As Olimpíadas são realizadas desde 1896. A cada dois anos, são disputados jogos internacionais, num revezamento de jogos de verão e de inverno. São uma homenagem aos antigos jogos de Olímpia, na Grécia, realizados entre os séculos VIII a.C. e V d.C. No entanto, além dos momentos emocionantes que os jogos propiciam, também já ocorreram muitas trapaças, roubos e azares. Por acaso ou não, muitos atletas e assistentes cometeram grandes micos olímpicos.
Em 1904, a cidade de Saint Louis (EUA) sediou os Jogos Olímpicos. O trajeto da maratona tinha nada menos do que sete subidas. O corredor americano Fred Lorz não aguentou o ritmo e, 15 quilômetros depois da largada, aceitou uma carona de seu empresário. Descansado e reanimado com líquidos, ele só voltou a correr nos últimos 12 quilômetros.
Com o tempo de três horas e 13 minutos, ele entrou no estádio em primeiro lugar, comemorando a vitória. Mas os fiscais desconfiaram da excelente performance – o segundo colocado, Thomas Hicks, só chegou 19 minutos depois, em péssimas condições físicas. Lorz acabou confessando a trapaça.
Foi banido do esporte, mas perdoado meses depois. No ano seguinte, ele venceu legitimamente a maratona de Boston, também nos EUA.
A confusão nesta maratona não terminou só aí: o cubano Félix Carvajal teve sua bagagem perdida na viagem para a cidade sede. Chegou à competição com roupa social e botas. Alguns atletas ajudaram-no a cortar a calça e camisa e emprestaram sapatilhas. O corredor chegou em quarto lugar. Poderia ter vencido, se não tivesse parado no trajeto para colher pêssegos e maças.
Problemas com a agenda
O calendário gregoriano foi criado em 1582, para corrigir uma defasagem de dez dias entre a folhinha adotada pela Europa e o ano solar real. Como foi uma providência tomada pelo papa católico, os países protestantes e ortodoxos demoraram a adotá-lo: os ingleses só se submeteram à nova contagem dos dias em 1752, enquanto os russos o fizeram apenas depois da Revolução Comunista, de 1917.
A equipe de tiro soviética se inscreveu para os Jogos de Londres, em 1908, quando a Rússia ainda seguia com o calendário juliano. Resultado: os atletas só chegaram à capital inglesa dias depois de a prova ter sido realizada, após uma longa viagem pelos mares Báltico e do Norte.
Ainda em Londres
Na mesma edição dos Jogos Olímpicos, o canadense George Lyon viajou para Londres para defender o título olímpico conquistado em Saint Louis. O atleta é uma lenda do golfe: entre 1898 e 1930, ele obteve mais de 20 títulos canadenses e internacionais.
Nesta época, os melhores atletas de cada modalidade eram convidados a participar dos Jogos. Lyon e outros 51 golfistas ingleses e escoceses iriam participar da competição, mas os britânicos não conseguiram se entender sobre as regras da disputa. O comitê organizador decidiu dar a medalha de ouro ao canadense, que recusou o prêmio. Desde então, o golfe nunca mais voltou a figurar entre os esportes olímpicos.
A vontade do rei é lei
Em 1920, os Jogos foram disputados em Antuérpia (Bélgica). O corredor francês Joseph Guillemot venceu os cinco mil metros do campeonato da França e, mesmo sem grande expressão internacional, qualificou-se para as corridas de cinco mil e dez mil metros nas Olimpíadas.
O franco favorito para as duas competições era o finlandês Paavo Nurmi, que, nos cinco mil metros, imprimiu um ritmo forte para cansar seus principais rivais, os suecos. Apenas Guillemot o acompanhou. A estratégia de Nurmi acabou não dando certo e o francês cruzou a linha de chegada quatro segundos antes, obtendo o ouro.
Na prova seguinte, de dez mil metros, todas as atenções estavam voltadas para Guillemot. A corrida foi antecipada em três horas, a pedido do rei belga, mas o francês não foi informado.
Acabou correndo logo depois de uma refeição – e com sapatos grandes demais, porque os seus haviam sido roubados. Obteve o segundo lugar, atrás do finlandês. No pódio, com fortes cãibras no estômago, o francês não suportou e despejou o conteúdo do almoço em cima de Nurmi, numa cena digna de “O Exorcista”.
Saia justa
Amsterdã 1920. A nadadora alemã Hildegard Schrader saltou para a prova dos 200 metros e imediatamente percebeu que a alça do maiô havia se rompido. A atleta nadou toda a prova com um seio descoberto e venceu a prova, talvez pela pressa de sair da situação constrangedora, principalmente para a época.
Antes da premiação, outras atletas providenciaram agulha e linha para Schrader, que costurou o maiô sem sair da piscina.
Naturalismo em alta
Na primeira Olimpíada do pós-guerra, em Londres (1948), um nadador paquistanês chegou à piscina para uma das classificatórias dos cem metros livre. Ao tirar o roupão, o atleta percebeu que havia se esquecido de vestir a sunga.
Para disfarçar, atirou-se na água, mas os juízes perceberam e ele foi desclassificado.
Medalha para os peixes
Viktor Ivanov participou da prova de remo “dois sem” nas Olimpíadas de Melbourne, realizadas em 1956. Empolgado com o segundo lugar obtido, o atleta arremessou a medalha para o alto. Não foi uma boa comemoração: o prêmio foi para no fundo do lago Windouree, local onde foi realizada a prova.
Equipes de busca tentaram sem sucesso recuperar a medalha. Como consolação o comitê providenciou uma de reposição para o atleta soviético.
O hino, o hino!
Em 1964, atletas africanos – especialmente os etíopes e quenianos, sempre em destaque na Corrida de São Silvestre, no Brasil – não eram muito conhecidos mundialmente. Nas Olimpíadas de Tóquio, Abebe Bikila, da Etiópia, mesmo tendo vencido os Jogos de Roma (1960) correndo descalço, não empolgou os organizadores japoneses, que o obrigaram a usar sapatilhas.
Bikila venceu a maratona, superou seu próprio recorde olímpico de 1960 e viu o segundo corredor terminar a prova apenas quatro minutos depois dele. No entanto, o comitê não havia providenciado a partitura do hino etíope. Na hora de receber a medalha, a banda teve que improvisar: executou o hino japonês, com um africano no alto do pódio.
O esquecimento do hino já havia ocorrido anteriormente: em 1952, o luxemburguês Joseph Barthel venceu os 1.500 metros, teve que receber a medalha no completo silêncio, porque os organizadores não encontraram a música.
Choro sentido
Nos jogos de Munique 1972, a bielorrussa Olga Korbut, competindo pela URSS, caiu durante a exibição nas barras assimétricas. A atleta tinha 17 anos, aparência de pré-adolescente; não resistiu e caiu no choro.
Emocionado com a cena, um espectador saltou na área de apresentação e deu flores para a jovem, que acabou levando quatro ouros na volta para casa.
Zero, zero, zero
Alan Wong, de Hong Kong, cravou um recorde inédito nos jogos de Seul 1988: conseguiu obter cinco notas zero, o pior desempenho de um atleta olímpico em mais de cem anos de história, ao saltar do trampolim de três metros. Ficou em 35º lugar, entre 35 atletas.
Para se justificar, Wong disse que perdeu a concentração depois que o americano Greg Louganis bateu a cabeça ao fazer sua exibição (o chinês de Hong Kong era o seguinte na lista de apresentação). Ele terminou o salto batendo violentamente as costas na água. Sua entrada foi tão desastrosa que deixou os juízes ensopados. O ouro foi para Louganis, mesmo com o acidente no primeiro salto.
Na mosca!
Em Atenas 2004, na prova carabina três posições (em que os atletas devem atirar deitados, de joelhos e em pé), o americano Matthew Emmons seguia na liderança, mas, na terceira rodada, ele conseguiu a proeza de acertar o alvo de Christian Planner, o austríaco que estava ao seu lado no estande.
Emmons conseguiu apenas um oitavo lugar e Planner, que estava em quinto, conseguiu subir ao pódio e levar o bronze da competição.
O padre maluco
No encerramento desta mesma edição dos jogos, o brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima liderava a maratona com 40 segundos de vantagem sobre o segundo colocado. No 36º quilômetro da prova, aconteceu o improvável: o fanático religioso e ex-sacerdote irlandês Cornelius Horan invadiu a rua, atacou e derrubou o corredor, tendo imobilizado por torcedores que acompanhavam a competição.
Vanderlei perdeu o ritmo e a concentração, mas mesmo assim terminou a prova em terceiro lugar. Ele foi aplaudido de pé pelos milhares de espectadores do Estádio Panathinaiko. Em 2008, o maratonista recebeu a medalha Barão de Coubertin, concedida a atletas que valorizam o espírito olímpico. É o único brasileiro – e um dos poucos esportistas – que já recebeu esta homenagem.
Cadê a vara?
A brasileira Fabiana Murer é uma das maiores saltadoras do mundo. Em 2008, em Pequim, ela detinha o recorde mundial do salto com vara: 4,80 metros.
No entanto, no momento de se apresentar, a atleta percebeu que uma de suas varas havia sumido: foi extraviada, roubada ou ocultada. Muito irritada e desconcentrada, Murer fracassou nas três tentativas de ultrapassar os 4,65 metros, sendo eliminada da competição.
Micos olímpicos ocorrem também por motivos políticos. Em plena Guerra Fria, os EUA boicotaram os jogos de Moscou 1980. Para se vingar, a ex-URSS não enviou seus atletas para Los Angeles em 1984. Eram as duas maiores potências esportivas (e bélicas) da época.
Ainda em Moscou: os organizadores marcaram as corridas de 1.500 e 5.000 metros para a mesma data e hora. Atletas que se classificaram para as duas provas tiveram que optar por apenas uma e, como o ritmo dos atletas é diferente, os corredores dos 1.500 metros foram prejudicados.
De acordo com a tradição, a chama olímpica deve arder desde o momento em que é acesa, em Olímpia, até chegar à cidade-sede, para a qual é transportada por centenas de atletas. Mas por duas vezes, em 1996 (Atlanta) e 2004 (Grécia), o fogo se apagou. O jeito foi levá-la de volta ao fogo sagrado, reacendê-la e iniciar novamente o trajeto.