A Festa do Sacrifício indispõe hindus e muçulmanos e provoca fenômenos estranhos. Confira.
As ruas de Daca, capital de Bangladesh, país do centro meridional da Ásia, mais uma vez foram tomadas por rios de sangue resultante de um festival religioso islâmico: a Festa do Sacrifício (“Eid Ul Adha”), em que bois, bodes, camelos e carneiros são imolados em memória do profeta Abraão, o primeiro da tradição mosaica.
A festa religiosa precede a peregrinação a Meca, cidade santa da religião. Esta visita é conhecida como Haji, um dos cinco pilares do Islamismo, e deve ser realizada entre o oitavo e o 13º dia do “Dhu al-Hija”, o último mês do calendário muçulmano, ao menos uma vez durante a vida, por todos os fiéis que tenham condições de viajar para a Arábia Saudita.
Infelizmente, no centro-sul e sudeste da Ásia, a Festa do Sacrifício ocorre exatamente no final do período das monções, ventos úmidos que sopram para o continente de junho a setembro, provocando chuvas torrenciais. Este fenômeno (as monções) acontece em 25% da área total do planeta, mas os seus efeitos são mais visíveis – e catastróficos – na Índia, Paquistão e Bangladesh.
A chuva
Durante a Festa do Sacrifício, que ocorre 70 dias depois do Ramadã, bodes, bois e cabras são sacrificados. Trata-se de uma referência à passagem bíblica em que o profeta Abraão se dispôs a sacrificar o único filho, Isaac (também patriarca, nascido, de acordo com o relato bíblico, quando o pai tinha 100 anos e a mãe, 90).
O Ramadã é o nono mês do calendário islâmico, no qual os muçulmanos praticam o jejum ritual (os fiéis se abstêm de qualquer tipo de alimento entre o nascer e o pôr-do-sol). É um período de renovação da fé e da prática mais intensa da caridade e da fraternidade. A origem do termo Ramadã está relacionada à palavra árabe “ramida”, que significa “ser ardente”.
A Festa do Sacrifício relembra a disposição de Abraão em obedecer às determinações divinas, de acordo com o disposto no Antigo Testamento (livro sagrado comum também aos judeus e à maior parte dos cristãos).
As carnes dos animais sacrificados durante o Eid ul Adha são doadas à população carente. No entanto, em Daca, a Festa do Sacrifício apresenta um efeito colateral: o sangue da imensidade de oferendas se combina com a excessiva umidade relativa do ar e isto resulta em uma chuva sanguinolenta.
Literalmente, os rios de sangue surgem para alagar as ruas de Daca, uma cidade extremamente carente. O fenômeno, literalmente fantasmagórico, é reforçado pela deficiência de infraestrutura da cidade, que conta com um precário sistema viário de drenagem.
As imagens dos rios de sangue
Apesar de ocorrerem anualmente, os rios de sangue da Festa do Sacrifício em Daca ganharam notoriedade em 2016 graças às postagens de Edward Rees, representante da ONU na capital de Bangladesh. No dia 13/09/16, as imagens postadas por Rees foram objeto de milhares de retweets.
No dia seguinte, as ruas de Daca estavam secas e relativamente limpas. Isto não impediu, no entanto, uma avalanche de mensagens pela internet, muitas das quais com conteúdo contra a religião muçulmana. A intolerância, aparentemente, é uma tendência da humanidade – e se reflete continuamente no Twitter e nas demais redes sociais.