O que é ressaca? Simples, é um conjunto de sintomas disparado pelo organismo, indicando que o corpo está se recuperando e também para avisar sobre intoxicações. Ela acontece quando bebemos demais e, para absorver e metabolizar o excesso de álcool, todos os órgãos envolvidos no processo ficam sobrecarregados. Apesar de não provocar nenhum sinal de dor, o fígado é o que mais sofre: é dele a responsabilidade de absorver o etanol.
Mas o organismo tem seu ritmo próprio e o fígado segue seu trabalho sem se importar com a “pressa” de quem exagerou na bebida. Fígado não tem horário nem compromissos. Por isto, para curar a ressaca, o melhor é relaxar. Isto mesmo. Deitar-se, ficar recostado, deixar os problemas – e também os prazeres – para depois. Mas nem sempre isto é possível.
À medida que as doses de destilados, as taças de vinho ou as tulipas de cerveja são emborcadas, o fígado começa a receber a sua parte – e liga o “modo bêbado”. É um mecanismo de defesa física: o pensamento e os movimentos ficam mais vagarosos, a produção glandular é reduzida, parece que o cérebro nos manda para cama, como se estivéssemos exaustos.
O fígado produz enzimas para processar o álcool. O problema é que, mesmo depois que o álcool está completamente eliminado, há enzimas de sobra. Com isto, o órgão, “pede” mais álcool, para continuar com seu trabalho, o que desorganiza todos os sistemas orgânicos.
O sistema nervoso, também acostumado ao ritmo “devagar, quase parando”, entra em crise de abstinência e “quer” mais bebida: com isto, surgem as dores de cabeça, sensações de vertigem e fadiga extrema. Desorganizado, o sistema digestório apresenta problemas de trânsito: este é o motivo dos enjoos, vômitos e diarreias. A desidratação é causada pelo trabalho excessivo do sistema excretor:
muito líquido para dentro, muito líquido para fora.
O mal-estar é geral e, se as bebedeiras se tornarem frequentes, a necessidade de álcool será sempre maior, já que todos estes órgãos vão demandar mais cachaças, vinhos, cervejas & Cia. Inconscientemente, o beberrão tende a beber mais, para evitar os muitos sintomas. Mas eles se instalam mesmo assim, só que um pouco mais tarde, e os efeitos nocivos para o organismo estarão de acumulando. Não vale a pena tentar consertar um problema com outro ainda pior.
Receitas de cura da ressaca
Não existem receitas milagrosas para curar a ressaca. Para minimizá-la, é aconselhável comer enquanto está bebendo, tomar bastante água antes de ir dormir (e também durante a festa, para reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas) e um comprimido para dor de cabeça (é preciso evitar os que contêm paracetamol na formulação, em função dos possíveis danos ao fígado, ampliados pela ação do álcool no organismo). Mesmo assim, o dia seguinte não será nada “florido”.
Alimentos gordurosos reduzem a absorção do álcool. A gordura forma uma película na parede do estômago, o que obriga o álcool a seguir para o duodeno, onde a absorção é menor. Isto não elimina a ressaca, mas atenua os efeitos. Quem conseguir comer algo gorduroso antes de dormir se sentirá ainda melhor no dia seguinte. Esta dica, como é evidente, não é aplicável para quem tem problemas de sobrepeso.
O mel é antioxidante e anticoagulante. No Leste Europeu, é costume comer mel com picles para tratar a ressaca. Pode parecer estranho para nós, mas algumas colheres de mel aceleram o metabolismo (rico em glicose, o mel fornece energia para o corpo) e reduzem o tempo de que o tempo precisa para se readaptar à rotina. Em tempo: qualquer alimento rico em glicose é bem-vindo no combate à ressaca, mas dê preferência às frutas, cujo açúcar é mais facilmente processado pelo organismo. Do contrário, haverá efeitos colaterais, já que o consumo de calorias vai disparar. Tome cuidado com os refrigerantes, que não combatem a desidratação (e, no caso dos light, têm alto teor de sódio, que contribui para potencializar o efeito diurético).
A desidratação causada pelo excesso de bebidas retira líquidos do organismo de forma severa e, com eles, vários sais minerais, como sódio, magnésio, cálcio, potássio, selênio, etc. Estas substâncias são eletrólitos, que ajudam a regular as atividades cardíacas e neurológicas. Além disto, o tecido e os neurônios dos músculos são “elétricos” e ficam de cerca forma descarregados com o álcool ingerido. Os minerais reequilibram a condução de informações entre os neurônios, aliviando as dores musculares. Os isotônicos e a água de coco exercem a mesma função.
Da mesma forma, um banho gelado ajuda a combater rapidamente a sensação de dores por todo o lado. A água fria ativa a circulação sanguínea e aumenta a pressão arterial, que pode estar baixa pelo excesso de álcool.
O café da manhã
Dificilmente quem acorda de ressaca tem apetite para encarar o café da manhã. No entanto, a primeira refeição é importante para eliminar os “vapores do álcool”, aquela sensação estranha de estar fora do próprio corpo. Frutas como mamão e maçã sem casca ajudam a combater a diarreia. Incluir frios ou bacon garante a quota de gordura extra para forrar o estômago.
O consumo de ovos cozidos também é bem-vindo: o alimento é rico em cisteína, um aminoácido que atua quebrando o acetaldeído, toxina produzida pela oxidação do álcool, que ajuda a determinar os efeitos da ressaca. Gérmen de trigo e brocólis também são ricos em cisteína, mas é difícil que a verdura seja incluída no café da manhã.
No entanto, é preciso evitar o café e o chá preto: são bebidas estimulantes, ricas em cafeína, que vão irritar ainda mais a mucosa gástrica, aumentando as náuseas e vômitos.
Uma boa dica para curar a ressaca é o gengibre, que pode ser comido ou ralado em sucos (especialmente de melão ou melancia). Ingerido em sucos e chás (evite os calóricos), o gengibre equilibra o suco gástrico e, com isto, reduz as náuseas, a azia e a má digestão. Vale até chupar balas de gengibre.
Alguns mitos sobre a ressaca
Muitas pessoas gostam de afirmar que os efeitos negativos são causados por causa da qualidade da bebida. Nada pode ser mais impreciso. É claro que um uísque “batizado” vai provocar problemas maiores no sistema digestório, mas qualquer ingestão excessiva de álcool causa problemas no dia seguinte (ou ao anoitecer, se o excesso ocorreu durante o almoço).
Seja como for, não existe uma quantidade limite para a bebida. O mesmo número de doses que causa uma tremenda ressaca em uma pessoa pode não ter efeitos em outra. Isto depende da tolerância ao álcool de cada um, que varia de acordo com as condições de saúde e mesmo da idade. Em função das nossas condições físicas (e mesmo emocionais), aquelas “duas doses” diárias no fim do dia, para relaxar, podem ter consequências desastrosas.
Outro mito é que, para evitar a ressaca, é preciso evitar misturar destilados (uísque, cachaça, vodka) e fermentados (cerveja, vinho). Uma caipirinha como aperitivo e uma taça de vinho durante a refeição provavelmente não causarão grandes efeitos colaterais.
A história pode ter nascido do fato que, se alguém bebe os dois tipos de bebida na mesma festa, muito provavelmente vai ingerir uma quantidade maior do que quem fica com apenas um tipo. Outra possibilidade de explicação é a de que bebedores eventuais ou iniciantes querem experimentar de tudo, bebem muito e rápido demais e acabam dando vexame na balada.
Café amargo não cura a ressaca. Por conter cafeína, ele age como estimulante e ajuda a combater a sensação de fraqueza e mal-estar, mas não altera nem um milímetro a condição de embriaguez ou seus efeitos. Além disto, pode irritar o estômago. Ainda no capítulo bebidas: o chá de hortelã não tem efeitos comprovados de sua eficácia como digestivo. O máximo que ele pode fazer é ajudar na hidratação.
Um comprimido antes, outro depois. Apesar de bombardeado pela mídia, o slogan não tem a menor eficácia. A prática pode atenuar alguns efeitos, como a dor de cabeça e a azia, mas as dores no corpo, enjoos e náuseas estarão presentes no “day after”.
O descanso é fundamental. Mesmo sendo uma brincadeira, o consumo excessivo de álcool é uma agressão ao corpo. Dê um tempo para que ele possa se recuperar e retomar o ritmo normal. E, nos dias seguintes, lembre-se de passar longe das bebidas alcoólicas. Água, isotônicos e sucos leves são as melhores opções para o corpo voltar a ficar em dia.