“Ver Paris e depois morrer” é o lema de muitos turistas internacionais que elegem a França como o destino turístico mais desejável do mundo. Os EUA aparecem em segundo lugar no ranking e o Brasil, em 44º, com uma média de 5,6 milhões de habitantes por ano. No final da lista, surgem locais pouco conhecidos por falta de divulgação e ou pouco desejados por instabilidade política. No entanto, é quase impossível por que alguns países estejam entre os menos visitados do mundo.
Pobreza e guerra
O “Chifre da África” é constituído por quatro países do leste do continente: Etiópia, Eritreia, Somália e Djibuti. É uma das regiões mais instáveis e menos visitadas do mundo. No início dos anos 1920, em função dos governos ditatoriais e das muitas tentativas de golpe de Estado.
Para citar um exemplo, a Etiópia foi governada pelo lendário Hailé Selassiê durante mais de 40 anos (em que a Eritreia integrava o país), inclusive durante a Segunda Guerra Mundial, período em que, em tese, a Itália fascista ocupava o território.
A Somália era relativamente estável até os anos 1990, mas um barril de pólvora sem hora para explodir. Depois da morte do ditador Siad Berre, em 1991, conflitos separatistas explodiram e forças pacificadoras da ONU tentaram neutralizar os confrontos (sem sucesso). O motivo principal é que a Europa, no século XIX, dividiu o continente artificialmente.
Eram usados limites arbitrários: “daqui até o rio é meu; depois é seu”; a pior parte é que a terra não é – nem nunca foi –de nenhum invasor europeu. Quando surgiram movimentos de independência, as fronteiras foram mantidas, mas não havia identidade nacional.
A Eritreia se declarou independente em 1997, criou um exército e uma moeda nacional e entrou em guerra com a Etiópia. A separação dos dois Estados aconteceu em 2000 e o novo país ficou com todo o litoral da antiga nação. Mesmo assim, não deu certo: em 2002, seca, fome e doenças passaram a ser comuns no cotidiano do país.
Djibuti – o antigo território francês dos afares e issas – tornou-se o único porto por onde os produtos de exportação da Etiópia poderiam escoar. Fica no mar Vermelho, região infestada por piratas modernos, mas quem não tem cão, caça com gato (o ditado está errado, mas esta é outra história).
Visitantes de Djibuti, no entanto, encontram razões para que o país saia da lista dos menos visitados do mundo. É sujo e seco demais, a alimentação é precária e água, só engarrafada. Mas o país abriga a maior depressão da África (o lago Assal, 157 metros abaixo do nível do mar) e é um point obrigatório para mergulhadores: o mar Vermelho oferece uma das maiores diversidades de corais do mundo todo.
Explosivos
Guerras sempre afastam turistas. É o caso do Sudão do Sul, talvez o país mais novo do mundo (região autônoma desde 1972, que se tornou um Estado independente apenas em 2011). É a primeira noção a violar o princípio “uti possidetis”, outra “herança maldita” da colonização europeia, segundo a qual as fronteiras estabelecidas não poderiam ser alteradas.
O Sudão do Sul (ou novo Sudão) dividiu o país ao meio e reivindicou a imensa maioria dos depósitos de petróleo, além dos portos. Combinação explosiva. A região está relativamente estável, mas os turistas têm evitado visitar.
Outros explosivos – desnecessários, mas ainda inexistentes –, impedem passeios por algumas regiões da África. É o caso de Angola, cuja guerra civil depois da independência deixou mortos 8% da população em acidentes com minas terrestres. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a neutralização total dos artefatos bélicos deve durar mais 50 anos.
Depois de intensos debates, 122 países signatários da ONU concordaram em banir minas terrestres – um artefato bélico barato e de fácil fabricação, mas de cara retirada – falando financeiramente e também em vidas humanas. Os artefatos são enterrados e, por isto, as bombas não detonadas podem causar sérios danos em atividades simples, como a agropecuária.
Oriente Médio: belicismo máximo
As guerras modernas no Oriente Médio tiveram início no final da Segunda Guerra Mundial. As potências hegemônicas da região – Império Turco e Império Britânico – se retiraram (o Império Turco Otomano entrou em colapso total com a vitória dos aliados), permitindo, ao menos em tese, a fundação de um império judeu e outro palestino.
Alguns países, como Arábia Saudita, Líbano e Síria, retomaram a sua autonomia. Em 1948, por resolução da ONU, foram definidas as fronteiras de Israel e da Palestina. Até hoje, apenas o primeiro se tornou realidade. Judeus e árabes se mantêm em estado de guerra desde então (apenas o Egito assinou um tratado de paz com Israel).
Os conflitos começaram no fim do século XIX, quando se verificou migração em massa de judeus europeus para a Palestina. Com a independência, árabes e judeus se enfrentaram em 1948 (os árabes rejeitaram o plano de partilha proposto pela ONU), 1956, 1967 (a Guerra dos Seis Dias), 1973 e 1982. Com tantas guerras, é natural que os turistas tenham desaparecido.
No entanto, o Oriente Médio é uma região de alto interesse histórico e cultural. A herança do império egípcio – as pirâmides, o Vale dos Reis, etc. –, a Terra Santa, com relíquias do início da Era Cristã, portos importantes (como Tiro, no Líbano), cidades que ficaram no tempo (como Petra, na Jordânia) ou que existem até hoje (como Damasco, na Síria, e Jericó, na Palestina), seriam pontos turísticos imperdíveis, se não fosse a insegurança da região.
O mar Vermelho (Egito), na divisa do continente africano, é outro lugar imperdível. De acordo com o Talmude (livro religioso dos judeus), “dez partes de magia foram jogadas no mundo; nove caíram no Egito”.
Os passeios de barco e os mergulhos (é um dos melhores lugares do mundo para avistar corais) colocam este recorte intercontinental entre os lugares imperdíveis do mundo. O contraste entre as areias vermelhas e as águas de um azul profundo são uma visão obrigatória.
Para finalizar as maravilhas do Oriente Médio, uma metrópole às margens do rio Tigre, provável berço da civilização humana: Bagdá, capital do Iraque, a terra de histórias de 1.001 noites. Não se sabe ao certo quando foi fundada, mas sua história remonta pelo menos ao século VIII. O nome, no entanto (que significa “dádiva de Deus”) provavelmente tem origens persas.
O Iraque, no entanto, está envolvido em guerras desde 1980. Primeiro, contra o Irã (1980-1988), quando contou com o apoio dos EUA. Em 1990, o Iraque invadiu o Kuwait, sob a acusação de que o pequeno emirado estava roubando petróleo iraquiano através de perfurações profundas. Foi a vez de o Ocidente se voltar contra Saddam Hussein, o ditador do país. Por fim, em 2003, os EUA depuseram o ditador, deixando o país em uma profunda crise, existente até hoje.
O centro do Iraque é a Mesopotâmia, terra que viu florescer as primeiras civilizações: sumérios, caldeus, assírios e babilônios. Posteriormente, foi ocupada pelos persas e gregos. Todos estes povos deixaram marcas arquitetônicas e culturais, mas o risco de um conflito, ou mesmo de um ataque-bomba, riscam o Iraque do mapa turístico. Ao menos por enquanto.
Infraestrutura e burocracia
Ilha da beleza, ilha do esplendor. É assim que começa o hino de Dominica, um Estado insular do Caribe. É a ilha mais recente das Pequenas Antilhas e ainda apresenta forte atividade vulcânica. No início da colonização europeia, Dominica permaneceu isolada, um refúgio para os caribes que fugiam dos muitos espanhóis, franceses e holandeses que dominaram a região.
A ilha é pequena (750 quilômetros quadrados) e sem estrutura para receber turistas. Além disto, o aeroporto local só permite o pouso de aviões pequenos. Além disto, Dominica está na região dos furacões, o que a contraindica nos meses de julho a outubro.
No entanto, Dominica vale a viagem. Na verdade, a ilha é um imenso monte cujo pico está acima do nível do mar e, por isto, reúne praias com recifes de corais, florestas tropicais (o papagaio-imperial é a ave-símbolo do país) e montanhas. Roseau, a capital e maior cidade de Dominica, tem apenas 15 mil habitantes, o que confere um ar rural à região.
Nauru, na Oceania, tem área de apenas 21 quilômetros quadrados, o que lhe confere o título de menor país insular do mundo. O solo é rico em fosfato, fonte principal da economia durante quase um século. Mas o mineral deixou de ser comercialmente viável e o país entrou em crise.
A ilha recebe apenas 200 turistas por ano. Além do mar, não tem grandes atrativos. Mesmo assim, o governo exige visto de entrada, apesar de quase não haver representações diplomáticas, o que torna a chegada bastante burocrática.
Mesmo assim, vale a pena: os recifes a oeste de Nauru ficam visíveis da praia com a maré baixa, oferecendo um show de golfinhos. Além disto, a altitude máxima é de 65 metros; com o efeito estufa e a elevação do nível dos mares, Nauru (que, para alguns linguistas, significa “vou à praia”) deve ser um dos primeiros locais a ser varrido do mapa terrestre, juntamente com seu vizinho Kiribati, um arquipélago formado por 21 ilhas e centenas de atóis.
Não dá para entender
Quase é possível visualizar Julie Andrews cantando e dançando pelas pradarias no alto das montanhas. O Principado de Liechtenstein, de apenas 160 quilômetros quadros e 34 mil habitantes, está encravado entre a Suíça e a Áustria.
Liechtenstein ocupa o mesmo território desde o século XV e é governado pela mesma dinastia, que leva o nome do país. É considerado um dos Estados mais ricos do mundo e frequentemente aparece na mídia, com seus bancos envolvidos em lavagem de dinheiro.
Apenas 53 mil turistas visitam o país a cada ano. Apesar das paisagens belíssimas, das pistas de esqui, das fortalezas medievais e do imponente Castelo de Vaduz, Liechtenstein impressionantemente não atrai muitos visitantes. Não dispõe de aeroporto, mas pode-se chegar facilmente a partir de Zurique (Suíça). Existem linhas de trem e, para os mais bem dispostos, é possível chegar pedalando. Só este passeio já vale a viagem.