A natureza dotou diversas espécies de sapos e rãs com substâncias venenosas e tóxicas. Nenhum espécie consegue injetá-la numa possível presa: esta adaptação evolutiva é uma forma de defesa, uma forma de aviso para os predadores: “não me morda, porque eu sou venenoso”. No entanto, muitas pessoas utilizam estes bichos para viagens psicodélicas e alucinógenas.
As drogas são realmente fortes e podem gerar efeitos colaterais, como arritmia cardíaca, aumento da frequência respiratória e dilatação das pupilas. Como nunca se pode saber quanta droga está sendo consumida, nem o teor do princípio ativo, a prática pode levar inclusive à morte.
Na América pré-colombiana
Os índios sempre usaram o veneno de rãs e sapos para abater presas (e outros índios, em caso de guerra). Em algumas espécies, como o sapo-cururu, basta espremer as glândulas paratoides, situadas atrás dos canais auditivos: o animal expele uma substância branca, usada nas zarabatanas (tubos ocos que lançam setas previamente imersas no veneno). No caso das rãs coloridas (são muitas as espécies nativas das Américas do Sul e Central, especialmente dos gêneros Dendrobates, Phyllomedusa e Epipedobates), é preciso cozinhá-las em fogo lento.
Em cerimônias religiosas, há evidências de que os Matis, no Brasil, e os Matse, no Peru, utilizavam o veneno do sapo-macaco-gigante, porque acreditavam que ganhavam força e coragem com a ingestão. As toxinas do sapo-do-colorado já eram usadas em ritos mágicos 1.200 anos antes de Cristo.
O sapo-cururu na Austrália
Num dos vários acidentes ecológicos provocados pela introdução de espécies não nativas no Novíssimo Continente, os sapos-cururus (originários da América) foram levados para a Austrália em 1935. São animais grandes, que chegam a pesar 2kg, e o objetivo era dizimar os besouros que prejudicavam o cultivo da cana-de-açúcar.
O problema é que os sapos comem muitas outras espécies, prejudicando o equilíbrio natural do país. Sem predadores, os animais espalharam-se pelo país e tornaram-se uma praga. Irritados ou amedrontados, secretam grande quantidade de veneno, suficiente para matar cachorros e pessoas com a saúde debilitada.
Mais recentemente, os australianos descobriram um novo “uso” para os sapos-cururus. Os animais são apreendidos e têm o veneno retirado; alguns usuários lambem o veneno no próprio bicho; outros, mais “higiênicos”, recolhem, secam e depois fumam a substância. A bufotenina, a substância ativa do veneno, foi incluída na lei de abuso de drogas australiana há cerca de 30 anos. Na Austrália, é literalmente proibidos lamber sapos.
Os efeitos dos venenos
As rãs coloridas secretam poucas quantidades (algumas delas não atingem 2cm de corpo) e os efeitos da ingestão do veneno passam com muita rapidez (a menos que se encontre uma colônia desses animais). No entanto, o veneno da rã Phyllomedusa bicolor está sendo usada também em rituais de magia: em Pindamonhangaba (SP), um comerciante morreu após aplicar o veneno na pele, num rito chamado cambô, que afastaria o filho do vício das drogas.
O jovem voltou da “viagem” em dez minutos; percebeu que seu pai havia se trancado no banheiro. Ao olhar pela janela, viu que ele havia caído pela janela do apartamento. Com certeza, uma bad trip. A comercialização da substância é proibida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas muitos sites oferecem a droga e produtos formulados a partir dela.
Os efeitos do veneno do sapo-cururu, no entanto, são semelhantes ao do LSD: alucinações, cores e deslocamentos rápidos de objetos (que estão parados). As viagens podem durar horas e a aceleração do metabolismo pode permanecer por dois dias.