O dólar ultrapassou a barreira dos R$ 4,00 em setembro de 2015. Nos últimos dias, a cotação está muito volátil, mas tudo indica que a moeda americana vai continuar em alta. O percentual de aumento só não foi maior porque o Banco Central do Brasil (BACEN) promoveu vários leilões de dólar, e vale a lei da demanda e oferta: mais moeda circulando, menor a cotação.
Para isto, no entanto o BACEN precisa reduzir as reservas de divisas federais. Desta forma, os leilões não são uma solução, apenas uma estratégia de emergência. No médio prazo, não será possível tentar dar alguma estabilidade ao real com este recurso.
Em 29/09/15, o BACEN fez um leilão de até 20 mil swaps cambiais, que equivalem à venda futura de dólares, e um leilão de até US$ 2 bilhões, com compromisso de recompra. Para que isto aconteça, no entanto, é necessário que o país recomponha as reservas cambiais, o que está sendo extremamente difícil na atual conjuntura econômica.
Os motivos para o dólar alto
O planeta inteiro passa por um momento de incertezas econômicas, e o dólar e o lastro da economia mundial. Todas as nações mantêm uma reserva da moeda americana, para conseguir comprovar a capacidade de pagamentos nas muitas operações de comércio exterior.
Com o dólar valorizado, mesmo com os EUA ainda patinando na crise internacional, o real e outras moedas perdem poder de compra. Além disto, há mais de 18 meses o Federal Reserve (o Banco Central americano) vem reduzindo os estímulos monetários à economia. Desde a reunião do comitê federal de mercado aberto do Fed de janeiro de 2014, a compra de bônus e títulos vem sendo diminuída.
A economia dos EUA está mais firme, com crescimento registrado nos dois últimos anos – e tudo indica que o fato vai se repetir em 2015. Os dados americanos indicam a retomada da atividade econômica e a redução do desemprego. Bom para eles, que se recuperam de uma recessão que se espalhou pela Comunidade Europeia e Japão, além de atingir muitas nações em desenvolvimento.
E o Brasil?
Para o Brasil, a redução do estímulo monetária aponta para o fim da abundância da liquidez externa, que beneficiou a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No entanto, os problemas não se resumem ao exterior. O Brasil enfrenta uma crise política e econômica que, no pior dos cenários, pode desembocar em um impeachment da presidente Dilma Rousseff, com claros prejuízos para o mercado, sempre sensível à possibilidade de aumento da inflação, juntamente com queda do PIB (Produto Interno Bruto) e do nível de emprego.
Isto já está acontecendo, aliás. O desemprego, no segundo trimestre do ano, atingiu 8,3% da população economicamente ativa, o maior índice desde o início dos levantamentos feitos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No mesmo período de 2014, o percentual era de 6,8%.
Analistas financeiros indicam que o PIB brasileiro deverá cair 2,8% em 2015, e a queda continuará, ainda que menos intensa, em 2016.
Isto significa menos dinheiro circulando nos setores produtivos. Como desdobramentos, surgem a queda dos empregos, dos negócios agropecuários, atacadistas e varejistas. O Brasil enfrenta uma crise sem precedentes desde a implantação do Plano Real.
Dólar em alta significa dificuldades especialmente para as classes mais carentes. Todas as importações se tornam mais caras. O trigo, por exemplo, é quase todo trazido do exterior. Com o dólar subindo como um foguete, o pãozinho, a farinha de trigo e o macarrão, entre outros produtos alimentícios, terão aumentos com muita frequência.
Os produtos nacionais também podem ter a oferta reduzida: soja, café, arroz, milho, minério de ferra, bauxita, etc., tornam-se mais atraentes como produtos de exportação (os exportadores ganham mais com a alta do dólar). Isto pode provocar desabastecimento e aumento de preços.
A política
Os investidores financeiros internacionais não estão nem um pouco dispostos a trazer reservas em dólares para o Brasil, mesmo com a altíssima taxa SELIC (os juros básicos da economia), atualmente em 14,15% anuais. Ao contrário de outras épocas, em que os juros praticados aqui eram atraentes especialmente para os rentistas, as turbulências políticas atuais não recomendam qualquer aplicação.
Além disto, no início de setembro de 2015, a agência de risco Standard & Poor’s rebaixou a nota do país para o grau especulativo; além disto, retirou dos brasileiros o status de “bom pagador”. A agência já havia criticado anteriormente o Congresso Nacional por causar dificuldades na aprovação do ajuste econômico proposto pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy.
No último comunicado, afirmou que o governo federal “não tem habilidade e vontade”, fato que ficou provado com o envio de um “orçamento deficitário para 2016”. O Palácio do Planalto enviou uma proposta com déficit aproximado de R$ 30 bilhões. Com toda esta turbulência, é natural que o dólar esteja tão alto.
A presidente foi reeleita com uma proposta desenvolvimentista em 2014, mas o que se viu foi a adesão de uma política monetarista, com aumentos dos juros e impostos. O Brasil possui uma carga tributária digna dos países escandinavos, mas os serviços públicos são mal conduzidos, hospitais, escolas e toda a infraestrutura de transportes apresentam precariedade e gargalos que dificultam o escoamento da produção. Apenas para dar um exemplo, a Ferrovia Transnordestina, iniciada em 1997, ainda não foi completada.
A presidente também não consegue responder adequadamente à crise. De acordo com o IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), 69% da população reprovam o segundo governo de Dilma Rousseff e apenas 10% avaliam a gestão como boa ou ótima.
Em meio à crise, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (segundo homem na linha de sucessão, depois do vice-presidente Michel Temer), rompeu publicamente com o governo federal, declarando-se oposicionista.
Ocorre que existe também uma proposta de impeachment de Temer; neste caso, Cunha assumiria o poder interinamente, promovendo novas eleições presidenciais em 90 dias. Seria o pior dos mundos: caos econômico aliado à incerteza política. É fácil entender porque o dólar está tão alto.
Cunha, eleito pelo PMDB do Rio de Janeiro, ao menos em tese faz parte da base aliada. Mesmo assim, declarou o rompimento formal com Dilma Rousseff. O presidente do Senado Federal (e do Congresso Nacional) foi mais comedido e manteve-se na base aliada.
Anuncia-se uma reforma ministerial que deverá eliminar dez ministérios e dois mil cargos de confiança. É pouco. O país tem o absurdo número de 39 ministérios e uma base aliada ampla (mas não exatamente fiel): PT, PMDB, PCdoB, PDT, PSDC, PROS, PP e PSD exigem participação no governo.
A reforma deverá confirmar mais poder para o PMDB, que deverá chefiar sete ministérios, inclusive o da Saúde (administrando, desta forma, a pasta com a maior parte das verbas federais). Enquanto isto, o PT, que já foi um partido combativo, apequena-se e parece estar em um balcão de negócios.