Plantas esquisitas

Trata-se de uma questão cultural. Por exemplo, adoramos cães, às vezes com alguns exageros, como coleiras de ouro cravadas de diamantes ou festas de aniversário para animais que ainda não conhecem o calendário. No Extremo Oriente, os sul-coreanos também os adoram – mas muito bem assados sobre a mesa de jantar. Mesmo com tantas diferenças, porém, todo mundo deve concordar que existem muitas plantas esquisitas “decorando” a flora do planeta. Às vezes, porém, “esquisito” pode significar apenas diferente, exclusivo, muito antigo.

A maior planta do mundo

Vamos a alguns exemplos para comprovar a existência real de plantas esquisitas. A Rafflesia arnoldii, nativa das ilhas de Sumatra e Bornéu, na Indonésia, produz a maior flor do mundo, com mais de um metro de diâmetro e dez quilos de peso. Não por acaso, ela foi batizada de “flor monstro”.

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A espécie é um parasita: ela sobrevive sugando nutrientes de árvores, especialmente das tetrastigmas. Ela não possui raiz, caule nem folhas, e também não realiza a fotossíntese. A esquisitice não para aí: a planta exala cheiro de carne podre, para atrair moscas, único inseto responsável pela sua polinização. Quem quiser observar o desabrochar da Rafflesia (que murcha em poucas horas, em função do seu peso), portanto, não pode se esquecer de ir equipado com máscaras para proteger o nariz.

Para quem “só pensa naquilo”

Amorphophalus é um gênero que agrupa mais de 70 espécies, encontradas em regiões tropicais e subtropicais entre a África e a Oceania. Elas não colonizam as Américas. O nome científico significa literalmente “pênis gigante”.

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A Amorphophalus titanun, nativa da Indonésia, é a maior representante do gênero. Com as flores abertas (chamadas de jarro-titã, flor-cadáver e titan arun, em inglês), a planta atinge até três metros de altura. Durante a sua eclosão, ela cresce 16 centímetros por dia.

A planta pode viver até 40 anos, mas só floresce duas ou três vezes. Sorte nossa: ela é considerada a flor mais malcheirosa do mundo. Pelas suas dimensões e crescimento rápido, no entanto, ela está presente em jardins botânicos do mundo inteiro.

Ela só não rouba o título da sua vizinha Rafflesia Arnoldii porque, na verdade, o jarro-titã não é uma flor, mas uma inflorescência.

Mais uma planta parasita

A Hydnora africana é uma planta nativa das regiões áridas do sul da África, que parasita as raízes de plantas da família Euphorbiaceae (árvores e arbustos). A Hydnora cresce sob o solo e o único sinal de sua presença é a flor.

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Quando as Hydnoras finalmente desabrocham, elas emitem um aroma de fezes bastante desagradável para seres humanos, mas irresistíveis para algumas espécies de besouros que se alimentam das carcaças de animais. As flores funcionam como uma espécie de armadilha temporária, que retém os insetos atraídos pelo seu pólen.

Única no mundo

Wollemia é um gênero de araucárias existentes há milhões de anos (um fóssil encontrado foi datado de 200 milhões de anos atrás). As árvores atingiam mais de 40 metros, apresentavam copa irregular, o que devia passar a impressão de serem um conjunto de plantas e não apenas um espécime.

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Em 1994, foi descoberto um exemplar vivo da espécie Wollemia nobilis. Ele está em um cânion escarpado em uma floresta temperada úmida na Nova Gales do Sul, Austrália. A árvore foi batizada de pinheiro de Wollemi (o naturalista que a descobriu), apesar de não ser um pinheiro verdadeiro. O Parque Nacional Wollemi recebe turistas durante o ano todo, para visitar o “fóssil vivo”.

A menor planta do mundo

A Wolffia augusta fica com o título de menor flor do mundo. O gênero reúne 11 espécies todas elas aquáticas, distribuídas por quase todo o planeta. Ao observador, um grupo de augustas pode passar por um punhado de grãos de farinha derrubado na água.

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Os cientistas, no entanto, descobriram as flores minúsculas – uma dúzia de augustas cabe na cabeça de um alfinete; duas plantas em floração cabem nesta letra “o”. Mesmo assim, elas se revelaram muito importantes: elas são compostas por 40% de proteína (teor igual ao da soja) e, por isto, podem ter grande valor para a indústria alimentícia.

Papa-moscas

A Dionea muscipala, conhecida popularmente como dioneia, é a planta carnívora mais conhecida do mundo, em função de suas características. As folhas se formam com dois lóbulos, como se fossem uma grande boca, aspecto reforçado pelos tricomas (pelos) que parecem ser pequenos dentes.

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Enquanto a parte externa das folhas se encarrega da fotossíntese, a parte interna, muito sensível a movimentos, secreta pólen nas extremidades (ou entradas), o que atrai insetos e aranhas. Ao perceber a presença da “vítima”, os lóbulos rapidamente se contraem, devorando a presa.

O mecanismo de caça é ativado pelos tricomas apenas quando estes são tocados em sucessão rápida, o que impede o fechamento por causa de pingos de chuva. Apesar de tantos estratagemas evolutivos, a dioneia é uma espécie em extinção e já é cultivada em estufas e canteiros.

Uma nova planta carnívora

Há sete anos, uma equipe de botânicos viajou para as Filipinas, onde permaneceu por mais de dois meses. Na floresta, a 1.600 metros de altura, os cientistas encontraram samambaias rosadas e cogumelos azuis ainda desconhecidos. Também descobriram espécies de Nepenthes deaniana, que não era vista há mais de cem anos e acreditava-se que o único espécime havia sido consumido em um incêndio.

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A maior surpresa, no entanto, foi o encontro da Nepenthes attenboroughii, ainda desconhecido por pesquisadores. Ela produz armadilhas que capturam não apenas insetos, mas anfíbios (que as flores para depositar seus ovos) e até roedores do tamanho de um rato silvestre.

A mendiga da flora

A Welwitschia mirabilis se desenvolve no deserto do Namibe, entre Angola e Namíbia. É uma planta rasteira, formada por um caule lenhoso que não cresce e por apenas duas folhas que, em compensação, não param de crescer durante a vida toda.

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Em função disto, as folhas se arrastam pela areia do deserto, passando a impressão de ser um monte de roupas esfarrapadas e amarrotadas.

São, no entanto, bastante resistentes: estudos indicam que alguns espécimes já têm mais de 1.500 anos, mas pode haver indivíduos mais antigos: as plantas são uma lembrança do Período Jurássico, de clima quente e úmido (entre 200 milhões e 150 milhões de anos atrás). Algumas mirabilis podem ter servido de pasto para os grandes dinossauros herbívoros.

Remédio e sobremesa

A Dracunculus vulgaris cresce às margens dos bosques do sudeste da Europa. Ela também é cultivada como planta ornamental. O tubérculo da planta, após tratamento térmico, é moído como farinha e empregado em sobremesas e suplementos alimentares.

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Conhecida como serpentina por causa de seu caule enrolado, o caule e as folhas da planta são venenosos e evitados pelos rebanhos. Cor de vinho, ela também é utilizada em medicamentos para gangrena. Povos locais acreditam que ela tenha poderes abortivos.

Quando as flores se abrem, na primavera, também exalam cheiro de carne em decomposição. Ruim para nós, mas é a deixa para que moscas polinizadoras venham fazer o seu trabalho.