A obesidade é uma condição médica. Os obesos acumulam gorduras em excesso, a ponto de causar problemas de saúde e mesmo de mobilidade.
Para a Organização Mundial da Saúde, uma pessoa é considerada obesa quando o seu IMC (índice de massa corporal) é igual ou superior a 30 kg/m2 quadrado da sua altura.
O Ministério da Saúde acredita de 115 milhões de brasileiros tenham problemas de sobrepeso ou obesidade. Esta condição pode ser responsável pelo desenvolvimento de diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, inflamações nas articulações, infertilidade e até transtornos psiquiátricos. Um dos problemas mais comuns para os obesos é a queda da autoestima. Acidentes vasculares cerebrais e infartos do miocárdio também são frequentes.
A obesidade atingiu níveis epidêmicos em todo o mundo. A taxa de mortalidade entre homens obesos entre 25 e 40 anos é 12 vezes maior, quando comparada à de indivíduos com peso normal. As principais causas são o estilo de vida sedentário e maus hábitos alimentares, com consumo excessivo de gorduras, sal e açúcar.
Os males mais comuns dos obesos
O diabetes mellitus é uma doença metabólica, caracterizada pelo alto teor de glicose na corrente sanguínea e pela deficiência de insulina, hormônio responsável por metabolizar o açúcar dos alimentos. Entre os obesos, a causa principal é o alto consumo de chocolates e doces. O Brasil ocupa a quarta colocação entre os países com maior prevalência deste mal: são quase 14 milhões de pessoas, boa parte delas ainda sem diagnóstico. Um sinal de alerta para o risco é o acúmulo de gordura no abdômen.
Sem controle adequado (que envolve medicamentos, dieta equilibrada e exercícios físicos), o diabetes mellitus pode prejudicar diversos órgãos. Algumas possíveis complicações são retinopatia, edema macular, pé diabético, infarto e outras.
A hipertensão arterial (ou pressão alta) também tem origem metabólica. Ela se caracteriza pelo aumento dos níveis tensionais do sangue: a corrente sanguínea encontra dificuldades para atingir as extremidades do corpo (geralmente por obstruções nas veias e artérias), obrigando o coração a bombear com mais rapidez.
No Brasil, 20% da população sofrem com hipertensão arterial. Entre os obesos, o problema é mais frequente: metade deles precisa controlar a doença com medicamentos. Médicos classificam a síndrome em três tipos: leve, moderada e alta.
A pressão alta tende a aumentar, se não for feito o tratamento adequado. Os riscos se ampliam quando ela está associada a outros problemas de saúde, como diabetes. É a principal causa de morte no mundo todo, já que esta condição favorece a instalação de muitas doenças.
Em geral, a hipertensão arterial é assintomática. Alguns sinais surgem quando a pressão se torna muito elevada (acima de 160 mmHg por 100 mmHg). São eles: dores no peito, dor de cabeça, tonturas, zumbidos no ouvido, fraqueza, visão embaçada e sangramento nasal. Os sintomas se instalam especialmente quando a pressão se eleva muito rapidamente.
A artrose (ou osteoartrite) é o distúrbio mais comum que afeta as articulações. Em função do excesso de peso, todas as articulações do corpo passam a ser mais exigidas e o desgaste se torna maior. Cartilagens são tecidos finos e emborrachados que revestem os ossos em suas ligações, para permitir que eles deslizem uns sobre os outros.
Desgastadas, estas cartilagens acabam permitindo o atrito e fricção entre os ossos, o que provoca dores, rigidez e inchaço, prejudicando a mobilidade. Bicos de papagaio podem se formar nas vértebras e esporoes, nos pés e calcanhares. Os obesos têm maiores probabilidades de desenvolver artrose na bacia, joelhos, tornozelos e pés.
Doenças do coração
As primeiras doenças que afetam os obesos são os males cardíacos. O coração está dimensionado para trabalhar em um ritmo adequado ao peso normal. Se o peso ideal é de 70 kg, por exemplo, o órgão foi feito para bombear sangue para este peso; se a pessoa está com 100 kg, o coração precisa trabalhar pelo corpo de 70 kg e uma carga extra de 30 kg.
Uma das doenças cardíacas mais comuns entre os obesos é a hipertrofia: o coração aumenta de tamanho, na tentativa de dar conta do esforço. A doença pode evoluir para uma insuficiência e gerar arritmias. Este quadro aumenta o risco de morte súbita e de acidente vascular cerebral.
O coração dos obesos tem dificuldades para fazer circular o sangue, favorecendo a instalação de doenças vasculares.
O surgimento de varizes nas pernas, mais comum entre pessoas com sobrepeso ou obesidade, aumenta os riscos de trombose venosa profunda (2,5 vezes mais altos do que entre pessoas com peso normal): é o acúmulo de coágulos de sangue (os trombos) nos vasos sanguíneos.
Os trombos podem se desprender e circular pelas veias, chegando a bloquear o fluxo, o que causa inchaço e dor: é a chamada embolia, que pode ficar presa nos pulmões, cérebro, coração e outras áreas, gerando lesões graves que podem inclusive levar à morte.
Sem ar
Um dos problemas mais comuns para obesos é a apneia do sono. Trata-se da parada respiratória durante o descanso noturno, uma condição pouco conhecida e muito grave. Metade dos obesos sofre com esta doença. O motivo principal é o excesso de gordura na região do pescoço, obrigando um estreitamento da laringe, o que facilita o fechamento involuntário do órgão.
Na posição horizontal do corpo durante o sono, a expansão dos pulmões para a respiração também se torna mais difícil. Quem sofre com a apneia não consegue ter um sono adequado e restaurador e, por isto, enfrenta sérios problemas durante o dia, tais como cansaço, lapsos de memória e dificuldade de concentração.
A asma também é uma companheira dos obesos. A doença está relacionada à presença de eotaxina, substância presente no tecido adiposo capaz de provocar o fechamento dos brônquios. Quanto maior o IMC, maior o teor da substância produzida pelo organismo. A única cura para a asma entre os obesos é o emagrecimento.
O fígado sofre
Os obesos enfrentam problemas com a esteatose hepática, que é o acúmulo de gordura no fígado. O órgão é o responsável pela metabolização das gorduras, que se transformam em glicose e são distribuídos para todos os órgãos e tecidos, gerando a energia necessária para todas as funções celulares.
Com o excesso de gorduras, no entanto, o fígado não consegue metabolizar tudo e parte delas fica acumulada. A esteatose hepática é pré-condição para o surgimento de fibrose e cirrose, doença mais comumente associada ao abuso de bebidas alcoólicas, mas, no caso dos obesos, pode se manifestar em pessoas abstêmias.
Tristeza em excesso
A depressão é um distúrbio afetivo muito comum entre os obesos. Ela se apresenta como tristeza profunda, pessimismo, medo, irritabilidade, desinteresse, desmotivação, indecisão, falta de vontade, ideias de suicídio, baixa autoestima, dificuldade para cumprir as tarefas do dia a dia, etc. Estatísticas apontam que 20% da população desenvolverão algum tipo de depressão no decorrer da vida. Entre os obesos, este percentual praticamente triplica.
Os fatores psicológicos e sociais são quase sempre consequência, e não causa da depressão. Existe uma predisposição genética para a doença, mas, entre os obesos, ela quase sempre surge em função da incapacidade de se sentir alegre, basicamente por causa da imagem ruim que as pessoas traçam sobre elas mesmas.
Além disto, muitos outros problemas são comuns aos obesos: infertilidade, gravidez de risco (inclusive com o desenvolvimento de diabetes gestacional) e colesterol alto (os obesos têm baixas taxas de HDL, o colesterol bom, e altas taxas de LDL, o colesterol ruim). Outro risco é o desenvolvimento de neoplasias. Quem está muito acima do peso apresenta deficiência de um linfócito (célula de defesa) chamado “natural killer” (assassino natural), que combate células mutantes, responsáveis pelo surgimento de tumores malignos.
Muitos casos de câncer são combatidos por estas células, mas, no caso dos obesos, elas não conseguem fazer seu trabalho de maneira adequada. O aumento da massa corpórea é responsável principalmente por tumores nas mamas e no endométrio. O tratamento não é mais difícil, mas a camada de gordura pode mascaras as neoplasias, fazendo com que o diagnóstico ocorra tardiamente.