O tabaco já era utilizado pelos índios americanos na era pré-colombiana e tornou-se muito popular na Europa, inicialmente em Portugal e Espanha e depois em todo o continente. O gênero das plantas que são matéria prima para os cigarros – Nicotiana – é uma homenagem ao embaixador francês em Portugal, Jean Nicot, que introduziu a droga em seu país. Na época, o cigarro era considerado eficaz no combate à enxaqueca. Na verdade, o tabaco possui algumas propriedades terapêuticas, mas os males provocados por 4.500 substâncias tóxicas tornam o fumo totalmente contraindicado.
Entre as substâncias presentes nas folhas de Nicotiana estão o alcatrão, urânio e polônio 210 (estes dois últimos elementos radioativos). Além disto, 43 substâncias são reconhecidamente cancerígenas e não há níveis seguros para o consumo de nenhuma delas. Não se pode afirmar que quem fuma irá desenvolver um câncer (os mais comuns são o de pulmão, boca, traqueia e laringe), mas, se houver propensão genética, as probabilidades são exponencialmente ampliadas.
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Apesar de a produção e comercialização dos cigarros serem permitidas por lei (graças à arrecadação de impostos, que deverão representar 74% do preço ao consumidor em 2015), a nicotina é uma droga que vicia em pouco tempo e causa dependência física e psicológica. A produção de neurotransmissores é reduzida quando um fumante fica em abstinência – a famosa fissura –, reduzindo a atenção, criatividade e aumentando a ansiedade. A nicotina chega ao cérebro mais rapidamente que a cocaína.
Nas questões emocionais, o cigarro é uma importante “muleta psicológica”. Ao acender um cigarro, o dependente dá uma utilidade às mãos, naqueles momentos em que não sabemos o quer fazer com elas. O fumo também permite pausas estratégias – para dar uma tragada – naquelas conversas difíceis e mesmo em reuniões de negócios.
No Brasil, o tabagismo – que é considerado uma doença – é responsável por 120 mil mortes ao ano. Mesmo assim, o cigarro foi glamurizado durante décadas, inicialmente pela indústria cinematográfica americana, fato depois copiado no mundo inteiro. Nas telas dos cinemas, heróis e mocinhas apareciam mais fortes e sensuais com as muitas baforadas que expeliam de seus mal cuidados pulmões. James Dean apareceu com um cigarro na boca ou entre os dedos em praticamente todas as cenas de “Assim Caminha a Humanidade” (1956). Dez anos antes, Rita Hayworth fez um dos stripteases mais sensuais da história do cinema – tirando apenas uma luva – entre nuvens de fumaça.
Com a popularização da TV – especialmente depois da introdução do videoteipe, nos anos 1960 –, a propaganda serviu para conquistar novos fumantes, com slogans como “um raro prazer”, “ao sucesso”, “preferência nacional”. Nos EUA, o slogan “Os Homens se Encontram em Marlboro”, criado para popularizar os cigarros com filtro (considerados femininos demais pelos consumidores) conquistou os homossexuais masculinos. Mas o “homem de Marlboro”, que protagonizava os anúncios comerciais, morreu de câncer aos 51 anos.
As indústrias patrocinavam eventos culturais e esportivos, como a Fórmula 1, campeonatos de futebol, o Carlton Dance e o Free Jazz Festival. As coisas começaram a mudar nos anos 1980, com o banimento progressivo da publicidade dos cigarros, em face das inúmeras pesquisas científicas demonstrando os males do tabaco.
Não é apenas o câncer que deve preocupar os fumantes. Os princípios ativos da droga constringem os vasos sanguíneos, provocando a aceleração dos batimentos cardíacos e da pressão arterial. O coração precisa pressionar o sangue com mais força e isto, no médio prazo, pode significar doenças cardiovasculares.
O cigarro ainda está relacionado a muitos outros males: aterosclerose, bronquite, enfisema pulmonar, aneurisma da aorta, estomatite, catarata, diabetes, otite, amigdalite, osteoporose e sinusite. Mulheres grávidas podem sofrer abortos espontâneos e sofrer com a pré-eclâmpsia, relacionada à hipertensão arterial. Além disto, filhos de mães fumantes nascem com menos peso e sofrem com a síndrome de abstinência: eles já nascem dependentes da droga. Ao todo, o fumo está relacionado a 50 doenças diferentes.
Quanto mais tempo a pessoa fuma, mais difícil é largar a adicção. Especialistas calculam que o tempo para a redução das probabilidades de doenças é o mesmo: uma pessoa que tenha fumado entre os 20 e 40 anos só terá condições de saúde semelhantes às de um não fumante quando alcançar os 60 anos.
Mesmo assim, os benefícios de abandonar o vício são rápidos. Em poucos dias, a pessoa recupera o fôlego, em seguida o paladar e o olfato são recuperados e o dependente em recuperação passa a sentir sabores e aromas há muito tempo esquecidos. Isto ocorre porque, deixando o cigarro, o fumante também deixa de inalar imensas porções de monóxido de carbono – o mesmo gás que sai dos escapamentos dos carros –, que reage com a hemoglobina do sangue e reduz a oxigenação das células.