Essa síndrome recebeu o nome de Memória Autobiográfica Altamente Superior (HSAM, sigla em inglês). Desde 2000, apenas 34 pessoas em todo o mundo foram documentadas portadoras da síndrome. A característica central é que por volta do 10 anos os portadores começam a armazenar todos os detalhes de todos, ou quase todos os dias de acontecimentos vividos particularmente, ou que foram importantes para o mundo. A atriz Marilu Henner, a violinista Louise Owen e o produtor de TV Bob Petrela são algumas pessoas que lembram-se de anos atrás como se fosse ontem, literalmente.
Pessoas como Jill Price, o primeiro caso, lembram-se de mais detalhes de acontecimentos recentes do que de um mês atrás, mas em comparação, as lembranças de um mês são semelhantes às de 10 anos passados. Os detalhes mais importantes são arquivados e os irrelevantes, excluídos. Segunda a neurobióloga Aurora LePort, entender que essas pessoas também esquecem certas coisas é importante. A teoria entre os cientistas é que os fatos estão ligados a fortes emoções, já que quando um evento é acompanhado de emotividade, seja positiva ou negativa, a tendência é que os detalhes fiquem fixos na memória.
Teorias
De acordo com o especialista em memória da Universidade da Califórnia, James McGaugh, a questão emocional pode estar ligada às amígdalas cerebelosas, uma espécie de neurônios que ficam no cérebro. Os portadores poderiam lembrar-se dos acontecimentos porque essas estruturas processam as emoções de um modo diferente. Os pesquisadores não podiam afirmar com certeza, mas uma publicação da Universidade Vanderbilte, dos Estados Unidos ajudou a teoria a ganhar espaço. Um voluntário com HSAM foi submetido a ressonância magnética, onde constataram que uma amígdala cerelebosa tinha 20% mais que a outra, além de uma conexão mais forte com o hipocampo, relacionado à memória. Um detalhe importante é que o voluntário era cego, por isso a amígdala direita era maior. Outros onze indivíduos com HSAM foram estudados e tinham estruturas de tamanhos normais, mas a teoria da excitação emocional não foi descartada, já que a alteração nesses neurônios pode não ser identificada por ressonâncias.
Esse mesmo exame identificou que os lobos temporais (onde memorias ficam guardadas) das 11 pessoas eram maiores que o normal. Apesar da descoberta, McGaugh afirma que o cérebro pode ter mudado por conta do modo como os portadores pensam, ou eles podem ter desenvolvido a síndrome a partir de uma mudança do cérebro. Uma coisa é certa: ainda há um longo caminho para entender como o cérebro dos supermemoriados funciona.