Roubar vai contra toda ética – ao menos, nos países civilizados da atualidade. Mesmo assim, alguns roubos, seja pela desenvoltura dos ladrões, pela audácia dos planos, seja pela dificuldade de operacionalização, acabam nos fascinando: são os maiores assaltos da história.
Desde o lendário Robin Hood, alguns famosos criminosos entraram para a história envolvidos em um clima de glamour: os piratas, Arsène Lupin, Al Capone, Butch Cassidy e Sundance Kid, Bonnie e Clide e o nosso brasileiríssimo Lampião são algumas das personalidades que nos seduzem: claro, com um verniz de mistério emprestado pela literatura e o cinema. A cantora Zélia Duncan afirmou: “a alegria do pecado às vezes toma conta de mim e é tão bom não ser divina”. Talvez isto explique. Não justifica, mas explica nossa fascinação pelo “lado negro”.
Quem nunca torceu contra o agente do Tesouro Americano Eliot Ness em sua caçada contra os gângsteres que aterrorizavam a Chicago dos anos 1920 e 1930, que atire a primeira pedra. O único vilão indefensável das artes é o capitão Gancho, mas talvez seja por que Peter Pan sempre mantinha a molecagem e irreverência quando destruía os planos do pirata.
Mas vamos falar de personagens reais, que provocaram muitos prejuízos a dezenas ou milhares de pessoas – ou, ao menos, às companhias seguradoras. Muitos deles tiveram morte trágica, outros se entregaram à polícia apenas ao final da vida e alguns poucos morreram serenamente na cama. Os valores das rapinas estão atualizados para a cotação atual do dólar e as malfeitorias de políticos de “alguns lugares” não puderam ser contabilizadas.
High society
Em Nice, França, em julho de 1976, uma quadrilha liderada por Albert Spaggiari conseguiu cava um túnel entre os esgotos da cidade e os cofres do Banco Societé Générale, instalados em um subterrâneo e considerado inviolável. Roubaram 9,8 milhões de dólares. Os ladrões, entre eles Gaby Anglade, que tentou matar, anos antes, o presidente Charles Gaulle, passaram quatro dias aproveitando as delícias da alta sociedade, como caviar e vinhos.
Antes de deixar o cofre, o chefe da gangue escreveu em suas paredes: “sem ódio, sem armas, sem violência”. Spaggiari chegou a ser capturado, mas conseguiu escapar da cadeia e fugir do país. Ele teria morrido 13 anos depois, de câncer, eu seu refúgio (ou esconderijo) na Argentina.
Ao sol da costa Brava
Os policiais locais estão tão acostumados com o vaivém de turistas em Marbella, um roteiro dos que procuram o sol e o mar do Mediterrâneo na Espanha, que nem se incomodaram com o trio de visitantes que ocupou um apartamento de veraneio por alguns dias, em dezembro de 1982. O local é destino de famosos, como o jogador David Beckham.
O problema é que o trio de italianos hospedou-se em um hotel vizinho ao Banco Andalucía e parecia não estar muito interessados em curtir a cidade: passavam quase o tempo todo no apartamento. O motivo? Eles cavaram um túnel, derrubando uma parede, até o local dos cofres particulares. 15 milhões de dólares foram surrupiados, depois de abrir mais de 200 cofres da agência.
No entanto, os bandidos deviam ser muito amadores: eles se hospedaram no hotel e marcaram o voo de volta com os próprios nomes, o que facilitou bastante a ação da polícia: com tantas pistas, eles foram presos em poucos dias.
Muito dinheiro no bolso…
Aproveitando o clima das festas de fim de ano, uma quadrilha aproveitou para agir em dezembro de 1992. Fortemente armados, os bandidos invadiram uma agência do Banco da França, em Toulon, entre a costa e os Alpes. Ameaçaram destruir o local com explosivos presos a um segurança do banco. A agência estava lotada de clientes no momento.
Os ladrões, com informações obtidas através de um empregado e tendo sequestrado a família de um vigilante, escaparam depois de 20 minutos, levando 30 milhões de dólares. Apenas 20% de todo este dinheiro foram recuperados.
Na hora do rush
No meio do trânsito de Manchester (Inglaterra), que está longe de figurar entre os melhores do mundo, o Midland Bank sofreu um prejuízo de 12,6 milhões de dólares. O fato aconteceu em julho de 1995: os ladrões imobilizaram o motorista, arrancaram-no do volante e desapareceram sem deixar qualquer rastro, façanha difícil até para os mais experientes pilotos.
A polícia inglesa não conseguiu obter qualquer informação sobre o paradeiro do bando. Sobrou para o motorista, que foi preso sob alegação de facilitação de roubo. O pobre coitado foi condenado a 14 de detenção, mas o processo foi revisto dois anos depois e ele foi libertado por falta de provas.
Viu malotes de dinheiro por aí?
Em fevereiro de 2002, no Aeroporto de Heathrow, em Londres, o mais movimentado da Europa, foram roubados 12,6 milhões de dólares. Uma gangue rendeu um motorista da empresa aérea British Airways. O dinheiro estava a bordo de um jatinho proveniente de Bahrein e deveria ser embarcado para o seu destino final.
Os gatunos imobilizaram o motorista do carro-forte, deixaram-no no chão do aeroporto, pegaram os malotes e desapareceram. O assalto chegou a reacender as discussões sobre a segurança de Heathrow, que já passava por reavaliação desde os atentados aos EUA em 11.9.2001. Testemunhas afirmaram que a van usada no roubo tinha o logotipo da aérea na lataria. A única pista encontrada pela polícia foi o veículo, incendiado em uma estrada próxima. Quanto ao dinheiro, nada.
Coisas do Brasil
Não é mania de grandeza, mas uma quadrilha de brasileiros conseguiu roubar 165 milhões de reais, em notas de R$ 50, em uma única ação. Na madrugada de 7.8.2005, 23 homens carregaram esta fortuna do Banco Central de Fortaleza, capital do Ceará.
O planejamento foi sofisticado: o bando comprou uma casa nas imediações da agência e comprou uma empresa de fachada, para não levantar suspeitas. Cuidadosamente cavou um túnel com sistema de ventilação e iluminação, de 78 metros de comprimento – um prodígio, que levantou a suspeita da presença de engenheiros, ao menos na construção.
Mais de 40 pessoas foram presas. Muitas passaram a ostentar sinais de riqueza, como carros importados. Muitos suspeitos foram presos por falta de evidências de envolvimento e estima-se que apenas 20 milhões de reais tenham sido resgatados.
No topo do ranking
O ouro não é nosso: ele cabe aos ingleses. Mas temos uma participação, ao menos no destino dado ao dinheiro roubado. Em 1963, Bruce Reynolds ouviu contar, por meio de um companheiro de cela, sobre uma rota ferroviária que transportava altos valores em dinheiro vivo e títulos entre a Escócia e a Inglaterra. Ao sair da cadeia, já tinha um plano perfeito para o assalto. Ou quase.
Ele reuniu 14 homens com habilidades únicas, além de dois informantes. Eles conseguiram alterar a sinalização: primeiro desligaram a amarela; em seguida, conseguiram acender a luz vermelha. Quando o maquinista e o assistente pararam a composição para verificar o que estava acontecendo, foram facilmente dominados.
O grupo atacou o chamado trem pagador durante a madrugada, levando estimados atuais 40 milhões de libras esterlinas (pouco mais de R$ 150 milhões). Para carregar todo este dinheiro, eles montaram uma “linha de produção” – transferindo os pacotes de dinheiro rapidamente para dois utilitários estrategicamente estacionados.
O grupo não demonstrou profissionalismo depois do roubo. Voltaram para a fazenda que haviam alugado – a base de operações e não se incomodaram em ocultar as provas. Chegaram a contratar um caseiro para limpar o local depois que se evadissem. A maioria foi presa rapidamente.
Aí, a história ganha contornos hollywoodianos. O mentor da façanha conseguiu escapar, fez cirurgias plásticas para alterar a fisionomia, passando cinco anos entre o México e o Canadá, até ser capturado e deportado. O segundo é Ronald Biggs, que fugiu para o Brasil, casou-se e teve um filho aqui (o Mike, da Turma do Balão Mágico). O assaltante ficou foragido durante 31 anos, até se entregar voluntariamente às autoridades inglesas. “O arrependimento, quando chega, faz chorar”.