Poucas figuras, talvez nenhuma outra, foram tão importantes para a formação do Brasil como o conhecemos hoje quanto José Bonifácio de Andrada e Silva. O “Patriarca da Independência”, como ficou conhecido, é tido por muitos historiadores como o cérebro do processo da independência brasileira em relação a Portugal, assumindo papel mais decisivo, inclusive, que Dom Pedro I, que foi consumou o rompimento com a antiga metrópole.
Nascido em uma boa família de Santos, em 1763, José Bonifácio teve a oportunidade de estudar na prestigiada Universidade de Coimbra, onde cursou Direito, Matemática e Filosofia Natural. Teve carreira absolutamente brilhante: partiu por uma excursão científica pela Europa custeada pelos cofres do reino em 1790, viajando por mais de dez anos. Retornou a Portugal, onde seguiu brilhando nas ciências. Achou tempo até para ser militar: chegou a ser tenente-coronel e ajudou a guarnecer Coimbra durante a Guerra Peninsular contra as tropas de Napoleão Bonaparte.
Cansado, retornou ao Brasil por saudades de casa em 1819. Não obstante todo o brilho de sua trajetória profissional, foi justamente nos anos finais de sua vida que ele garantiu um lugar na história do país onde nasceu. Abolicionista convicto, passou a ter forte ascendência sobre Dom Pedro após a partida de seu pai, Dom João VI, para Portugal, em 1821. A partir daí, convenceu Pedro de que a única saída para o Brasil era se tornar independente de Portugal, o que acabou sendo consumado no dia 7 de setembro de 1822.
José Bonifácio propôs uma constituição francamente liberal no ano seguinte, mas Dom Pedro I acabou cedendo a pressões de grupos reacionários, dissolveu a Constituinte e o Patriarca acabou preso, sendo exilado, passando a morar na França por seis anos.
A instabilidade política do país forçou a abdicação de Dom Pedro em 1831. Ali Bonifácio voltava a ter poder: como o imperador não deixara nenhum herdeiro com idade para assumir o trono do Brasil, deu a Bonifácio a prerrogativa de ser tutor de seu filho Pedro, à época com cinco anos. Acabou demitido pelo governo regente (que assumiu o comando do país até que Dom Pedro atingisse a maioridade), em 1833.
Tido como ranzinza e fechado por muitos, Bonifácio na verdade era piadista e até mesmo mulherengo. Foi casado oficialmente com apenas uma mulher, a irlandesa Narcisa Emilia O’Leary, com quem teve duas filhas. Narcisa morreu em 1829, no caminho de volta ao Brasil após o exílio de Bonifácio, não resistindo à longa viagem de navio. O Patriarca da Independência faleceria nove anos depois, em 1838.