Picadas de aranhas

As aranhas desempenham um papel importante nos ecossistemas: todos os indivíduos das 40 mil espécies já catalogadas são carnívoros e alimentam-se de insetos, moluscos e vermes, controlando estas populações e impedindo um desequilíbrio ecológico. No meio urbano, porém, elas são um problema: o encontro entre aranhas e humanos pode significar picadas com sérios danos à saúde: as picadas podem inclusive ser letais.

Como regra geral, as aranhas fiandeiras, que tecem teias geométricas regulares, não apresentam risco para o homem. Elas são úteis, capturando moscas, especialmente aqueles minúsculos insetos que se alimentam dos fungos que crescem em boxes de chuveiro mal higienizados.

Quando ocorrem picadas de aranhas, o procedimento ideal é tentar capturá-las, para que a espécie seja identificada, o que facilita na adoção do tratamento mais adequado. Em 2006, foram registrados cerca de 20 mil acidentes no Brasil, foi possível conhecer o agressor. Entre estes, 65% foram provocados por aranhas marrons e 23%, por aranhas armadeiras. O risco principal ocorre com idosos, crianças e pessoas com problemas imunológicos.

O procedimento padrão para os primeiros socorros é manter a região afetada mais elevada e a vítima deve ser hidratada. Torniquetes, cortes ou furos no local da lesão são contraindicados. A vítima deve ser encaminhada ao serviço de saúde com urgência.

A aranha marrom

No Brasil, existem sete espécies destes aracnídeos e há registros oficiais de picadas por quatro delas. São aranhas pequenas, com cefalotórax (a junção de cabeça e tronco do animal) de apenas três centímetros. O macho é um pouco menor, mas suas patas são mais longas. A coloração é marrom acinzentada e a Loxosceles laeta apresenta um desenho branco em formato de estrela no dorso.

Não são animais agressivos: as picadas ocorrem quando são pressionadas (por exemplo, ao sentar-se sobre ela ou calçar um sapato provisoriamente transformado em toca da aranha). Os acidentes ocorrem principalmente no sul do país, entre São Paulo e Rio Grande do Sul e são mais numerosos na primavera e verão. A região de maior incidência é Curitiba (PR) e seu entorno, com 90% dos casos registrados (1.200 picadas anuais).

Muitas vezes, o acidentado não chega a perceber a picada, que é praticamente indolor. Os sintomas surgem 24 horas depois, com a necrose local, vermelhidão, dor cada vez mais forte e a lesão atinge uma área muito maior em torno do ponto em que o veneno foi injetado.

Progressivamente, formam-se bolhas e inchaços endurecidos, quentes e avermelhados. Os sintomas colaterais são enjoos, fraqueza, mal-estar e febre. Em cinco dias da picada, forma-se uma crosta, que se desprende em duas ou três semanas, determinando a formação de uma úlcera profunda na pele. Sem auxílio médico, a cicatrização demora meses.

Em cerca de 10% dos acidentes, a vítima apresenta hemólise, a destruição das hemácias (os glóbulos vermelhos do sangue), que provoca anemia, icterícia e pode evoluir para insuficiência renal aguda, a principal causa de óbito por picadas de aranhas marrons.

Pacientes com sintomas apenas cutâneos podem ser tratados com medicamentos tópicos, se o socorro médico for administrado nas primeiras 24 horas. Os que desenvolvem a forma hemolítica, no entanto, a administração do soro antiaracnídico é fundamental. A crosta necrosada pode demandar retirada cirúrgica e, se tiver atingido níveis profundos, será necessária uma correção estética.

A aranha armadeira

São seis espécies conhecidas no Brasil. São aranhas peludas e grandes, que atingem até 15 centímetros de comprimento. Como não constroem teias, dependem unicamente do veneno para capturar suas presas. A coloração é marrom acinzentada ou amarelada, com faixas mais claras no dorso. O pelo na região das quelíceras é avermelhado.

As armadeiras são ativas durante a noite e escondem-se em palmeiras, bromélias, bananeiras e, com a degradação do seu ambiente natural, em sapatos, atrás de móveis e tijolos e madeiras acumulados no quintal. Ambientes escuros e úmidos são seu principal esconderijo.

As armadeiras são agressivas. Apoiam-se no último par de patas, erguem as patas dianteiras e pedipalpos e chegam a saltar até 40 centímetros, ou então giram em torno do eixo corporal, acompanhando os movimentos da presa. A atividade destas aranhas aumenta durante o período de acasalamento (entre março e abril). Depois da fecundação, as fêmeas passam meses recolhidas, cuidando dos ovos.

A maioria das picadas não representa grandes riscos para a saúde: são raros os casos de óbito envolvendo aranhas armadeiras. Mesmo assim, a vítima sente dor intensa imediata, seguida de inchaço e vermelhidão. Os pelos do animal podem causar alergias.

A picada é classificada como leve (95% dos casos), moderada e grave. No tipo leve, as dores permanecem por algumas horas, acompanhadas por sudorese, taquicardia e agitação. No tipo médio, além dos sintomas descritos, ocorrem náuseas, diarreia e aumento da pressão arterial. A manifestação grave ocorre principalmente nos grupos de risco: ocorrem vômitos, redução da frequência cardíaca, tremores e, nos homens, priapismo (ereção peniana involuntária). Em raros casos, a vítima desenvolve edema pulmonar, que pode ser letal.

O tratamento indicado é a injeção de anestésicos no local da picada, que pode ser reaplicado em intervalos de uma hora, de acordo com as reações do paciente. Compressas quentes ou imersão da área afetada em água morna aliviam a dor. O soro só é administrado em casos mais graves. Os sintomas começam a declinar após duas ou três horas, mas a sensação de formigamento ou dormência permanece por até um dia.

Aranhas peludas

As tarântulas ou caranguejeiras também são responsáveis por acidentes com humanos, mas seus efeitos resumem-se à dor, que pode ser intensa, de acordo com o porte da aranha, acompanhada de inchaço e vermelhidão, mas raramente provocam danos maiores. As tarântulas são endêmicas em todas as regiões temperadas e tropicais.

A famigerada viúva-negra (a aranha tem este nome porque costuma devorar seu parceiro após o coito), presente na literatura e no cinema como um terrível agressor, dificilmente consegue perfurar a pele humana com suas quelíceras, mesmo em caso de esmagamento involuntário.

No século XIV, os campos de centeio do Taranto, na Itália estavam cheios de tarântulas. Alguns efeitos de alteração da consciência provocavam movimentos ágeis, que, a tradição afirma, são a origem da tarantela, dança e ritmo musical que se espalharam pelo mundo. Mas não eram as aranhas que provocavam os movimentos: o responsável era um fungo, que infestou o centeio e era ingerido nos pães.

Uma última curiosidade: todas as tarântulas provocam priapismo (uma espécie americana causa efeitos de até quatro horas). Não se trata de uma sensação agradável. As ereções são acompanhadas de dor local intensa. Mesmo assim, cientistas estudam os princípios que determinam este efeito para desenvolver uma alternativa natural ao famoso comprimido azul.

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