.
Os homens também podem se beneficiar com a menstruação. A lubrificação extra do canal vaginal – o sangue, com o muco uterino, escorre desde o colo até a abertura da vagina – proporciona mais facilidade na penetração: a menstruação torna tudo mais fácil e deslizante. Mas é preciso cuidado com áreas sensíveis, que podem provocar sensações dolorosas para a mulher.
Cuidados necessários
Muitas mulheres – a maioria, aliás – experimentam dores, cólicas e alterações de humor durante o período menstrual e na TPM. Elas são determinadas pelas alterações hormonais e pelas contrações do útero para expulsar o tecido endometrial desnecessário e, assim, não devem ser desprezadas: não são “frescuras” de mulher.
Mesmo assim, o orgasmo pode ser benéfico no alívio a estes males. Até mesmo os inchaços comuns no período são reduzidos com o clímax sexual. O cérebro determina a liberação de endorfinas – substâncias associadas à sensação de bem estar –, um dos remédios mais eficazes contra a dor. Além disto, as contrações uterinas são intensificadas durante o orgasmo, determinando um ciclo menstrual mais curto e menos dolorido. O sexo durante a menstruação tem, inclusive, funções terapêuticas.
Artigos eróticos, como consolos e vibradores, devem ser protegidos, a menos que sejam confeccionados com material impermeável (como o silicone). Do contrário, os fluidos podem ensopar os brinquedos e contaminá-los com microrganismos nocivos ao organismo. Para garantir a higiene necessária, basta protegê-los com preservativos, da mesma forma que se faz com o pênis.
Da mesma forma que outras secreções genitais, o sangue menstrual transmite eventuais doenças sexualmente transmissíveis. Portanto, a prevenção com preservativos é sempre necessária nas relações sexuais casuais e também no início dos relacionamentos amorosos, até que sejam feitos os exames médicos necessários para manter uma boa relação monogâmica. Pelo mesmo motivo, o sexo oral deve ser evitado.
Por fim, é preciso respeitar os limites. Ao contrário de outras fêmeas, a mulher não entra no cio, ou seja, não fica necessariamente mais disposta quando está ovulando ou menstruando. Cada casal deve descobrir o que é prazeroso em cada período e, como diz Rita Lee, “mulher é bicho esquisito, todo mês sangra”. São tremendas alterações hormonais, que determinam o comportamento do dia a dia.
Se a mulher se sente insegura nas transas durante a menstruação, ou se o parceiro sente repugnância, é preciso respeitar. “Cada um no seu quadrado”. É a melhor maneira de manter um namoro ou casamento.