Hugh Everett III, estudante do curso de doutorado em Física na Universidade de Princeton (EUA) propôs uma hipótese radical: a existência de universos paralelos, com estrutura idêntica ao nosso. Na verdade, eles teriam surgido a partir do universo da forma como o conhecemos, que, por sua vez, também seria derivado de outros complexos estelares.
Nestes mundos à parte, o efeito de guerras que assolaram a Terra, por exemplo, seria diferente do sentido pela humanidade. Nos universos paralelos, espécies já extintas aqui continuariam se desenvolvendo e se adaptando a outras condições e, para nós, estes ambientes inóspitos poderiam ser letais.
O fato foi estarrecedor para a maioria dos cientistas. Ideias de dimensões e universos paralelos já habitavam o imaginário de escritores de ficção científica e também foram utilizados para comprovar teses da metafísica. A surpresa estava no fato de um físico promissor estar colocando seu futuro em jogo com uma hipótese muito pouco ortodoxa.
A Física Quântica
O nível quântico é o menor já registrado pela ciência na estrutura atômica. E Everett III, para sustentar a hipótese dos universos paralelos, precisava responder a uma questão bastante difícil da Física Quântica: por que a matéria quântica se comporta irregularmente?
Os estudos sobre este segmento da Física foram iniciados em 1900, quando Max Planck apresentou seu conceito ao mundo científico. Suas descobertas sobre a radiação contrariavam alguns conceitos da Física Clássica, iniciada por Isaac Newton. Estas descobertas levaram à suposição de que o universo poderia ser regido por leis ainda desconhecidas.
Em pouco tempo, físicos encontraram alterações no mundo extremamente pequeno: foram descobertos os fótons, pacotes de luz cujo comportamento era arbitrário: enquanto partículas, elas obedecem às leis da Mecânica; mas eles também se apresentam como ondas e alteram o movimento: são os fótons de energia. Entre outras coisas, com isto, foi possível determinar a velocidade da luz, antes aceita como infinita.
O princípio da incerteza de Heisenberg veio atrapalhar ainda mais o nível de conforto dos físicos. De acordo com o princípio, corroborado pela interpretação de Copenhague, as partículas quânticas não existem em um ou outro estado da matéria, mas em todos os estados de uma só vez.
Enlouquecedor? Também descobriram que não é possível determinar a posição de uma partícula em determinado momento, rompendo as relações entre tempo e espaço. Novos cientistas foram ainda além: o mundo macroscópico, das coisas extremamente grandes, também está subordinado às leis da Física Quântica.
Para o Nobel de Química Niels Bohr, quando observamos um objeto quântico, nós afetamos o seu comportamento. A exposição força a escolher um estado, tornando-se uma onda e gerando níveis mais elevados e energia.
A interpretação de Bohr, ao contrário da de Everett III, foi bem aceita pelos físicos quânticos, mas atualmente um número cada vez maior de cientistas tem voltado seus olhos para a teoria dos universos paralelos.
Os muitos mundos
Everett III também concordava com boa parte da interpretação de Bohr, mas discordava em um ponto crítico: para ele, a exposição do objeto quântico não forçava a mudança para outro estado, mas causa uma quebra no universo, que se divide literalmente em dois – e o processo se repete indefinidamente, aumentando a massa e energia.
Isto significa que alguém que já esteve sob sério risco de morte e teve de optar por dois finais para esta história já está morto em um universo paralelo. Se a teoria de Everett III estiver certa, a quebra do universo acontece mesmo quando a pessoa decide não tomar nenhuma atitude (no caso da morte iminente, seria esperar para ver o que acontece).
Outro conceito da teoria dos universos paralelos é a continuidade do tempo. Assim, em lugar de muitos fatos estarem acontecendo simultaneamente, sendo consequência de atos anteriores, as probabilidades ocorreriam em outros universos. Assim, por exemplo, em algum lugar do espaço cósmico, o Brasil nunca viveu sob uma ditadura ou teve no suicídio do presidente Getúlio Vargas uma das piores crises políticas de sua história.
Uma pessoa, porém, não tem consciência do que ocorre com seus “outros eus” nos universos paralelos. Como seria possível comprovar, então, a veracidade desta teoria?
Através da mentalização, da criação de formas mentais. A certeza é teoricamente possível: uma experiência imaginada pode comprovar ou desmentir uma ideia: e o suicídio quântico, proposta em 1997 por Max Tegmark cosmólogo sueco radicado nos EUA (onde é professor do instituto de Tecnologia de Massachusetts). Imagine o fato: um indivíduo senta-se com um revólver apontado para a cabeça. É preciso de muita criatividade: imagine agora que a arma está ligada a um aparelho que mede a rotação de uma partícula quântica.
Caso a medição indique que a partícula segue em sentido horário, a arma irá disparar; no sentido contrário, nada acontece. O indivíduo que queria se matar fica preso em um intervalo de tempo, em que tenta seguidamente tirar a própria vida. Em outras palavras, ele se torna imortal. Na verdade, segundo Tegmark, ele está vivo e morto ao mesmo tempo. O universo se divide em dois para acomodar os dois possíveis resultados da ação.
Os cientistas costumam afirmar que, como teorias assim, surgem mais perguntas do que respostas. Isto é verdade, mas também é verdade que o conhecimento humano sobre o universo – ou universos – ainda é muito acanhado.