Há pouco mais de 15 anos, ninguém cogitaria da possibilidade de relacionamentos virtuais. Os diálogos até podiam ser feitos por telefone ou carta, mas um casal que se conheceu e decidiu namorar certamente aspirava aos encontros reais.
A rede mundial de computadores, no entanto, resolveu inverter esta lógica. Salas de bate-papo e sites de relacionamentos de todos os níveis, do sexo casual ao casamento, uniram muitos casais, especialmente entre os mais jovens, que chegam a varar madrugadas conversando com imensos grupos de desconhecidos. E, sem webcam nem microfone, os relacionamentos virtuais se limitam a escrever: são horas e mais horas só teclando.
Às vezes, nem os nomes são verdadeiros. Para entrar nos chats, basta escolher um apelido – que pode ser qualquer um. Identidades e personalidades são inventadas a todo instante. Não é possível ter certeza sobre a idade, a descrição e até mesmo sobre o sexo nestes relacionamentos virtuais. Por outro lado, estas ferramentas são importantes para os mais tímidos conversarem com pessoas que quase nunca se tornam reais, de carne e osso.
Qual a vantagem?
Parece haver um verdadeiro fascínio em perder tempo falando com pessoas que nunca se tornarão “reais”. Na internet, é possível ser inteligente, espirituoso, bonito. Existem sites especializados em “roubar” fotos e perfis mais turbinados.
Aparentemente, a graça é só esta: ficar conversando sobre os mais diferentes assuntos, criar fatos, passeios, viagens, cantar em verso e prosa uma agitada (e inexistente) vida sexual e social, etc. Na realidade, mesmo em relacionamentos reais, não é possível saber se nosso parceiro está sendo sincero. Mas é bem mais difícil sustentar mentiras indefinidamente. Olho no olho, nós aprendemos a confiar e também a nos apaixonarmos.
No primeiro encontro, quase todos nós adotamos uma postura defensiva. Palavras e ideias são medidas atentamente; é uma maneira natural de autodefesa. Mas, se o papo fluir descontraído, surge certa magia no ar. Sem beijo na primeira vez? Pode até ser que sim. No entanto, fica aquele desejo de outros encontros e toques.
Desta forma, as coisas vao acontecendo naturalmente. Uma carícia, um beijo, abraços, namoro, sexo casamento, filhos. Porém, para muitos, as redes sociais e sites de relacionamentos são as únicas formas de contato social. Com isto, os relacionamentos reais vao se tornando escassos: quando mais tempo navegando pela rede mundial, sobre menos tempo para a vida real.
O que fazer?
Em primeiro lugar, não se deve aceitar como verdade absoluta tudo o que as pessoas postam. Belos discursos e promessas de grandes paixões na verdade só mascaram a realidade. Seja como for, algumas regras não podem ser quebradas: não se deve dar o endereço nem telefone para um amigo virtual, ao menos nas primeiras conversas. Detalhes sobre a vida pessoal e a rotina diária também devem ficar fora destes relacionamentos virtuais.
Existem casos de pedofilia, tráfico de drogas e muitos outros crimes que tiveram início pela internet. Depois de alguns diálogos, é preciso voltar para a vida real. Se relacionamentos virtuais podem se transformar em reais, por que não unir o útil ao agradável?
Na verdade, relacionamentos são construídos com o tempo e a convivência. Ninguém se apaixona à primeira vista (apesar de muitos casais jurarem que isto ocorreu com eles). Ninguém diz “eu te amo” nos primeiros encontros – ao menos, não deveria dizer: amor é uma coisa muito séria, não pode ser tratado com leviandade. Quem diz “eu te amo” logo no primeiro dia pode dizer o mesmo para outra pessoa no dia seguinte.
O fim machuca?
Sexo virtual pode ser considerado uma traição por diversos cônjuges, mesmo que a relação nunca de concretiza. E, quando surge a desconfiança, qualquer coisinha é motivo para especular, localizar mensagens no celular ou no e-mail, vasculhar o histórico da internet, provocando dor e desconforto que poderia ser evitados.
Diversos terapeutas relatam casos de pacientes que sofreram profundamente ao fim de relacionamentos virtuais. Isto acontece especialmente com pessoas introvertidas ou que sofrem com baixa autoestima, que passam longos períodos namorando apenas via computador.
É preciso dizer, no entanto, que boa parte destas relações – a maioria delas, aliás – está fadada ao fracasso.
Nós somos animais gregários, precisamos de contatos reais – não apenas no namoro, mas em todo o trato pessoal e profissional. A internet é um excelente instrumento, inclusive para unir pessoas com características afins. O problema é quando a pessoa passa a se ocultar por trás de um computador, inventando histórias e até mesmo acreditando nelas. Este é um jogo de esconde-esconde que não leva a lugar nenhum.
Pensar constantemente em relacionamentos virtuais leva à simulação de um ambiente mágico e ilusório. Ampliamos nossas qualidades e virtudes, criamos algumas que estamos longe de possuir e reduzimos ao mínimo nossos vícios e defeitos. Simular significa fingir, interpretar outra personagem.
Mesmo assim, relacionamentos virtuais podem dar certo. É uma maneira a mais de conhecer pessoas, trocar mensagens, deixar o tempo passar. A vida real, porém, é muito mais rica, cheia de nuances, que nenhum computador pode transmitir. Vale lembrar: as probabilidades de um relacionamento dar ou não dar certo são exatamente as mesmas, seja através da internet, seja em um encontro em qualquer outro local.