A palavra “pirata” foi cunhada pelos gregos antigos, para designar os ladrões embarcados que roubavam cargas nas linhas de comércio entre o Oriente Médio, o Egito e a Grécia. Homero fala deles na Ilíada: mercadores fenícios e assírios eram constantemente assaltados em suas rotas do Mediterrâneo. Mais tarde, na Idade Média, piratas normandos e vikings ficaram famosos por atormentar o litoral das atuais França e Inglaterra: os quadrinhos de “Hagar, o Horrível”, criados por Dick Browne na década de 1970, relatam o cotidiano de um pirata viking e são publicados diariamente por quase dois mil jornais.
No entanto, eles se tornaram mais comuns a partir das Grandes Navegações, no século XIV, quando as caravelas começaram a cruzar os mares em direção às Índias, para comercializar especiarias, e à América, fonte de vários produtos agrícolas, como o tomate, a batata e a mandioca. Os piratas se tornaram tão famosos que muitos deles agiam sob as ordens de reis europeus.
Os piratas do Caribe (região insular da América Central) se tornaram tão famosos durante a Idade Moderna que muitos deles se transformaram em verdadeiras lendas. Jack Sparrow, personagem fictício vivido nas telonas pelo ator Johnny Depp, rendeu quatro longas metragens e milhões de dólares para a indústria cenográfica americana.
Apesar de fortemente calcado no guitarrista Keith Richards, da banda Rolling Stones, Jack Sparrow reúne elementos de muitos piratas famosos, atraídos às ilhas caribenhas pela grande produção de açúcar, produto raro (e caro) na Europa. A cana-de-açúcar se desenvolve com facilidade em climas tropicais – e o Brasil é exemplo disto – mas a base do açúcar europeu da época era a beterraba, cuja sazonalidade determinava o preço.
Barbarrosa
Os nomes Aruj e Hizir não são comuns, mas a alcunha que estes irmãos receberam certamente está na memória de todos: Barba Ruiva (rosa, em italiano, significa vermelho). O apelido foi dado a estes dois ladrões turcos que barbarizavam o Mediterrâneo. Com base no norte africano, provavelmente na atual Tunísia, eles atacavam embarcações que navegavam pelo Mediterrâneo oriental e foram responsáveis por grandes prejuízos comerciais e por saques em cidades costeiras.
Um pirata nobre
Francis Drake recebeu o título de lorde da rainha Elizabeth I. Era um corsário: nome dado a piratas a serviço da Coroa. Tornou-se um personagem lendário, por ter roubado cargas de açúcar das colônias holandesas e espanholas na América. Na disputa com o rei espanhol Filipe II, tornou-se o segundo em comando, subordinado apenas a Charles Howard, responsável pela derrota da Invencível Armada, da Espanha.
O rei Filipe ofereceu uma recompensa de 20 mil ducados (correspondente a atuais a R$ 13 milhões) pela cabeça de El Draco (o dragão), mas ele nunca foi capturado. Drake foi o primeiro inglês a circunavegar a Terra (1577-1580).
Caveira e espadas
Calico Jack Rackman foi o primeiro navegante a usar a tradicional bandeira pirata em sua embarcação: uma caveira sobreposta a dois ossos ou duas espadas cruzadas, que ficou conhecida entre os europeus como Jolly Roger (Roger, em inglês, possui vários significados. Entre eles, vagabundo, confronto e Diabo: “Old Roger”). Calico é um tecido rústico de algodão produzido na Índia, provavelmente em Calicut.
O pirata ficou famoso por manter mulheres piratas em seu navio, ao contrário da crença da época, de que mulheres traziam azar. Anne Bonney e Mary Read, que provavelmente foram suas amantes. Rackman foi executado com a maioria da sua tripulação em 1720, na Jamaica.
Mais um furacão
Henry Morgan também foi um corsário: pilhava a serviço do País de Gales. Um dos seus principais ataques ocorreu em Portobello (atual Panamá), quando reuniu mais de mil homens para derrotar as forças espanholas e saquear ouro e pedras preciosas. É um dos piratas famosos por ter enterrado tesouros – os famosos baús de pirata – em muitas ilhas do Caribe. Foi nomeado governador da Jamaica pelo rei Charles II, da Inglaterra, tornou-se um próspero fazendeiro e morreu na cama, ao contrário da maioria dos piratas famosos.
O capitão garoto
William Kidd possuía seu próprio navio mercante, para transportar mercadorias entre a América e a Inglaterra. Foi convidado – e financiado – por nobres ingleses a combater a pirataria no Atlântico ocidental. Para proteger a frota, contratou marinheiros que pretendiam fixar-se nas colônias com suas famílias. Mas ocorreu um incidente trágico: seu navio deixou de saudar uma embarcação da marinha real, que abriu fogo contra o navio de Kidd e consta que, num sinal de supremo desrespeito, a tripulação britânica baixou as calças e mostrou as nádegas para o barco à deriva.
Kidd conseguiu desembarcar a tripulação “doméstica”, mas só conseguiu recrutar novos marujos entre foras da lei. Um ano depois, sem conseguir nenhuma carga legal, passou para a pirataria. Inicialmente, ele acreditava – e isto está registrado no diário de bordo – que agia dentro da lei, por atacar apenas navios franceses e árabes, inimigos da Inglaterra. Em seguida, passou a pilhar navios de qualquer bandeira.
Durante três anos, o capitão foi perseguido pela frota inglesa. Finalmente, foi capturado, condenado e enforcado. Seu corpo foi embebido em betume e exposto na margem do rio Tâmisa, como advertência a possíveis candidatos a pirata.
Black Bart
Bartholomew Roberts aterrorizou a costa africana e a América Central. É o pirata mais bem sucedido em número de presas: abarcou com sucesso quase 500 navios. Era um pirata diferente: não admitia estupros, exigia o cumprimento de horários e obrigava toda a tripulação a acompanhar os ofícios religiosos aos domingos.
Black Bart, ao contrário da maioria dos marinheiros da época, não gostava de rum, a aguardente de cana produzida no Caribe. Preferia chá, e seguia o ritual inglês do chá da tarde. De acordo com a história, era um galês bem de vida, até que foi capturado por piratas e acabou se tornando comandante de um navio pirata.
Pirataria moderna
Ao contrário do que se acredita, a pirataria não morreu. Navios somalis, especialmente, espreitam a saída do golfo Pérsico, por onde escoa grande parte do petróleo cru produzido no Oriente Médio. Terroristas sudaneses abordam regulamente navios de turismo na costa do Quênia e nas Ilhas Seychelles.
Existe ainda a biopirataria: pretensos pesquisadores invadem ambientes ricos em biodiversidade, roubam recursos naturais e conseguem obter patentes. Os japoneses, por exemplo, patentearam o brasileiríssimo cupuaçu, obtendo royalties sobre todas as suas aplicações. Os brasileiros precisam ficar de olho nos novos piratas.