O rompimento, em Mariana (MG), da barragem da Samarco ocorreu em novembro de 2015 ainda choca pelos efeitos imediatos e posteriores. No Brasil, ele já ocupa o primeiro lugar no ranking dos piores desastres ambientais da história e serve de alerta para os cuidados necessários para a exploração dos recursos naturais.
O desastre ambiental de Mariana teve início no rompimento de uma barragem de rejeitos de minério de ferro. A Samarco Mineração S.A. é um empreendimento das duas maiores empresas de mineração do mundo: a brasileira Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Biliton.
Inicialmente, foi informado, pela empresa responsável, que duas barragens haviam se rompido, a de Fundão e a de Santarém, ambas na região rural de Mariana. Esta última, no entanto, se manteve íntegra. A tragédia vitimou 18 pessoas e ainda há um desaparecido.
Trata-se do maior desastre socioambiental do país: o Distrito de Bento Rodrigues foi totalmente destruído. O rompimento provocou ainda:
- o aumento da turbidez das águas do rio Doce, com fortes impactos no abastecimento hídrico de 230 cidades mineiras e capixabas;
- danos a monumentos do período colonial brasileiro;
- danos à fauna e à flora da região da bacia hidrográfica (inclusive, com a possível extinção de algumas espécies de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes endêmicas, isto é , que só habitam aquela região);
- prejuízos inestimáveis à indústria do turismo e da pesca em todo o curso do rio Doce.
Ambientalistas estimam que os danos causados ao oceano, que recebeu rejeitos tóxicos de minério de ferro, ainda serão sentidos daqui a cem anos. Apenas na região de Mariana, as autoridades calculam que as despesas para recuperar a infraestrutura urbana chegarão aos R$ 100 milhões.
Outros desastres ambientais brasileiros causaram danos humanos e materiais, gerando reações no mundo todo. Confira quais foram os piores desastres no Brasil e no mundo:
A Vila Socó
Na noite de 24.2.1984, os moradores da Vila Socó (atual Vila São José), em Cubatão (SP), começaram a perceber vazamentos de gasolina em um dos oleodutos da Petrobras que ligava a Refinaria Presidente Bernardes ao Terminal de Alemoa, em Santos.
O oleoduto cruzava uma região de mangue, logo à frente da Vila Socó, cujas moradias haviam sido construídas sobre palafitas. A empresa alegou falha humana para o desastre ambiental: um operador deu início à transferência do combustível para uma tubulação que estava fechada.
Este erro gerou pressão excessiva, provocando a ruptura que espalhou 700 mil litros de gasolina pelo mangue. Com a movimentação da maré, o produto altamente inflamável espalhou-se rapidamente pela região semialagada.
Alguns moradores da região, visando obter algum lucro, coletaram e armazenaram combustível em suas residências. O risco corrido era imensurável: apenas um palito de fósforo aceso ou um curto-circuito provocaria um incêndio de dimensões incalculáveis.
Era a crônica de uma tragédia anunciada. Duas horas depois do começo do vazamento, o fogo se espalhou pelo alagado, atingindo as estacas das palafitas. O número oficial é de 93 vítimas fatais, mas alguns estudos indicam que mais de 500 vidas foram perdidas.
Muitas famílias nunca receberam corpos reclamados de parentes desaparecidos. O total de feridos não chegou a ser computado, mas 500 barracos foram destruídos pelo fogo.
Contaminação por radioatividade
O acidente com o césio 137 está entre os piores desastres ambientais da história brasileira e é o pior acidente com material radioativo ocorrido fora de usinas nucleares. O episódio foi classificado no nível 5 na Escala Internacional de Acidentes Nucleares (que vai de zero a sete). A contaminação começou a ocorrer em setembro de 1987, quando um equipamento utilizado em radioterapias (tratamentos para eliminar tumores malignos) foi encontrado em uma clínica médica abandonada, no centro de Goiânia (GO).
O instrumento foi encontrado por coletores de material reciclável, que entenderam tratar-se de sucata. Os trabalhadores desmontaram o aparelho e revenderam-no em diversos pontos da capital goiana, ampliando a área de exposição do césio 137.
Em apenas algumas horas, alguns moradores que entraram em contato com o material começaram a procurar postos de saúde, acometidos por vertigens, náuseas, vômitos e diarreias. Os profissionais de saúde acreditaram, no entanto, tratar-se de apenas uma virose, medicando os doentes apenas para atenuar os sintomas.
Posteriormente, uma das vítimas começou a desconfiar que o “pó azul” que emitia um brilho estranho era o responsável pelos problemas de saúde. Apenas 16 dias depois da exposição inicial ao césio 137, foi emitido o alerta de contaminação por material radioativo de milhares de pessoas.
Em 2012, a Associação das Vítimas do Césio 137 publicou denúncia afirmando que, desde 1987, mais de cem pessoas contaminadas haviam morrido em função de câncer e cerca de 1.600 moradores de Goiânia foram afetados diretamente.
Os desastres ambientais, no entanto, não são uma prerrogativa brasileira. Eles se espalham pelo mundo todo, em função de falhas humanas, do emprego de tecnologias inadequadas ou defasadas ou de calamidades naturais, como maremotos e terremotos.
Vazamento radioativo
Mayak é um complexo industrial ainda em atividade, considerado uma das maiores instalações nucleares da Rússia. O empreendimento enriquece plutônio e opera uma usina de reprocessamento nuclear. Fica a 150 quilômetros de Ecaterimburgo. O município mais próximo é Ozyorsk, onde estão as instalações administrativas.
Em 1957, Mayak foi palco de um dos piores desastres ambientais da história, com reflexos semelhantes aos da detonação de uma bomba atômica. Uma explosão (de motivos não conhecidos) dispersou entre 50 e 100 toneladas de resíduos altamente radioativos. O governo soviético manteve o acidente em segredo durante 30 anos.
As condições de trabalho e a falta de consciência ambiental contribuíram para aumentar ainda mais os prejuízos. Os resíduos nucleares não chegaram ao Ocidente graças apenas aos montes Urais, que provocaram a sua concentração no norte e centro da Rússia.
Os resíduos atingiram o lago Karachai, contaminando as águas e os peixes. Nos 45 anos seguintes à explosão, estima-se que 400 mil pessoas tenham sido afetadas pelos acidentes em série que se verificaram desde a explosão inicial.
Em 1960, Mayak tornou-se motivo de outro incidente, desta vez diplomático: o complexo industrial foi alvo de uma mal sucedida missão de espionagem dos EUA, o que provocou problemas em vários países e serviu para agravar a Guerra Fria.
Erro espontâneo
A pequena cidade de Seveso, uma província de Milão, no norte da Itália, tornou-se infelizmente famosa em julho de 1976. Tanques de estocagem da empresa ICMESA (já extinta), que operava desde 1924 na produção de material químico, se romperam, causando a liberação para a atmosfera de vários quilos da dioxina TCDD.
O produto rapidamente se espalhou por uma região entre a planície Lombarda e o lago de Como. Em função da contaminação, três mil animais morreram imediatamente e outros 70 mil animais tiveram de ser sacrificados, para evitar a entrada da dioxina na cadeia alimentar. Não há registros de mortes humanas, mas 200 pessoas da região apresentaram cloracne, uma afecção de pele.
O acidente ocorreu em um sábado, quando não havia expediente na fábrica e nenhum processo estava em andamento. Especialistas afirmam que os produtos químicos deixados na caldeira espontaneamente entraram em processo de aquecimento, gerando calor e energia suficientes para uma reação plena: uma explosão.
Em águas profundas
Deepwater Horizon (DH) era o nome de uma torre de extração de petróleo localizado em águas ultraprofundas, com o objetivo de extrair petróleo do subsolo do oceano. Em setembro de 2009, a DH se tornou o poço petrolífero mais profundo de todo o planeta.
O poço, de propriedade da empresa Transocean e arrendado para a British Petroleum, foi construído em 2001 e instalado no golfo do México.
Meses depois, no entanto, a DH submergiu, em decorrência de uma explosão ocorrida no dia 22.4.2010. Uma das sondas, cujo revestimento havia sido cimentado com pasta nitrogenada, provocou uma reação química: em contato com gases do poço, a pasta nitrogenada simplesmente incendiou-se.
Entre as vítimas, ocorreram 11 mortes e 17 foram encaminhadas a hospitais. O derramamento de petróleo prejudicou seriamente o hábitat de centenas de espécies de aves, peixes, moluscos e crustáceos. A maior parte do óleo perdida nunca foi recuperada.
Em julho de 2010, 87 dias depois do incêndio, a British Petroleum informou oficialmente que havia conseguido estancar em parte o vazamento de petróleo, com a instalação de novas válvulas e a substituição das tubulações avariadas.
Em conclusão
Desastres ambientais de grandes ou médias proporções não afetam apenas as localidades em que são registrados. O impacto sobre os homens, animais e plantas de algumas destas tragédias poderão nunca ser mensurados em sua totalidade.
A preocupação com a ecologia não é “conversa de intelectuais”. Uma barragem pode se romper a algumas quadras da nossa casa, uma espécie animal pode ser extinta, causando danos sérios a vários membros da cadeia alimentar. Os cidadãos do mundo todo estão convocados a fiscalizar o trabalho de empresas, políticos e autoridades – e de varrê-los no panorama nacional, caso não cumpram as suas funções junto à sociedade e à natureza.