O aumento da temperatura atmosférica pode, em tese, provocar o derretimento dos gelos polares e, com isto, elevar o nível dos oceanos.
Muitos grupos estudam o efeito estufa com parâmetros diferentes e, por isto, as previsões apresentam resultados desiguais. As mais otimistas falam de uma elevação do nível dos oceanos em 30 centímetros; as mais catastróficas, em dois metros.
Este fato já poderia provocar inundações em diversas regiões costeiras e até a necessidade de evacuação de ilhas muito planas, comuns nos oceanos Índico e Pacífico. Na costa nordeste dos EUA (onde fica Nova York, entre outras cidades importantes do país, como Boston, Filadélfia e Pittsburgh), o nível do mar conheceu elevação de 30 centímetros durante o século XX.
Não só as praias podem desaparecer
Os dados são da Agência Norte-Americana de Proteção ao Meio Ambiente. No século XXI, a projeção atinge níveis catastróficos: aproximadamente 2,2 metros até 2100. Tradicionalmente, as regiões costeiras são mais densamente habitadas e englobam a maior parte da produção econômica.
É o caso do Brasil, por exemplo. Basta verificar as discrepâncias socioeconômicas entre o litoral e regiões próximas e o sertão do Nordeste, as regiões Centro-Oeste e Norte. Existe grande produção nestas regiões menos populosas, especialmente no setor agropecuário, mas o aumento do nível do mar não prejudicará apenas as praias e o descanso de quem quer se espreguiçar e beber uma água de coco.
As praias e ilhas estão desaparecendo também em função da elevação da temperatura. No caso das ilhas, é provável que parte da população seja obrigada a emigrar antes do avanço das ondas. Muitos países insulares só conseguir sobreviver – e, mesmo assim, precariamente – com a renda obtida através do turismo.
As regiões litorâneas sofrerão um impacto gradual, mas drástico. As regiões mais elevadas também sofrerão: portos poderão se tornar obsoletos, prejudicando o comércio exterior. Além disto, todo o planeta se ressentirá com o aumento da temperatura: florestas se transformarão em matas de transição; matas de transição, em campos; campos, em semiáridos; semiáridos, em desertos.
Este processo é ainda bastante longo, mas ele tem alguns “aliados” de peso: a degradação das áreas silvestres, para extração de madeira, ampliação das áreas de cultivo, criação de gado e exploração dos recursos naturais.
Na natureza, todas as espécies ocupam um lugar no equilíbrio ecológico: a extinção de uma única espécie de rã pode causar uma explosão na população de mosquitos, inclusive os transmissores da febre amarela, dengue, febre chikungunya e febre zika.
Não serve de consolo, mas não são apenas praias e ilhas que estão desaparecendo. Os gelos eternos, como os Alpes e Andes, estão se tornando “mortais” e a Antártica e o Ártico apresentam reduções drásticas em algumas épocas do ano (quando os buracos da camada de ozônio se tornam maiores).
A tundra, cobertura vegetal de transição entre as zonas temperada e glacial (comum no Canadá, na Escandinávia e na Sibéria), vem perdendo terreno a cada nova medição. A Grande Barreira de Corais, defesa natural da costa nordeste da Austrália, está morrendo (corais são animais e as estruturas que vemos em mergulhos são compostas por seres vivos e esqueletos).
Ao sul da Índia
A República das Maldivas é um pequeno país insular do Índico, conhecido pelas belezas naturais. O slogan turístico do país é: “Não há lugar tão azul na Terra, nem com tantos azuis”. O arquipélago é constituído por 1.196 ilhas, das quais apenas 203 são habitadas.
O nome “Maldivas” é a junção de duas palavras do idioma malabar: “mal” (que significa “mil”) e “dwipa” (ilhas). No final de 2004, surgiu o primeiro aviso: um maremoto, cujo epicentro ocorreu na costa oeste de Sumatra (Indonésia), distante três mil quilômetros, cobriu praticamente todo o país.
Dois terços da capital, Malé, foram inundados. Mais de cem habitantes perderam a vida e calcula-se que 22 mil moradores foram desalojados. As ondas que atingiram o país insular chegaram a dois metros de altura. A economia local é baseada no turismo (quase todos os alimentos são importados). O prejuízo financeiro também foi grande.
Geleiras, mar e céu azul
A Nova Zelândia é um país único: é possível surfar, navegar em lagos formados por geleiras e praticar esportes de inverno. Tudo isto porque a nação é constituída por duas ilhas, com uma cordilheira dividindo-as de norte a sul. No inverno, os picos tornam-se brancos em função da neve e, no restante do ano, o gelo se derrete, formando lagos e lagoas.
É o lugar ideal para turistas que procuram praias, montanha ou campo (o país tem o maior rebanho ovino per capita do mundo). Para sentir frio, é possível conhecer as 18 geleiras da Ilha do Norte e as sete na Ilha do Sul. A Nova Zelândia também sedia o Centro Internacional Antártico, de onde partem expedições científicas para o continente gelado e os turistas podem experimentar a sensação do clima glacial sem sair da tropical Christchurch, a capital do país.
No entanto, as geleiras estão se derretendo, comprometendo os lagos, cidades situadas ao sopé dos montes e a própria estrutura geológica do país. Um estudo da Universidade de Zurique (Suíça), realizado entre 2001 e 2010, identificou um derretimento médio de 0,5 a 1 metro a cada ano (duas vezes mais do que a média do século XX, de 0,3 metro).
O aumento das temperaturas nas duas últimas décadas é o responsável pelo colapso ambiental. Os cientistas são unânimes em afirmar que, mesmo com a estabilidade da temperatura, as geleiras continuarão derretendo. Mas o calor continua: estudos preliminares com dados mais recentes indicam que o recorde de degelo do século XX (1998), foi superado em 2003, 2006, 2011, 2013 e 2014.
Badalação e romantismo
As Ilhas Seychelles são um país insular do Índico ocidental, a 1.500 quilômetros da África continental. Trata-se de um conjunto de 115 ilhas, daquelas só vistas em filmes e anúncios de operadoras de turismo. Seychelles e Ilhas Maurício são os únicos países do continente africano com IDH (índice de desenvolvimento humano) considerado alto.
Seychelles é destino de casais em lua de mel e de muitos grupos de jovens em busca de badalação e points de surfe. O país possui clima tropical úmido e recebe visitantes durante o ano todo (é a principal fonte de renda). Apensa 2% do território são ocupados pela agricultura; não há indústria pecuária, nem áreas cobertas por bosques secundários.
O ponto culminante de Seychelles, monte Seychellois, fica apenas a 905 metros do nível do mar, na ilha de Mahé, onde fica a capital, Victoria.
O país é formado pelas ilhas interiores (inner islands), um anel de 42 ilhas graníticas, rodeadas por atóis (formados por corais). Um aumento de 1,5 metro do nível do mar cobriria todas as ilhotas exteriores.
Os problemas não acabam aí. O núcleo central do país (as inner islands) representa 54% do território, com pouco mais de 240 quilômetros quadrados, e reúne 98% da população (na verdade, apenas pescadores vivem nos atóis maiores).
A costa das ilhas graníticas, no entanto, apresenta estrutura bastante frágil. Costas rochosas sofrem constantemente a ação do mar; nos terrenos mais antigos, os paredões deram lugar a praias de rochas ou de areia. Portanto, a elevação do nível do mar afetará também as inner islands.
Um exemplo brasileiro
Recife, a capital pernambucana, é considerada a “Veneza brasileira”. E, como a cidade coirmã italiana, a cidade, um dos principais destinos turísticos da região Nordeste (recebe três milhões de turistas anualmente), fica praticamente ao nível do mar, juntamente com Olinda, a mais antiga cidade brasileira a ser relacionada no Patrimônio Histórico Mundial.
Recife é cortada por dois grandes rios (Capibaribe e Beberibe). A elevação dos oceanos fatalmente irá avançar sobre regiões densamente habitadas. A ONG Co+Life relacionou os cem locais mais afetados pelo aquecimento global: a capital de Pernambuco foi classificada em 18º lugar, com base em dados publicados pelo Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês).