Se alguma coisa é prejudicial à saúde, ela deve ser proibida. O princípio parece simples, mas não é. Nos anos 1920 e 1930, através de uma emenda à constituição dos EUA, as autoridades decidiram proibir a venda e consumo de bebidas alcoólicas, para coibir a violência e reduzir o número de dependentes. Este foi o cenário ideal para que Alphonse Gabriel Capone – o gângster Al Capone – desenvolvesse sua atividades ilegais.
Al Capone nasceu em 1899, em Nova York, cinco anos depois que sua família chegou ao país para viver o “sonho americano”. Cresceu com seus sete irmãos numa vizinhança pobre, foi expulso da escola aos 14 anos por ter agredido um professor, participou da gangue dos Cinco Pontos, trabalhou numa loja de doces e num boliche, até que conheceu Johnny Torrio, seu mentor no mundo do crime.
Em 1917, o delinquente juvenil ofendeu a irmã de seu comparsa Frank Galuccio. Isto valeu a Al Capone uma marca que o acompanharia pelo resto da vida e se tornaria um símbolo: Galuccio atacou-o com uma faca e feriu se rosto, “presenteando-o” com uma bela cicatriz (“scar”, em inglês) e com o apelido “Scarface”. Mas tudo acabou bem: Capone se desculpou e mais tarde contratou o agressor como guarda-costas.
Em 1921, juntamente com Torrio, Al Capone mudou-se para Chicago, Illinois, onde estabeleceu diversos pontos de venda de bebidas alcoólicas. De acordo com estimativas do FBI (Federal Bureau of Investigation), o negócio rendia 15 milhões de dólares anuais. “Papa” Torrio organizou o primeiro núcleo mafioso na cidade, unindo diversas quadrilhas para dominar os crimes em alguns bairros e impedir a ação de gangues rivais.
Alguns anos depois, no entanto, em 1925, foi baleado numa emboscada e a recuperação foi muito lenta, permitindo que Al Capone assumisse o comando. Rapidamente demonstrou que era um líder nato: dominou o crime em toda a Chicago, matando os líderes rivais, e expandiu o modelo para outras cidades americanas. Era um homem violento e sem escrúpulos.
Além das cervejarias e destilarias, o gângster controlava informantes policiais, casas de apostas, bordéis, apostas em corridas de cavalos e clubes noturnos frequentados pela elite americana. Em 1930, a “organização” chegou a faturar cem milhões de dólares.
O gângster comandou dezenas de emboscadas, para eliminar a concorrência: em fevereiro de 1929, sete homens foram brutalmente assassinados, numa chacina que ficou conhecida como Massacre de São Valentim, o Dia dos Namorados dos países de língua inglesa.
Apesar de todos os crimes, a polícia local e o FBI nunca conseguiram encontrar provas que pudessem motivar sua prisão. Diversos denunciantes foram “silenciados” pelo Sindicato do Crime antes que pudessem depor em juízo. Durante cinco anos (entre 1926 e 1931), o agente do FBI Eliot Ness e sua equipe, conhecida como “Os Intocáveis”, cercaram o gângster, que parecia resistir a qualquer investigação.
Ao contrário da ficção (“The Untouchables” transformou-se em série de TV nos anos 1960 e num filme de Brian de Palma em 1987), o agente nunca se encontrou pessoalmente com o gângster.
Finalmente, foi condenado pela justiça por sonegação de impostos e posse de armas não registradas. Al Capone recebeu uma pena de 11 anos, cumpridos inicialmente na prisão federal de Atlanta (Geórgia) e posteriormente na lendária Alcatraz, instalada numa ilha na baía de São Francisco, considerada à prova de fugas. O presídio foi desativado e tornou-se uma atração turística.
Em 1939, Al Capone teve sua pena revisada: uma junta médica diagnosticou sífilis em estado avançado, que provocou paralisia facial e reduziu sua capacidade mental. O bandido transferiu-se para Miami Beach, onde morreu em 1947, depois de sofrer um acidente vascular cerebral.
O gângster se tornou personagem de filmes, livros e seriados. Atores como Ben Gazarra e Robert de Niro já deram vida a Al Capone nas telas.
Al Capone teve um filho, Albert Francis, que nunca se envolveu com a Máfia. “Sonny”, como era conhecido, morreu aos 86 anos, de causas naturais.