A sabedoria popular diz que “quem conta um conto aumenta um ponto”. A lenda dos três reis magos que vieram do Oriente para visitar o menino Jesus comprova este ditado. De acordo com o Evangelho segundo Mateus, “tendo nascido Jesus em Belém, no tempo do rei Herodes, vieram a Jerusalém uns magos que perguntavam: onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Do oriente vimos a sua estrela e viemos adorá-lo”. Os demais textos que compõem o Novo Testamento não fazem menção aos magos.
O evangelho narra que estes magos, provavelmente vindos da Pérsia (atual Irã), trouxeram três presentes – ouro, incenso e mirra –, motivo por que a tradição manteve de que eram três pessoas. Alguns historiadores e teólogos afirmam que este relato foi incluído na biografia de Jesus apenas para representar a majestade (ouro), divindade (incenso) e dom da profecia do Messias (mirra), sendo assim uma descrição simbólica.
A Igreja Católica, entretanto, entende que a visita é o cumprimento de uma previsão contida nos Salmos (livro do Antigo Testamento, atribuído a Davi): “Reis de toda a terra virão adorá-lo”. Este é o motivo por que os três magos tornaram-se reis.
Herodes, governante da Judeia na época do nascimento de Jesus, sempre de acordo com Mateus, perguntou aos magos quando teria nascido o novo rei. Informado de que o fato teria ocorrido em algum momento nos últimos dois anos, este rei determinou a morte de todos os bebês do sexo masculino com menos dois anos, episódio conhecido como “a matança dos inocentes”.
Mateus pretendia confirmar que Jesus era o Messias prometido nas Escrituras. Além da visita dos reis, a morte das crianças está numa profecia citada em Jeremias: “Ouviu-se um clamor em Ramá, lamento e choro amargo. Raquel chora a seus filhos, e não se deixa consolar a respeito deles, porque já não existem”.
No Êxodo, o faraó também determinou a morte dos bebês hebreus; Moisés, que comandou o retorno do “povo de Deus” para a Terra Prometida, escapou porque sua mãe o escondeu e posteriormente colocou-o numa cesta, que foi encontrada pela filha do governante egípcio.
Jesus também escapou da matança porque um anjo alertou José, marido de Maria, a “mãe de Deus”, para que eles fugissem para o Egito e lá permanecessem até o Herodes deixasse o poder. É a confirmação de mais uma profecia, desta vez de Oseias: “Do Egito chamei meu filho, diz o Senhor”. A Sagrada Família permaneceu exilada até a morte do rei.
Apesar de o fato de os magos afirmarem que o futuro rei poderia estar com dois anos, eles foram incluídos no presépio, representação do nascimento de Jesus criada por São Francisco de Assis. A estes reis, que se existiram provavelmente foram astrólogos, já que foram guiados por uma estrela até o local em que nasceu o Messias, foram atribuídos os nomes de Baltazar, Melquior e Gaspar. No ano 4 a.C., houve uma conjunção planetária que formou a impressão de uma grande estrela brilhando no hemisfério norte, fato que pode ser tomado como prova da vinda dos magos.
No entanto, a matança dos inocentes é apenas um símbolo: o fato é hediondo demais para não ser citado por nenhuma outra fonte além de Mateus. Flávio Josefo, historiador judeu responsável pela maioria das informações sobre Herodes, autor de “Antiguidades Judaicas”, nada fala sobre o assunto, assim como as crônicas dos governantes romanos, que dominavam a região na época.
A devoção aos reis magos só surgiu na Idade Média. Seus restos mortais teriam sido trasladados de Constantinopla (atual Istambul, Turquia) para Milão, em 1164, e posteriormente para Colônia (Alemanha), onde estão até hoje, de acordo com a tradição, na catedral da cidade. Em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, os três reis magos são reverenciados no dia 6 de janeiro, o Dia de Santos Reis.