A culinária italiana é famosa por seus pratos, especialmente pelas pastas. No entanto, elas surgiram em pontos diferentes do mundo: o macarrão foi criado há mais de três mil anos pelos assírios e era muito comum entre os chineses, e só introduzido na Europa no século XIV, depois das famosas expedições de Marco Polo, que estabeleceram a Rota da Seda. Outros historiadores afirmam que os árabes foram os inventores do macarrão, introduzido na Sicília quando os muçulmanos tomaram a ilha, no século XIII.
Mesmo assim, o macarrão não fez muito sucesso. A fama do prato só surgiu quando os exploradores europeus trouxeram o tomate da América. Inicialmente, era uma planta ornamental, porque produz belos frutos várias vezes ao ano. Mas os supersticiosos europeus tinham medo de provar a fruta, já que a cor vermelha está associada à paixão e, portanto, ao pecado. Como os tomates apodrecem rapidamente, alguém teve a ideia de amassá-los. A união do macarrão, seja chinês, seja árabe, com o molho, deu origem à famosa macarronada da mama, que se espalhou pelo mundo todo.
A pizza surgiu no Egito e foi levada pelos judeus, que a batizaram de “pão de Abraão”, o patriarca de Israel. No início, era consumido apenas o disco de massa de trigo, como o atual pão ázimo ou sírio. A diferença está na levedura: enquanto os pães levam fermento da sua produção, a pizza não é levedada (conta a lenda que, na fuga do Egito, os hebreus não tiveram tempo de deixar crescer suas massas e seu primeiro alimento foi o pão ázimo, tradição mantida até hoje na Páscoa judaica).
Posteriormente, foram acrescentados condimentos e ervas ao pão achatado e, milhares de anos depois, eles já eram comuns em todo o Mediterrâneo e os italianos os comiam com rodelas de tomate, dobrados ao meio. no século XIX, um padeiro decidiu agradar a família real e incluiu mussarela e manjericão: o disco ficou com as cores da bandeira italiana – branco, verde e vermelho. Em homenagem à rainha Margherita e ao rei Umberto I. Até hoje, a margherita faz muito sucesso nas pizzarias.
Mais antiga ainda é a história lendária ou real do bife tartar. Conta-se que cavaleiros tártaros (povo nômade da Ásia central) barbarizaram a Europa a partir do século IV. Suas ações eram rápidas e fulminantes e os deslocamentos eram constantes. Como não tinham tempo de parar para cozinhar, comiam carne e cebolas cruas, que eram moídas durante as cavalgadas. Assim nasceu o prato famoso na França, com carne moída ou picada, marinada com cebola.
Os peruanos inventaram o ceviche: é apenas peixe cru, fermentado com algas e ervas. Com o avanço da navegação, a pesca em alto mar tornou-se comum e os pescadores precisavam se alimentar nas longas horas que passavam embarcados. Para reservar o problema, pegavam pedaços de peixe, misturavam sal e limão e deixavam-nos tampados sob o sol: em poucos minutos, o prato típico do Peru fica pronto.
Os japoneses começaram a cultivaram arroz em 2500 a.C. Antes disso, eram nômades, caçadores e coletores. Três mil anos depois, os motis (bolinhos de arroz), juntamente com o saquê, a bebida tradicional do país, eram indispensáveis nas comemorações. Com a maior facilidade de contato com o continente, o Japão importou os hashis e o koji, uma espécie de fermento utilizada no preparo do missô. No século VII, foram proibidas a criação e consumo de aves (com exceção do frango), porco e boi. A única carne permitida era o peixe (coelhos e javalis podiam ser consumidos em algumas épocas do ano), o que estimulou a criatividade dos japoneses no preparo de frutos do mar.
Quando os missionários europeus chegaram às ilhas nipônicas, introduziram vários produtos ocidentais, como a abóbora, batata-doce, milho e pimenta. A carne de vaca foi liberada e as frituras foram apresentadas aos orientais. Na Quaresma, período em que é interditado o consumo de carne para os católicos, havia sido criado um prato nos conventos portugueses que se tornou um clássico da comida japonesa: “ad tempora quadragesimae” (no tempo da Quaresma), mais conhecido como tempurá.
No Brasil
A feijoada brasileira é envolvida em lendas. A tradição diz que os grandes fazendeiros consumiam muita carne suína, mas desprezavam alguns cortes, como orelhas, rabo, pés, etc. Estas peças eram reservadas para os escravos, que, para conservá-las, usavam o sal, forma comum de retardar a putrefação, também usada pelos marinheiros das Grandes Navegações, que salgavam peixes – especialmente o bacalhau – para consumi-los nas longas viagens entre Europa e América.
Os escravos brasileiros, em algum momento, cozinharam os rejeitos de porco com feijões e assim surgiu a feijoada. A tradição ainda diz que, certa vez, um senhor de engenho, para punir o filho, prendeu-o na senzala. Foi a primeira vez que um branco experimentou o principal prato típico do Brasil, que se espalhou por todo o país.
Os carreteiros tiveram grande importância na ocupação do país. Eram condutores que transportavam os mantimentos nas comitivas organizadas para conduzir o gado para áreas de pastagem ou abate. Arroz e charque – carne bovina salgada – eram muito importantes, por serem produtos de longa durabilidade.
As comitivas seguiam preferencialmente os cursos dos rios, e era neles que o carreteiro dessalgava o charque. Em seguida, picavam-no e juntavam o arroz. Trata-se de uma comida extremamente energética, por ser praticamente proteína e carboidrato. Quem está pensando em encarar um arroz de carreteiro, deve pensar em uma saladinha na entrada.