Filha de uma família abastada, Joana Angélica nasceu em 1761 e, aos 20 anos, entrou para o Convento de Nossa Senhora da Conceição da Lapa. Ali foi escrivã, mestra das noviças, conselheira, vigária e em 1815 tornou-se abadessa, uma espécie de coordenadora geral das atividades religiosas e burocráticas.
Em fevereiro de 1822, Salvador estava revoltada contra as tropas portuguesas, enviadas para Salvador desde que o príncipe Dom Pedro declarou que permaneceria no Brasil, a despeito das instâncias de seu pai, que exigia seu retorno, episódio que ficou conhecido como o Dia do Fico (9.1.1822).
Nessa época, o Brasil tinha status de Reino Unido (juntamente com Portugal e Algarves). Desde o ano anterior, as cortes portuguesas discutiam sobre as possibilidades de o Brasil voltar à condição de colônia, mas, para isto, era preciso que o príncipe regente (mais tarde Pedro I, primeiro soberano do Brasil independente) voltasse para Lisboa.
As forças portuguesas atacaram o Forte de São Pedro, conseguiram dispersar e derrotar os insurgentes baianos em 18 de fevereiro. No dia seguinte, soldados e marinheiros, a pretexto de comemorar a vitória sobre os brasileiros, embriagaram-se e partiram para o vandalismo, atacando diversas residências e postos comerciais da capital baiana, justificando seus atos como buscar rebeldes.
O Convento da Lapa é uma construção colonial ainda existente na Bahia. Joana Angélica, ouvindo a gritaria e pressentindo a intenção dos soldados, orientou as freiras e noviças a fugirem pelo jardim. A freira postou-se em frente ao portão de ferro num gesto heroico, para tentar defender as pupilas que estavam sob sua guarda.
A historiadora Edith Gama e Abreu confirma em estudo a tradição de que sóror Joana Angélica teria exclamado: “Para trás, bandidos. Respeitem a Casa de Deus. Recuai, só entrareis aqui passando por cima do meu cadáver”.
Os soldados derrubaram o portão e atacaram a freira a golpes de baioneta. Mas isto nada adiantou. No convento, encontraram apenas o capelão do convento, padre Daniel Lisboa, a quem espancaram, mas as religiosas conseguiram se pôr a salvo. O sofá onde Joana Angélica teria sido colocada após o atentado (e morrido pouco depois) ainda existe e está em exposição.
Joana Angélica é uma mártir da fé e também a primeira mártir da luta pela independência baiana, que só foi obtida meses depois do Grito do Ipiranga (7.9.1822), em 2 de julho de 1823.