A história começa com o artesão Peter Carl Fabergé, nascido em 1846, e seus assistiram criaram estas pequenas peças de decoração e criaram a tradição de presentear os membros da família imperial da Rússia na Páscoa. Todos os ovos Fabergé foram produzidos de forma manual, elaborados com esmalte, metais (ouro, prata, platina e paládio) e pedras preciosas (rubis, quartzos, diamantes, jades e ágatas): no interior, eles ocultavam miniaturas.
Aos 15 anos, Fabergé partiu para uma viagem de três anos pela Europa. Visitou museus e exposições e aprendeu francês e alemão, idiomas falados na corte russa, onde a língua local era considerada vulgar. Foi um longo período de formação artística e intelectual. Durante estas viagens, Fabergé aprendeu também a arte da joalheria.
Durante a Páscoa, os russos se cumprimentam com a frase “Cristo ressuscitou” (a resposta é sempre “verdadeiramente”) e se presenteiam com ovos, que representam, de acordo com a tradição, a nova vida que tem início. Entre o povo, os presentes são apenas ovos de galinha pintados, mas a família imperial inovou com as joias delicadas feitas por Fabergé.
As características dos ovos Fabergé
Os ovos Fabergé têm cerca de 13 centímetros de altura e são peças únicas de joalheria. Delicados e dotados de mecanismos que permitem visualizar o seu interior. Com o passar do tempo, o novo ovo passou a ser esperado com grande expectativa. Cada nova peça demorava o ano todo para ser produzida no ateliê de Fabergé, entre o planejamento, desenho original, corte e lapidação das pedras. O trabalho era realizado em total sigilo.
Os ovos representam cenas familiares, grandes feitos dos czares russos. Em comemoração aos 300 anos da dinastia Romanov, Fabergé criou um ovo com retratos em ouro dos 18 imperadores; no interior, gira um globo, com as fronteiras russas à época do primeiro monarca e as fronteiras expandidas até a ascensão do Nicolau II.
Atualmente, os ovos Fabergé – também chamados de ovos imperiais – são disputados por colecionadores do mundo inteiro, que pagam pequenas fortunas; em março de 2014, um vendedor de sucata dos EUA encontrou um ornamento dourado em um bazar. Pesquisando na internet, o homem descobriu que o objeto havia sido presenteado para a czarina Maria Feodorovna, em 1885, pelo seu marido, Alexander III. O ovo – o primeiro da história – foi adquirido pela bagatela de 20 milhões de dólares.
O primeiro ovo Fabergé
O primeiro ovo Fabergé causou um rebuliço na casa Romanov, a família imperial. Aparentemente, era apenas uma pequena peça de ouro esmaltada, mas, ao abri-la, a czarina encontrou uma gema de ouro que, por sua vez, ocultava uma galinha. No interior da ave, havia um pingente de rubi e a réplica da coroa imperial, esculpida em diamante. São características comuns às bonecas Matrioska, bastante populares na Rússia.
A imperatriz ficou tão impressionada com o presente que Alexander nomeou Fabergé como fornecedor oficial da corte. A tradição continuou com o filho do casal imperial (que mais tarde subiria ao trono com o nome de Nicolau II, último czar da Rússia).
No total, os dois últimos czares russos encomendaram 50 ovos Fabergé ao artesão – são peças únicas, sempre contendo uma surpresa. Além disto, o renome do artista cativou a corte de São Petersburgo. Os nobres do país solicitaram (além de 15 ovos, diversas joias, principalmente colares), que também são alvo de disputa pelos colecionadores.
O industrial Alexandre Kelch também produziu sete ovos Fabergé. Especialistas não os consideram tão sofisticados, especialmente porque algumas destas peças são apenas réplicas dos ovos originais. Do total de 69 ovos criados, apenas 61 chegaram aos nossos dias (46 produzidos por Fabergé). Entre os perdidos, restaram apenas fotos de dois objetos: o da realeza dinamarquesa (de 1903) e o comemorativo a Alexandre III (de 1909).
Onde estão?
A grande maioria dos ovos Fabergé (30 deles) continua na Rússia. Em 1917, quando a família imperial foi deposta e presa, Fabergé fugiu para a Suíça, onde morreu três anos depois. Com a implantação do regime socialista, no final deste ano, os palácios reais e mansões da nobreza foram saqueados e as joias e obras de arte foram transferidas para o Kremlin, por ordem de Vladimir Lênin.
Entre 1930 e 1933, para arrecadar dinheiro, o então dirigente socialista Joseph Stálin leiloou algumas peças, inclusive 14 ovos Fabergé.
A maioria foi arrematada pelo magnata americano Armand Hammer, amigo pessoal do dirigente russo. Alguns foram adquiridos por Emmanuel Snowman, proprietário da Wartski, uma loja de antiguidades de Londres.
Depois dos objetos do Kremlin, a maior coleção foi organizada por Malcolm Forbes, Publisher da revista americana “Forbes” (morto em 1990), e apresentada em Nova York. São nove ovos Fabergé e outros 180 objetos produzidos pelo ourives. A coleção foi leiloada na Sotheby’s, corporação internacional sediada na mesma cidade, pelos herdeiros de Forbes.
Em fevereiro de 2004, antes mesmo de o leilão ter início, todo o lote foi adquirido pelo bilionário americano Victor Vekselberg. O valor da transação não foi informado, mas estima-se que tenha sido entre 90 e 120 milhões de dólares. Em 2013, Vekselberg e a fundação mantida por ele inauguraram um museu em São Petersburgo (considerada a capital da Rússia), com mais de quatro mil peças de Fabergé e outros artistas do final do século XIX e início do século XX.
Em novembro 2007, um relógio Fabergé, conhecido como “Ovo Rothschild”, foi vendido em leilão pela Christie’s por 8,9 milhões de libras (quase 40 milhões de reais, na cotação atual), tornando-se a peça mais cara do mundo, superando os 8,6 milhões de dólares (27 milhões de reais) pagos em 2002 pelo “Ovo de Inverno”.
Há também ovos Fabergé em museus de Richmond, Nova Orleans, Nashville, Washington, Baltimore e Cleveland (todas nos EUA), em Pully (Suíça), na coleção real de Londres (Inglaterra), em Monte Carlo (Mônaco). Quatro objetos pertencem a colecionadores particulares. Os ovos Kelch estão na Rússia e na Inglaterra.