Por que as pessoas morrem?

A explicação é simples: nós somos (ou ao menos nosso corpo é) complexos de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, entre outros elementos químicos. Sendo compostos orgânicos, em certo momento nossas moléculas se desorganizarão, por desgaste, acidente ou doença, determinando a morte física – se a vida continua de outra forma, é questão de fé e esperança. Mas é difícil aceitar a morte, especialmente quando pessoas jovens morrem.

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Apenas no Brasil, morrem em média 400 pessoas por hora e atualmente nascem 500, também em média, o que mantém a população com crescimento anual de menos de 1%. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística prevê que o aumento do crescimento populacional será menor até 2042, quando haverá redução dos brasileiros. Estes números, no entanto, não melhoram em nada a dor e a saudade dos que perderam amigos e parentes queridos.

Luto e apego

O luto é um processo fundamental para superarmos a perda provocada pela morte. Independente de religião ou ateísmo, a despedida é sempre dolorosa. O maior problema, no entanto, está no apego. Nós sempre seguimos ansiosos a morte de um idoso – saudável, mas com todos os pequenos problemas causados pelo envelhecimento – ou de uma pessoa jovem, mas presa ao leito por aparelhos, com baixa qualidade de vida.

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Por que não deixamos que eles partam – para a eternidade ou para o nada? A resposta talvez esteja no nosso próprio desejo de eternidade, conceito filosófico que se traduz por algo que não pode ser mensurado pelo tempo: se este é a duração com alterações (uma sucessão de momentos), a eternidade seria infinita e imutável. E é justamente nesta suspensão do tempo em que gostaríamos de viver.

A natureza, porém, dá mostras de que isto é impossível: tudo se transforma e não seria diferente com os homens. Por isto, precisamos do tempo de luto. O psicanalista austríaco Sigmund Freud desenvolveu a tese que, com poucas alterações, continua sua aplicada até hoje. Em um primeiro momento, surge a negação: parece impossível que a morte seja uma realidade e negamos a partida (ou a nossa capacidade de lidar com ela), apesar de os sábios Lourenço Baeta e Cacaso terem explica, em “Meio Termo”: “a barra da morte é que ela não tem meio termo”.

Em seguida, surge a raiva. A culpa pode ser direcionada para os médicos, que não conseguiram salvar uma vida, para um bandido que cometeu latrocínio (o roubo seguido por morte) e até para Deus: “por que para mim?” “que mal eu fiz a Deus?” e “Não vou ter forças para superar” são expressões bastante comuns neste contexto.

Porém, é Deus é todo-poderoso, os médicos conhecem tudo sobre o fenômeno da vida e o ladrão poderia ter entrado em outra rua. Chega o momento da negociação: é como se pudéssemos barganhar com a divindade – ou com a equipe de saúde – para que o fato não seja verdade, ou ao menos seja possível revertê-lo.

Finalmente, a família e os amigos caem em si: as providências para o sepultamento são urgentes, surge a consciência de que o ser amado está definitivamente afastado, seu carinho não será mais partilhado. Com a perda, que pode ser quase insuportável, esvaem-se todos os sonhos, desejos, esperanças e realizações que poderiam ter ocorrido. Fica apenas a lembrança dolorida e, em muitos casos, instala-se a depressão (que é natural em períodos curtos).

A última fase é a aceitação. Afinal, a morte é um fato natural (ou um ato de Deus, de acordo com as crenças individuais). O objeto das atenções não será mais visto, cuidado, orientado. O que acontece nesta fase, no entanto, depende muito de cada ser e da proximidade que tinha com o ausente.

Não existe um prazo definido para superar o luto. Em alguns casos, como no da morte de um filho pequeno, a depressão se instalará e será necessário recorrer a tratamento médico e psicológico para amenizá-la.

O que fazer?

Com esta irreversibilidade e com a dificuldade em sabermos de onde viemos e para onde vamos – apesar de nós todos termos teorias e esperanças –, resta apegar-se à família. Fotos e vídeos, depois de determinado período, também ajudam a atenuar a saudade. Por alguns minutos, voltamos ao contato com o nosso morto, relembramos momentos felizes – festas, almoços em família, viagens – e isto alivia o sentimento.

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Mesmo que não seja com a frequência indicada pelas igrejas, muitas pessoas professam uma religião e todas elas, ao menos no Ocidente, pregam a existência depois da morte, que será feliz ou não, de acordo com o que tivermos realizados na vida. No Paraíso, a alma recebe um corpo glorioso, que será unido ao corpo carnal no Juízo Final, previsto em livros do Novo Testamento.

Os católicos celebram missas para interceder por familiares e amigos que tenham sido enviados para o Purgatório – local em que, como o próprio tema diz, nos purgamos dos últimos defeitos (os evangélicos e protestantes consideram a providência inútil, já que, depois da morte, nosso destino está definitivamente selado.

Os espíritas, umbandistas e várias seitas ligadas ao novo milênio acreditam que podemos nos comunicar com os mortos, através de cartas (psicografias), quadros de vidência e mesmo aparições espontâneas. Mas isto depende da condição do desencarnado e na disponibilidade de médiuns e mentores para proceder ao intercâmbio.

Seja como for, quem tem uma religião ou filosofia deve procurar aprofundar seus conhecimentos sobre ela e praticar os mandamentos pregados por ela: em geral, caridade, solidariedade, etc. Apenas afirmar ser desta ou daquela religião não basta para que ela se torne um paliativo nos momentos difíceis. E talvez ela possa se transformar em um estímulo para os desafios que ainda precisamos enfrentar aqui mesmo, na Terra.