O fim do mundo começou a ser delineado pelos persas, no século IV antes de Cristo. O filósofo Zaratustra criou o dualismo entre o bem e o mal e o surgimento de um “salvador”, no final dos tempos, para finalmente garantir a vitória do bem. Os judeus absorveram estes conceitos durante o cativeiro na Babilônia, conquistada pelos persas, e o Cristianismo nascente identificou em Jesus o redentor, chegando no fim do mundo.
Os quatro evangelhos apresentam passagens escatológicas (referentes ao fim dos tempos; o último livro bíblico é justamente o Apocalipse) e o discípulo mais intelectualizado, Paulo de Tarso (São Paulo, para os católicos), refere-se constantemente à necessidade de ir para a Espanha (o fim do mundo na época, onde começava o grande abismo), para pregar o Evangelho, em função de uma passagem de Mateus, que afirma a necessidade de levar a mensagem cristã por toda a terra, antes da segunda vinda, desta vez vitoriosa, do Cristo.
Apesar de muitos comentaristas bíblicos terem entendido que o ocorreria seria o fim de uma era ou conclusão de uma etapa, popularizou-se no Ocidente o conceito de “fim do mundo” como a destruição da Terra e de todos os seus habitantes.
O milenarismo
O Livro do Apocalipse afirma que o Diabo permaneceria preso por mil anos no abismo, período no qual o Cristo reinará. Isto levou a crédula e ignorante população europeia da Idade Média a acreditar que o mundo acabaria no ano 1000. Após o cataclisma, os humanos seriam levados ao Juízo Final. Houve muitos conflitos na chegada desta época, que perduraram até 1033, porque muitos pensadores da época acreditavam que os tais mil anos deviam ser contados a partir da morte de Jesus, tradicionalmente identificada pela Igreja aos 33 anos de idade.
O mundo não acabou em nenhum dos anos indicados. A partir de então, diversas seitas começaram a marcas novas datas para o fim do mundo.
Os adventistas
No século XIX, um religioso americano, William Miller, após estudar muito os textos bíblicos, chegou à conclusão de que a data marcada por Deus para destruir a humanidade situava-se entre 1843 e 1844. Seus seguidores se autodenominavam adventistas ou milenaristas.
A data do Advento (a segunda vinda do Cristo) chegou, muitos fiéis doaram seus bens e prepararam-se para entrar no reino celeste, mas novamente nada aconteceu. Boa parte decepcionou-se e abandonou, mas um grupo manteve-se firme na crença e formou a Igreja Adventista.
A nova igreja espalhou-se pelo mundo e, como as religiões protestantes advogam a necessidade da livre interpretação dos textos bíblicos, cada grupo local estabeleceu suas próprias previsões. No Brasil, por exemplo, a Igreja Adventista dos Santos dos Últimos Dias previa que “as portas da graça” se fechariam em 1993 e, portanto, após esse ano, não haveria mais a criação de almas destinadas à salvação. Dez anos depois, o mundo seria destruído pela ira divina.
Na Austrália, adventistas marcaram o fim do mundo para 2011 e novamente falharam. A cada nova previsão não cumprida, os grupos são rompidos e novos grupos estabelecem interpretações mais específicas sobre o fim do mundo. Mesmo assim, todas as perspectivas são frustradas e a Terra continua no seu curso natural.
Mais sustos
Em 1973, o pregador Jim Jones, fundador da seita Templo dos Povos, organizou uma colônia religiosa na Guiana, Jonestown. O pregador referia-se ao governo americano como o Anticristo, que deveria se levantar e dominar o mundo antes da vinda do Cristo, para o combate final.
Em 1978, a seita sacrificou-se num suicídio coletivo. Na verdade, no entanto, dias antes, a colônia havia sido visitada por um deputado federal americano, que, ao reunir à sua comitiva alguns membros do Templo dos Povos que desejavam retornar aos EUA, provocou a ira de Jones. Ele, repórteres e ex-membros do culto foram mortos poucos dias antes da tragédia que vitimou 918 pessoas. Este é um caso que mescla fim do mundo, sonegação de impostos e crimes contra representantes públicos.
Em 1980, o pastor televisivo americano Pat Robertson, fundador da Coalizão Cristã, apavorou seus telespectadores ao afirmar que o mundo acabaria dois anos depois.
Interpretações “científicas”
No final do século XIX, astrônomos descobriram que cometas são rochas geladas, criadas no surgimento do Sistema Solar (há 4,5 bilhões de anos), em cuja cauda ou cabeleira encontra-se uma substância letal, o cianogênio, com propriedades semelhantes ao cianeto, gás mortal para os humanos.
Poucos anos depois, em 1910, o cometa Halley cruzou a órbita terrestre. Foi o suficiente para se estabelecer o pânico. Até o famoso “The New York Times”, respeitado jornal americano, publicou artigos questionando se toda a vida seria exterminada na passagem do Halley, que, mesmo identificado pelos chineses em 240 a.C. e visitando a Terra a cada 76 anos, gerou a crença – e o medo – de que nesta passagem ela traria a destruição da Terra.
Os maias
Não havia entre os maias a preocupação com o fim do mundo. Como vários outros povos, eles entendiam a história como um ciclo, que tinha início, apogeu, decadência e fim. A própria ideia de um juízo final é estranha a eles, já que o destino era definido imediatamente após a morte.
Mesmo assim, alguns “especialistas” viram nas profecias maias um sinal de que o mundo acabaria no final de 2012. A “revelação” rendeu bons lucros ao cinema, à TV e às editoras, já que muitos títulos foram publicados sobre o assunto. Mas o fim do mundo também deu prejuízo: a NASA (agência aeroespacial americana) teve que atender a mais de 300 chamadas telefônicas diárias entre setembro e dezembro e até o próprio presidente, Barack Obama, precisou interromper suas atividades para tranquilizar a população por mais de uma vez, em pronunciamentos oficiais.
Novo fim do mundo já agendado
Membros da seita Espada de Deus Irmandade, da Inglaterra, já reservaram a nova data para o Apocalipse: desta vez, o mundo será destruído em 1º de janeiro de 2017.
A informação foi dada pelo próprio arcanjo Gabriel, o mesmo que informou a Maria de Nazaré (Nossa Senhora) de que ela estava grávida de Jesus.
De acordo com as informações do anjo, apenas os membros da obscura seita serão salvos. O restante da humanidade será arrastado para o inferno. Mas todos podem ficar tranquilos: o histórico religioso de fins do mundo não atesta a favor das hecatombes.
A Terra certamente será destruída em algum momento, quando nosso Sol se tornar uma anã branca (antes disso, ele explodirá), a Terra será consumida. Mas isto só vai acontecer muito tempo depois que a humanidade tiver sido extinta.