No final do século XIX, o professor japonês de Educação Física Jigoro Kano criou o judô, aliando práticas do jiu-jitsu (praticado desde século XII no Japão) com outras artes marciais. O desenvolvimento integral – corpo, mente e espírito –, aliado a técnicas de defesa pessoal, popularizou a arte, cujo nome significa “caminho da suavidade”. O judô chegou ao Brasil nos anos 1920, pelas mãos de Eisei Maeda (o conde Koma), que se instalou definitivamente em Belém (Pará). A Confederação Brasileira de Judô foi fundada em 1969 e reconhecida oficialmente três anos mais tarde.
O judô é praticado em um tatame quadrado, de 14 ou 16 metros de lado. Cada combate dura até cinco minutos (com o cronômetro travado a cada vez que um dos três árbitros, dois de cadeira e um juiz principal, interrompe a luta) e vence quem conquista um ippon (um golpe perfeito, com a queda do adversário totalmente de costas, com constantes imobilizações por no mínimo 25 segundos, chaves de braços e pés e estrangulamento, levando o oponente à desistência) ou, não havendo imobilização, quem obtém mais vantagens durante a competição. Em caso de empate, muitas lutas são decididas com o ponto de ouro (golden score), uma prorrogação de cinco minutos, encerrada quando um dos combatentes marca o primeiro ponto.
Um atleta também leva ao final da luta quando, no mesmo combate, consegue aplicar dois waza-aris (que valem meio ponto cada), golpe que consiste em realizar duas imobilizações de 20 a 24 segundos, ou em derrubar o adversário no tatame, mas apenas com um dos ombros batendo no chão. Um yppon ou dois waza-aris equivalem a um nocaute no judô.
No yukô (que vale um terço de ponto), o adversário vai ao solo de lado e é imobilizado entre 15 e 19 segundos. O koká vale um quarto de ponto e ocorre quando o lutador consegue derrubar o adversário, que cai sentado. Três yukôs ou quatro kokás não determinam o final da luta, embora eles sejam cumulativos, servindo como referência na contagem de pontos para os árbitros.
No judô, não são permitidos golpes no rosto, ou que possam gerar lesões na nuca, pescoço e coluna vertebral, nem agarramentos por dentro da barra da calça ou da manga. Caso ocorram, geram penalizações e, no caso de reincidência, podem determinar a desclassificação do lutador.
A arte marcial é praticada em três categorias: ligeiro, leve, médio e pesado, com gradações entre elas (entre 60 kg e acima de 100 kg para os homens e entre 48 kg e acima de 78 kg para as mulheres).
O judô reúne muitas técnicas básicas e permite um bom condicionamento físico, como aquecimento, rolamentos (amortecimento de quedas), projeções, treinamentos defensivos e competições. Nas aplicações das técnicas (waza), tori é o orientador e uke é o discípulo. Os fundamentos são a postura (shinsei), movimentação (shintai), kumi-kata (pegadas), tai-sabaki (deslocamentos) e amortecimentos das quedas (ukemi).
Os combates são pautados pelo respeito e sempre começam por saudações logo ao entrar no dojô, o espaço do treino ou da luta, termo emprestado do Budismo, que significa “lugar de iluminação”. Nenhum treinamento é iniciado antes das saudações (hei): tachi-hei (em pé) e zu-hei (de joelhos), ao entrar em sair do tatame, e o za-hei, também no início e final dos treinos e, em alguns casos especiais, no final dos kata (conjuntos de ataque e defesa, a própria finalidade do judô como método de autodefesa e autoconhecimento).
Durante o aprendizado, no Brasil, os atletas são classificados pelas faixas que prendem o quimono (ou jodogui, branco ou azul, traje obrigatório para a prática da luta; o azul só é usado em competições oficiais, para facilitar as arbitragens dos juízes). As faixas são: branca, cinza, azul, amarela, laranja, verde, roxa, marrom, quando são classificados do oitavo ao primeiro kyu.
A última faixa conquistada (ou obi) é a preta, já na classificação de dan (instrutor). Nas quatro primeiras gradações, os atletas continuam usando a faixa preta, com marcações brancas; do quinto ao oitavo dan, a marcação é branca e vermelha (chamada de kodansha); nos dois últimos dan, a faixa é toda vermelha, destinada aos mestres da arte marcial.
O judô nos Jogos Olímpicos
O judô foi introduzido nas Olimpíadas em 1964, em Tóquio (Japão). Ausente nos jogos seguintes, retornou em Munique, em 1972, e nunca mais deixou de figurar nos esportes olímpicos.
As mulheres começaram a disputar medalhas olímpicas em 1992, em Barcelona (Espanha), ano em que Rogério Sampaio levou o ouro e foi escolhido como o melhor do esporte naquela edição. Em 2012, em Londres (Inglaterra), a judoca brasileira Sarah Menezes conquistou a medalha de ouro e três outros atletas – Rafael Silva, Felipe Kitadai e Mayra Aguiar obtiveram o bronze.
A filosofia do judô
Apesar de parecer estranho no Ocidente, o judô tem todo um caminho filosófico a ser preenchido por quem quer praticar as suas técnicas. É o “caminho da suavidade” determinado por seu criador.
O judô acredita que quem tem medo de perder já está vencido. Só se acha a perfeição quem procura a constância, sabedoria e humildade. Quem acredita que não sabe nada dá o primeiro passo no caminho do aprendizado (muito semelhante ao “só sei que nada sei”, determinado pelo filósofo grego Sócrates, princípio do autoconhecimento proclamado há 2.500 anos).
A vitória sobre um adversário não é motivo para vanglória. As grandes vitórias são as que obtemos sobre nossa ignorância. Um judoca não se aperfeiçoa nas lutas, mas luta para se aperfeiçoar. É aquele que aprende com o que lhe ensinam e tem paciência para ensinar aos outros.
Praticar judô é conhecer seu próprio corpo e, a partir disto, a sua mente. Assim, o corpo é uma arma que se torna cada vez mais ágil e eficiente na medida em que ele é dominado pela vontade.