Mohandas Gandhi nasceu em 1869, em Porbandar, em Gujarat, um dos muitos estados que formariam a Índia. Mahatma é um título, derivado das palavras “maha” (grande) e “atma” (alma), que traduz o respeito e devoção dos indianos. Gandhi idealizou e fundou o moderno Estado indiano (que é multissecular) e foi o principal defensor da satyagraha – a “busca da verdade”, o princípio de não agressão, a resistência não violenta à ocupação dos colonizadores.
Os ingleses chegaram à Índia, inicialmente de forma amigável, em 1858. Mas, com a implantação da Companhia Inglesa das Índias Orientais, os comerciantes estrangeiros se tornaram cada vez mais poderosos; mais da metade do país foi anexada ao Império Britânico, sob a administração de um vice-rei, o raj.
Gandhi casou-se com 13 anos, como era costume na época, estudou Direito na Inglaterra e em seguida foi para a África do Sul, à época também colônia inglesa. Em maio de 1894, fundou o Congresso Indiano de Natal. Na época, os indianos residentes na província do Transvaal precisavam se cadastrar e portar permanentemente o certificado de registro.
A marcha em Johanesburgo
O preconceito dos europeus com relação à cor e às crenças religiosas hindus eram extremamente forte e o certificado passou a ser identificado como um registro de segunda categoria, como se todos os indianos fossem párias (na sociedade tradicional hindu, párias ou dalits são indivíduos que não pertencem a nenhuma casta; eles são considerados até hoje, em algumas regiões, impuros e intocáveis).
Em 1903, Gandhi promoveu uma grande concentração e marchou com o povo indiano pelas ruas da cidade. Na praça central, incentivou os participantes a queimarem o documento em desagravo às condições de vida impostas pelos ingleses.
Mesmo assim, Gandhi não compactuava com o sistema de castas, derivado de uma crença hindu segundo a qual os homens foram criados a partir do deus Brahma: os brâmanes (homens de ciência e sacerdotes) se originaram da cabeça do deus; os xátrias (guerreiros), dos braços; os vaícias (comerciantes, agricultores e artesãos), das pernas; por fim, os sudras (servos), dos pés. Segundo a tradição, os párias se formaram a partir do pó que cobria os pés de Brahma.
Para Gandhi, os párias eram filhos de Hári, a deusa da aventura e, em algumas interpretações, outro nome para Vishnu. Com a independência do país, o sistema foi abolido.
Em 1907, o ato de registro dos asiáticos em Transvaal tornou-se lei e Gandhi lançou a proposta da satyagraha, a resistência civil sem o uso da violência.
Sete anos depois, Gandhi costurou o acordo que ficou conhecido como Ato de Reforma da Questão Indiana, com grandes avanços para os indianos: revogação da taxa paga pelos trabalhadores (eles precisavam pagar para ser contratados pelas fazendas e minas) e validação dos casamentos religiosos. O ato foi assinado por Jan Smuts.
O retorno à Índia
Em 1915, Gandhi voltou a seu país natal e em 1919 teve início o hartal nacional, movimento massivo de greves, acompanhado do fechamento de escritórios e escolas mantidos por indianos. Neste ano, ocorreu o massacre de Amritsar (cidade do norte da Índia). O mundo estava em guerra e foram ampliados os poderes do governo colonial, pretensamente para combater a subversão.
Gandhi e o Congresso Nacional Indiano imediatamente posicionaram-se contra as medidas e convocaram um ato de protesto. Tropas britânicas cercaram o local e, de acordo com relatos locais, entraram em confronto com 20 mil manifestantes desarmados. O tiroteio, em que foram disparadas mais de 1.500 balas em cerca de dez minutos, deixou mil mortos e 1.200 feridos.
A marcha do sal
Depois de outros episódios que geraram a prisão de Gandhi e de outros líderes do Congresso, os colonizadores proibiram a extração de sal no subcontinente indiano, para obrigar a população a comprar o sal industrializado na Inglaterra.
Gandhi anunciou que iria ao litoral pegar sal, mas não exortou ninguém a segui-lo. A marcha ocorreu entre março e abril de 1930 e percorreu quase 400 quilômetros.
O Mahatma parava de cidade em cidade, para descansar, e conseguia mais adeptos em cada localidade. As autoridades, no entanto, nada puderam fazer, porque Gandhi não fazia discursos nem pedia adesões ao protesto simbólico.
Ao chegar à praia, depois do banho (ritual simbólico para os hindus), Gandhi tomou um punhado de sal, gesto imitado por milhares de seguidores.
Em resposta a estes atos, nos dias seguintes ao ato, 50 mil indianos foram presos, Gandhi entre eles. Mas a marcha prosseguiu em direção a Bombaim. Foi formada uma barreira de 400 soldados, armados de cassetetes. Cada grupo que se aproximava era atacado pela tropa. Os manifestantes não manifestaram nenhum gesto de defesa.
A luta continua
Solto em 1931, Gandhi conseguiu um avanço nos direitos do povo. Conseguiu obter do governante inglês o Pacto de Délhi, pelo qual parte significativa dos quadros administrativos do governo passou a ser preenchida por nascidos na Índia.
Depois de várias outras prisões, em que o militante fazia longas greves de fome (foi solto em 1934 em função da forte fraqueza orgânica que o tomava), Gandhi lançou o movimento “Deixem a Índia” em 1942. O Congresso Nacional Indiano entendeu que estava encerrado o tempo de negociação e começou a exigir a retirada dos dominadores, através da tática de pressão: redução da produção, eliminação total dos produtos importados, greves gerais, etc.
No início de 1947, chegou à Índia o último vice-rei. A Inglaterra, apesar de ter saído vitoriosa da Segunda Guerra Mundial, estava com as finanças comprometidas e precisava reconstruir seu país, intensamente bombardeado pelos alemães nos conflitos bélicos. Foi enviada uma missão para discutir a independência do país, dividido em dois Estados: Paquistão (muçulmano) e Índia (majoritariamente hindu). Em 15 de agosto, após uma luta de 53 anos, o Mahatma viu sua Índia, de tradição milenar, novamente independente. Jawaharlal Nehru foi escolhido primeiro-ministro.
Em 30 de janeiro de 1948, Gandhi foi assassinado por Nathuram Godse, um nacionalista que responsabilizava o “Pai da Índia” pela dilaceração das receitas indianas (Gandhi defendia o pagamento de dívidas ao Paquistão). Antes de morrer, intercedeu por seu assassino, pedindo que ele não fosse castigado. O pedido não foi atendido.