Os idiomas são semelhantes a seres vivos: nascem, desenvolvem-se, dão origem a novos idiomas e morrem. Por exemplo, o latim nasceu na Itália central, teve que crescer para acompanhar o desenvolvimento de Roma, deu origem ao francês, português, italiano, espanhol e romanche e, quando deixou de ser necessário para os homens, morre. Mas enquanto o idioma está vivo, vai gerando novas palavras e mudando o sentido delas. Muitas palavras que nasceram como sonoros palavrões se tornaram palavras do cotidiano.
Quando alguém diz, por exemplo, que “Fulano é mulato”, está apenas referindo-se ao tom de pele do Fulano. Pode até ser uma pessoa racista, mas a frase é neutra. Mas “mulato” nasceu como “filho de mula”. O vocábulo era principalmente no tráfico de escravos, a partir do século XVI e incluía a conotação de que os negros eram parecidos, mas não eram verdadeiros seres humanos. Os filhos desses seres, mesmo que tivessem pais brancos, não eram homens reais e, portanto, podiam ser vendidos. Uma tentativa vã de aliviar a consciência.
Recuar tem uma origem mais divertida. A palavras surgiu do francês, unindo o prefixo -re ao vocábulo cul, que vem do latim culus: parte traseira, ânus.
Originalmente, recuar era voltar com o dito cujo para trás, geralmente de forma desordenada. Hoje, significa apenas retroceder no caminho.
Acuar é um parente próximo de recuar. Acuado é o animal que se agacha, aproximando o traseiro do chão, por teimosia, raiva ou medo. Hoje, podemos ficar acuados num apartamento, simplesmente porque o elevador quebrou.
Interjeições são usadas para aumentar a intensidade de uma oração. Muitas delas derivam de sonoros palavrões, como “poxa” (cuja origem está no líquido expelidos pelos homens nas relações sexuais) e “caramba” (a origem é óbvia: o órgão sexual masculino).
Os palavrões são criados no “porão do cérebro”, o sistema límbico, parte do sistema nervoso que controla as emoções. Por isso, ao serem criados (muitos deles são partes consideradas pouco nobres do corpo, outros designam excrementos), eles se revestem de uma forte carga simbólica, que se reduz gradualmente, com o tempo de uso da palavra.
Mesmo os palavrões que continuam sendo empregados como xingamentos perdem esta conotação original em diversas expressões. Por exemplo, “vou comer um lanche do car(*).
Não são apenas palavrões que perdem o sentido original. “Dizimar”, por exemplo, é apenas pagar o dízimo (algumas igrejas ensinam que é preciso doar 10% da renda familiar para as obras de caridade). Mas na Roma antiga era motivo de muito medo: o castigo das legiões que voltavam derrotadas da batalha era terrível. Elas eram dizimadas, isto é, um em cada dez soldados era executado, para favorecer os deuses e levantar o moral das tropas.