Seja numa descida da montanha russa, seja quando nos deparamos com “aquela pessoa”, surge a sensação: sentimos frio na barriga. Ele está relacionado a situações de estresse. Durante milênios, fomos programados para responder a situações limite: quando nos encontramos em uma situação de perigo, o funcionamento das glândulas adrenais dispara e somos convocados a lutar ou a fugir.
O excesso de adrenalina reduz a circulação sanguínea no abdômen. O sangue fica concentrado no cérebro e nos membros, para fortalecer a reação. Com isto, os músculos abdominais e os vasos sanguíneos da região se contraem e o estômago libera uma quantidade maior dos ácidos necessários à digestão. Isto provoca a sensação momentânea de frio na barriga, mesmo em situações que não representam perigo atualmente.
Uma queda brusca, alguns milênios atrás, significava morte certa; por esta razão, ainda precisaremos de muito tempo para que possamos nos acostumar a descer uma ladeira – ou descer rapidamente em uma atração de um parque de diversões – em alta velocidade. É uma questão evolutiva.
Em uma descida súbita, ocorrem variações da gravidade. Neste caso, os receptores sensoriais do abdômen detectam alterações de pressão nas paredes do estômago e intestinos. A sensação normal causada pela força da gravidade diminui. Se esta força por qualquer motivo fosse reduzida à metade, nós flutuaríamos no ar. Com uma ligeira diminuição, os órgãos ocos, que têm certa mobilidade, se alteram.
Frio na barriga e as emoções
Mas, se a sensação é determinada por fatores físicos, como explicar o frio na barriga quando surge uma nova paixão, um desafio, em outras palavras, uma questão emocional? Isto é determinado por estímulos do cérebro que aumentam a produção de vários neurotransmissores, como a dopamina, associada a sensações de paixão, euforia e vícios. Ela aumenta a frequência dos batimentos cardíacos, acelerando a circulação sanguínea.
O sistema digestório entende esta situação como saciedade e contrai, como se não precisasse trabalhar naquele momento. Estas contrações, como já foi dito, provocam o frio na barriga. No caso das paixões, ele pode vir acompanhado por falta de ar e ansiedade, porque também entram em cena norepinefrina e feniletilamina, responsáveis pela hiperatividade, falta de sono e liberação dos feromônios, substâncias que atraem o sexo oposto e são relacionados à excitação sexual.
O medo e a ansiedade estão relacionados ao frio na barriga. Mesmo quando estas sensações não implicam risco de vida – e estão presentes na maior parte das ocasiões, como, por exemplo, a prova decisiva para a graduação, a “cantada” que pode não dar certo, a entrevista de emprego, a aula ou exposição a ser ministrada –, surge certa aflição e a resposta orgânica é sempre a mesma: a contração do estômago.
Vale lembrar que o estresse, em si, não é negativo; é apenas um conjunto de respostas físicas e emocionais a fatores externos. O termo foi emprestado da Física – originalmente, era aplicado à tensão sofrida por um material. O estímulo estressante, no entanto, quando se torna permanente, pode causar doenças. Quando o frio na barriga surge por causa de uma situação que se repete cotidianamente – a presença de um chefe muito exigente, daquela paixão oculta, a execução de uma tarefa arriscada, etc. –, ele acaba sendo amenizado, mas pode ser substituído por insônia, suor nas mãos, taquicardia, e tornar-se responsável por distúrbios físicos e mentais, como gastrite, úlceras do estômago e duodeno, e até depressão.