O nome significa “tremedores”. Apesar disto, os quakers, cujo nome oficial é Sociedade Religiosa dos Amigos, são uma reação aos abusos da Igreja Anglicana. Os membros desta confissão religiosa rejeitam qualquer organização clerical para viver, no recolhimento, dedicados à pureza e à prática da caridade e do pacifismo.
Os quakers se unem na necessidade da urgência de divulgar o ensino do Cristo a partir de uma luz interior comum a toda a humanidade (o Espírito Santo), sem a necessidade de mediação de intermediários, nem de ritos e cerimônias externas. Deus existe no íntimo de cada ser.
Nesta religião, a Bíblia é o testemunho da palavra de Deus. Os fiéis precisam apenas ler os textos e meditar sobre deles, trocando impressões entre a comunidade. Os quakers acreditam também no igualitarismo e reprovam qualquer forma de discriminação se sexo ou cor da pele. Por estas características, eles se alinharam aos primeiros defensores do feminismo e do abolicionismo.
Carlos II, rei da Inglaterra, Escócia e Irlanda de 1660 a 1685, apesar de ser oficialmente a favor da liberdade religiosa, perseguiu fortemente os quakers. Este foi um dos principais motivos para que eles emigrassem em grande número para os EUA, então ainda uma colônia britânica.
Muitos membros britânicos de outras confissões protestantes também procuram refúgio na América. Os EUA são o país que mais recebeu imigrantes em toda a história. Os calvinistas, por exemplo, perseguidos pela Igreja Anglicana, cujos credos incluem a dignificação do homem através do trabalho, são responsáveis pela vocação empresarial da nação.
O país concentra o maior número de fiéis da Sociedade de Amigos: são cerca de 109 mil. Na África Oriental, são quase 50 mil e, na Inglaterra, 20 mil. A religião foi organizado pelo pastor George Fox (1624-1691), que estava convencido de que qualquer poder na Terra – temporal ou religioso – estava corrompido. Ele teria recebido a inspiração diretamente de Deus.
O termo “amigos” vem de um trecho do Evangelho segundo João: “vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu mando”, frase atribuída a Jesus. Para os quakers, estremecer era se tornar amigo do Cristo, tocado pelo Espírito Santo, entendido apenas como a manifestação do Deus eterno, e não como uma pessoa da divindade.
O começo dos quakers
Fox tornou-se um pregador itinerante e conseguiu reunir pequenos grupos de seguidores em algumas cidades das ilhas britânicas. Quando o Quakerismo se tornou mais popular e influente, surgiram os primeiros adversários. O pregador permaneceu preso durante seis anos, por divulgar opiniões contrárias ao Anglicanismo, a religião oficial do Estado (o soberano inglês é, até os dias de hoje, também chefe da Igreja).
Realmente, o criador rebelou-se contra os poderes religiosos e políticos estabelecidos e passou a propor uma nova lei da fé cristã, distante de dogmas e convenções. No século XVII, porém, reprovar a autoridade dos sacerdotes era uma verdadeira heresia.
A religião tem caráter não dogmático, apesar de Robert Barclay, um político e pastor quaker que viveu na segunda metade do século XVII, ter defendido 15 teses sobre a apologia (discurso que defende uma ideia ou doutrina, em especial a religiosa). Entre elas, estava a defesa da Trindade (Deus Pai, Deus Filho e Espírito Santo). Atualmente, no entanto, a maioria dos “Amigos” defende a unidade divina.
O termo “tremedores” (em inglês, “to quake” significa tremer), no entanto, teria sido cunhado no julgamento de Fox, pelo juiz John Bennet, em função de uma frase sempre presente nas reuniões religiosas: “tremei sempre à face de Deus”. Jesus teria sido apenas um representante da divindade na Terra, mas estaria presente entre os “Amigos” sempre que dois ou mais se reunissem.
Os costumes dos quakers
Exilados ou refugiados na então colônia britânica, os quakers mantiveram a postura anticlerical, em função da crença de que Deus se manifesta no íntimo de cada pessoa. As reuniões e cultos podem até ter um ministro para as celebrações, mas ele nunca pode ter autoridade sobre os fiéis; apenas pode servir como um orientador.
Os quakers, nas colônias americanas (13 colônias no leste da América do Norte, que se transformaram o embrião dos EUA), também se caracterizavam por algumas outras características: recusavam-se a prestar juramento com a mão sobre a Bíblia em julgamentos, a participar dos alistamentos militares e, consequentemente, a servir em guerras. Eles fundaram a Pensilvânia, entre Nova York e Virgínia Ocidental, onde ficaram especialmente concentrados.
Na nova colônia americana, distantes da perseguição política, os quakers mantiveram a mesma postura extremada contra protestantes e católicos. Os fiéis se destacavam pelo modo de se vestir, com chapéus pontudos e grandes fivelas, comuns na estampa de uma famosa marca de aveia (cuja indústria não tem nenhuma relação com a religião): os homens sempre portavam chapéus pontudos em locais fechados ou na presença de autoridades: era uma maneira para demonstrar que não reverenciavam nenhum ser humano, apenas Deus.
Os chapéus pontudos se perderam no tempo, mas o hábito da simplicidade na forma de se vestir: a orientação é para a preferência por roupas simples, baratas e discretas. No entanto, não é possível identificar um quaker pelos trajes. De acordo com o Centro de Informações Quaker, da Filadélfia, os adeptos participam da “cultura do século” e, desta forma, não sofrem restrições com relação às vestimentas, cortes de cabelo, etc.
Os quakers pregam o pacifismo – são contra qualquer forma de agressão bélica e defendem as ações beneficentes e solidárias. As reuniões para adoração a Deus, sem um oficiante, podem ser totalmente silenciosas.
As crenças dos quakers
Entre os quakers, todas as pessoas podem sentir Deus direta e naturalmente. Não é necessária a participação em cultos, nem cursos específicos para entender a divindade. A Bíblia é a principal fonte de inspiração e, para muitos adeptos, a única.
Apesar disto, existem cerimônias especiais, os chamados cultos programados, semelhante aos ritos de outras igrejas evangélicas. São conduzidos por ministros e contam com hinos, preces e leituras de passagens bíblicas.
Os cultos não programados são uma reunião silenciosa, sem a presença de um dirigente. Os quakers se reúnem e esperam que um adepto sinta-se guiado pelo Espírito Santo para pregar a palavra de Deus e exortar os irmãos a seguirem uma vida honesta, digna, simples, igualitária.
Todos os quakers devem desenvolver ações sociais continuamente durante toda a vida. Grupos de crianças e adolescentes se unem para produzir artesanato, alimentos, etc. O lucro é revertido para entidades e beneficentes. O Greenpeace e a Anistia Internacional são exemplos de instituições fundadas por membros desta religião. Johns Hopkins, fundador da faculdade e de medicina que levam seu nome, foi um quaker destacado.