Quem assistiu “ET, o Extraterrestre”, de Steven Spielberg, provavelmente ficou encantado com o simpático alienígena que chega acidentalmente à Terra e faz amizade com três crianças. O filme, de 1982, faz sucesso até hoje e muita gente sai do cinema com o desejo de fazer contatos imediatos (é o nome de outro filme sobre ETs, desculpem-me pelo trocadilho). Pois bem, algumas religiões não apenas acreditam em extraterrestres, mas na possibilidade de contato com eles, para que os alienígenas tragam conhecimentos de civilizações mais adiantadas.
Denominadas genericamente por seitas ufológicas ou “religiões OVNI” (sigla para objetos voadores não identificados), estes grupos apresentam diferenças substanciais. Os únicos elos são a crença no contato com habitantes de outros planetas e em que a Terra, em futuro próximo, fará parte de uma comunidade intergaláctica.
A maior parte das religiões da Terra realmente acredita em seres que não vivem aqui, como santos, anjos, mestres, etc. Muitas destas entidades teriam vivido aqui e, após a morte, ascendido a regiões mais prazerosas. As religiões que acreditam em ETs, no entanto, falam de comunidades que habitam outras esferas, e não de seres idealizados e transformados pela morte.
Na verdade, muitas destas religiões que acreditam em extraterrestres afirmam que a humanidade ainda não chegou à civilização: fome, miséria, guerra, desnutrição e outras tantas mazelas sociais são prova disto e elas só serão superadas com a chegada da tecnologia e das capacidades espirituais inerentes aos alienígenas.
Muitas destas religiões assumem caráter milenarista (algumas interpretações do livro bíblico do Apocalipse interpretam determinado trecho como profecia segundo a qual o Cristo retornará, estabelecerá seu reino por mil anos, e então chegará finalmente a batalha final entre o bem e o mal). No entanto, em maioria, as religiões que acreditam em ETs transformam Deus e Jesus (entre outros) em alienígenas; Jesus teria sido um porta-voz destas civilizações.
Parte destes grupos é adepta das teorias conspiratórias. Segundo elas, os principais governantes do mundo já teriam conhecimento, há décadas, desta verdade universal, mas a mantêm oculta da maioria da população, para não colocarem em jogo o seu poder.
As religiões que acreditam em ETs granjeiam mais adeptos em países tecnologicamente avançados, como EUA, Canadá, França e Inglaterra.
A maioria nasceu nos anos 1950, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, como uma válvula de escape para pessoas que não podiam acreditar nas religiões tradicionais. O movimento hippie e a Nova Era fortaleceram estas crenças. Por fim, na década de 1990, houve um forte ressurgimento destas crenças em todo o mundo, talvez embalado pela proximidade do fim do segundo milênio.
Unarius
Os fundadores desta religião tiveram a pretensão de batizá-la de academia de ciências. Ela foi fundada em 1954, em San Diego (Califórnia, EUA), pelo casal Ruth e Ernest Norman. De acordo com as crenças disseminadas, o casal seria composto por reencarnações de Unarius, um ser muito elevado em relação à humanidade.
Uma prática comum de meditação era a observação de uma caveira de cristal supostamente criada há dez mil anos, batizada simpaticamente como Max (muitos exploradores europeus encontraram caveiras de cristal e atribuíram a sua criação a povos pré-colombianos. Depois de muitos museus europeus adquirirem o artefato e “pagarem o mico” de o exporem em seus salões, exames de datação definiram que eles não poderiam ter sido feitos antes do século XIX).
Uma das atividades do grupo era o curso de física interdimensional, com o qual seria possível responder a perguntas sobre a composição e a história do universo. Entre estes conhecimentos ocultos, estava a colisão da Terra com outro planeta, prevista para 2001, que seria o marco de uma nova era de prosperidade. Como se vê, falharam.
Mas os adeptos do Unarius não desistiram. Alegando os atentados de setembro de 2001, os mentores da religião alegaram ter recebido informações de que os ETs haviam entendido que a humanidade ainda não estava pronta a comunidade de planetas com paz e solidariedade.
A catástrofe sideral foi adiada até que nós estejamos em condições de nos elevarmos para outras categorias. Uma das formas, talvez, é fazer o dito curso de física.
Forças externas
Em 1966, o texano Orville Gordon fundou o grupo Forças Dimensionais Exteriores, também conhecido como Base de Operações da Arca do Armageddon. Como os nomes indicam, trata-se de um grupo paramilitar em defesa da Terra contra os exércitos alienígenas que viriam atacá-la. O termo Armageddon se refere à batalha final entre o bem e o mal, citada no Livro do Apocalipse, último texto inserido no Novo Testamento.
Gordon, que mudou seu nome para Nodrog (Gordon ao contrário, para confundir os ETs), transformou sua própria casa em um campo de pouso para alienígenas amigos. O objetivo era preservar o maior número possível de humanos do ataque fatal.
Em julho de 1985, autoridades americanas identificaram o “centro de operações”, que estaria bem armado e com as miras apontadas para o espaço. Inspetores de agências contra o mau uso de armas, álcool e tabaco, no entanto, foram os primeiros visitantes não desejados a serem recebidos pelos “combatentes estelares”.
Gordon – ou Nodrog – provavelmente morreu em 2009 e seu corpo foi sepultado nas bases da Arca, que nunca foram efetivamente encontradas pelas autoridades. Divulgadores da religião, no entanto, continuam atuando no Texas e arregimentando novos soldados para a “batalha final”.
A Ordem Fiat Lux
No começo do Livro da Gênese, Deus decide criar o mundo com uma frase simples: “Fiat Lux”, ou faça-se a luz. O texto completa de forma lacônica: “E a luz se fez”. Por ordem do Onipotente, as coisas começavam a entrar em ordem na Terra e no céu. Era o início dos seis dias de criação, conforme descritos no Antigo Testamento.
A Ordem Fiat Lux, com muita propriedade, tomou emprestado o nome sagrado para a sua missão terrestre. Tudo começou em 1973, quando a secretária suíça Erika Bertschinger sofreu uma queda de cavalo e, neste momento, surgiu a revelação: Erika era um Avatar da Virgem Maria e, nesta condição, podia se comunicar com seres elevados, como seu filho (para quem não sabe, a Virgem Maria foi a mãe do Messias, concebido pelo poder do Espírito Santo).
Reinvestida de seus direitos e deveres, a secretária mudou seu nome para Ueriella, fundou um grupo de seguidores e saiu em pregação pela Alemanha. Os dogmas da nova igreja eram bastante heterodoxos: eles acreditavam que a Terra seria destruída por discos voadores nazistas, mas alguns alienígenas simpáticos à nossa causa viriam resgatar os poucos escolhidos, levando-os a um novo paraíso, desta vez localizado em outro planeta.
O fim do mundo estava marcado para 1998; durante 25 anos, a ordem percorreu boa parte da Europa, levando a mensagem trazida em um tombo. O número de adeptos era pequeno e a religião praticamente não resistiu ao golpe do não-fim do mundo.
O Chen Tao
O culto ao “caminho direto” nasceu com a pregação de um ateu. O sociólogo e professor Chen Hong-min, de Taiwan, até 1992, não acreditava em Deus. No ano seguinte, alega ter recebido uma mensagem divina, alertando-o sobre a necessidade da criação de uma doutrina que contribuísse para a vida em harmonia entre terrestres e seres de outros planetas.
Além das crenças em OVNIs, o Chen Tao agrega elementos do Cristianismo, budismo e conceitos da Era Nova. De acordo com o culto, guerras nucleares já criaram e devastaram o Sistema Solar por quatro vezes e, em todas, Deus resgatou os sobreviventes em um disco voador.
Em 1998, Chen estava certo de que Deus apareceria em TVs do mundo todo simultaneamente e, minutos depois, ataques nucleares e desastres naturais prenunciariam o fim. Por causa disto, o professor e seus seguidores se mudaram para Garland, cidade na região metropolitana de Dallas (Texas), acreditando ser ali um dos pontos de contato entre a humanidade e o UFO divino.
Mais uma vez, nada catastrófico aconteceu, como é sabido por todos. Os adeptos do Chen Tao retornaram cabisbaixos para a sua terra, sem a salvação do caos – aliás, sem caos nenhum. Ao contrário de outras correntes que pregam o fim do mundo com data marcada, o golpe foi fatal. Desde 2001, não há notícias desta religião.
São muitas as religiões que acreditam em extraterrestres. Em alguns casos, apenas porque o universo é grande demais para ter sido criado para nós. Em outros, por ideias mirabolantes, algumas vezes geradas por traumas e crises de estrese. Seja como for, são crenças, e devem ser aceitas como tal. O grande problema é se uma delas, como qualquer outra, decidir ser a verdade definitiva. Aí, será preciso um verdadeiro arsenal para combatê-la.