Caio Júlio César Augusto Germânico, nascido no ano 12, passou para a história conhecido pelo seu apelido, Calígula. Ele era o filho mais novo de Germânico, considerado um dos maiores generais e estrategistas de Roma, que comandou o exército na Germânia inferior (atual sul da Itália).
O garoto Calígula imitava os movimentos das coortes, usando uniformes militares, motivo por que foi apelidado pelos soldados: ele usava “caligae” (sandálias do uniforme dos legionários).
Calígula assumiu o trono de Roma após os reinados de Augusto e Tibério, os dois primeiros imperadores – ou césares, em homenagem a Júlio César, político responsável pela unificação e expansão do império. Antes disto, porém, teve vários parentes mortos, provavelmente em função de intrigas políticas.
Anos mais tarde, porém, Calígula aproximou-se de Tibério, que o nomeou “pontifex maximus” (literalmente, supremo construtor de pontes, cargo inicialmente religioso, gradualmente politizado a partir de Augusto, que passou a indicar diretamente os pontífices máximos). Com a proximidade da morte, Tibério indicou Calígula e Tibério Gemelo para sucedê-lo.
Calígula imperador
Enquanto Calígula era apenas sobrinho-neto, Gemelo era neto do imperador e, portanto, sucessor direto, mas havia desconfianças de que ele era um bastardo, nascido de um adultério, sem vínculos reais de sangue com Tibério. Após a morte, Calígula conseguiu anular o testamento e assumiu o trono.
Gemelo permaneceu junto à família imperial, mas, após Calígula ter se recuperado de uma doença, foi acusado de ter pedido a morte do imperador aos deuses, motivo por que foi condenado e executado no ano 38. O sobrenome tem uma origem interessante: Gemelo significa gêmeo, alusão ao seu nascimento (o irmão morreu na infância).
A administração de Calígula inicialmente foi marcada pela prosperidade: empreendeu reformas urbanísticas em grandes cidades do império, mas, depois da grave doença, que provavelmente provocou sequelas mentais, cometeu uma série de erros que esvaziaram os cofres públicos e geraram uma grave crise econômica. Para superá-la, os plebeus romanos tiveram que pagar impostos; até então, a receita de Roma vinha dos tributos cobrados das colônias.
Calígula anexou a Mauritânia (África) ao império. Para tanto, mandou matar o rei do país durante uma visita do soberano. Tentou sem sucesso ocupar a Britânia e concedeu territórios a Herodes Agripa I, rei da Judeia.
As excentricidades de Calígula
Mentalmente transtornado, Calígula cometeu uma série de erros. Ordenou a instalação de uma estátua sua no Templo de Jerusalém, o que foi considerado uma profanação pelos judeus e aumentou bastante a insatisfação da colônia, em que surgiram vários grupos subversivos.
O imperador também ordenou que os soldados suspendessem os combates com os bretões, para recolherem conchas no canal da Mancha: ele afirmava que este era o tributo a ser pago por estas águas a Roma.
Nos últimos anos, historiadores afirmam que Calígula manteve relações incestuosas e obrigou-as à prostituição. O imperador realizava festas e orgias, em que bajuladores aproveitavam para obter favores: foi o primeiro soberano de Roma a apresentar-se ao povo como um deus, apesar da religião romana rejeitar a teofania, ou o culto a uma pessoa viva.
Entre os exageros, o historiador Suetônio conta que Calígula mandou erguer um estábulo de mármore e fazer uma dentadura de marfim para seu cavalo (a quem quis fazer cônsul), com empregados destacados especialmente para atender aos desejos dos “convidados” do animal.
Com exceção, de Plínio, o Velho, todos os cronistas da época classificam Calígula como um monstro. Apesar de as instituições políticas, como o Fórum e o Senado, funcionarem regularmente no seu período, muitos inimigos políticos foram enviados para as feras sem julgamento. Algumas fontes diziam que ele matava apenas por diversão.
A morte do imperador
Os excessos de Calígula geraram inimizades políticas. Vários grupos se insurgiram contra ele, inclusive os senadores.
Em 41, a Guarda Pretoriana, liderada pelo prefeito (o comandante da legião) Cássio Querea, assassinaram o imperador. Suetônio afirma que os motivos não foram apenas políticas: Calígula considerava Querea afeminado, péssimo arrecadador de impostos e referia-se a ele como Príapo (deus da fertilidade, representado com o pênis ereto) ou Vênus (deusa do amor).
O Senado tentou usar a morte de Calígula para restaurar a República, mas os militares mantiveram-se fiéis à figura do imperador. O Império Romano do Ocidente ainda resistiria por mais de 400 anos.