Os cavaleiros da Távola Redonda

“Qualquer um que extrair esta espada da pedra será rei da Inglaterra”. Ao retirar a espada, Artur tornou-se soberano das ilhas britânicas, ou ao menos de um feudo: Camelot. Os cavaleiros da Távola Redonda foram homens que juraram lealdade eterna ao rei Artur, no século V, em um embrião do que se tornaria uma das nações mais importantes do mundo.

As referências ao rei Artur e aos cavaleiros da Távola Redonda, no entanto, são sempre suspeitas, uma vez que não há referências históricas confiáveis sobre a época. A ascensão do grupo ocorreu justamente quando os soldados romanos se retiraram das ilhas (pouco antes da queda do império); os habitantes da Inglaterra (celtas e bretões), na época, não conheciam a escrita e as tradições eram transmitidas apenas oralmente.

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A Távola Redonda, com sir Lancelot em destaque.

Para suprir as brechas históricas, é necessário recorrer aos trovadores, que percorriam o território cantando os grandes feitos de um guerreiro (Artur) que unificou as tribos bretãs e combateu normandos e saxões, que chegaram às ilhas, provindos do continente.

Lendas e lendas

O rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda foram fontes de inspiração para outras versões heroicas populares da Europa. É o caso, por exemplo, da história de Carlos Magno, fundador da dinastia carolíngia (França), rei dos francos, dos lombardos e do Império Romano Germânico, que governou entre 768 e 814, ano de sua morte.

Muitos contos narram as peripécias dos cavaleiros da Távola Redonda. Em alguns, o número de heróis atinge 150, mas o mais comum é que as histórias se fixem em apenas 12. A Távola Redonda, em torno da qual eles se reuniam, foi criada para que não houvesse cabeceira da mesa, em uma representação da igualdade dos membros.

Apesar de situar a história no século V, o primeiro registro sobre os cavaleiros da Távola Redonda surgiu apenas 700 anos depois. Wace, um poeta normando, escreveu “Roman de Brut”, uma crônica (escrita em francês) sobre os antigos reis da Bretanha.

A obra foi baseada em “Historia Regum Brittanae”, do galês Geoffrey de Monmouth. Segundo este livro, a corte do rei Artur atrai heróis de toda a Europa, a quem são atribuídas qualidades sobre-humanas. Um dos principais objetivos dos cavaleiros da Távola Redonda era recuperar o Santo Graal.

Um dos pontos altos da narrativa é a descrição de Avalon, uma ilha lendária na qual estaria Excalibur, a espada invencível conquistada por Artur, que a retirou de uma pedra. Posteriormente, o monarca retornou à ilha depois da Batalha de Camlann, o confronto final com seu filho (ou neto) Mordred.

O Santo Graal

Trata-se do cálice utilizado por Jesus Cristo na última ceia, dias antes de o “filho de Deus” ser martirizado no Calvário. De acordo com a tradição, José de Arimateia, membro do Sinédrio (o colégio dos magistrados judeus), era um simpatizante de Jesus.

Ele teria colhido o sangue divino no Graal e proporcionado a tumba em que o corpo de Jesus foi deixado. Este cálice foi transportado para a Inglaterra e, posteriormente, perdido. Diz a lenda que o Santo Graal era o único objeto capaz de trazer a paz de volta a Camelot. Em outras versões, trata-se de um caldeirão mágico, imprescindível para a prosperidade do reino e também um repositório em que os mortos poderiam ressuscitar.

Santo Graal é uma corruptela de sang real (sangue real). Em outras lendas, não se trata de um objeto, mas de uma pessoa: a discípula Maria Madalena, que teria sido a esposa de Jesus e mãe de seus filhos, cuja descendência teria dado origem a dinastias de reis franceses.

Os cavaleiros da Távola Redonda

Os 12 cavaleiros da Távola Redonda mais conhecidos são: Lancelot, Kay, Bedivere, Gaheris, Lamorak de Galis, Galahad, Gawain, Gareth, Percival, Tristão, Boors e Geraint. O número é emblemático: adicionando o rei Artur, remete para Jesus e os 12 apóstolos.

A Távola Redonda tinha uma cadeira bastante complicada: o assento perigoso. Era o assento imediatamente oposto ao ocupado pelo rei Artur e nele só poderia permanecer o cavaleiro mais nobre, hábil e forte de todos os tempos.

O mago Merlin, tutor de Artur, teria apontado o assento perigoso e dito: “rei, este assento está reservado a um cavaleiro de alta categoria, e este cavaleiro ainda não nasceu”. O único “sir” a obter este assento foi Galahad, o último integrante da Távola Redonda (em algumas histórias, ele é o quinquagésimo varão a assentar-se na mesa famosa).

Lancelot

Sir Lancelot du Lac foi um dos principais cavaleiros da Távola Redonda. Citado como cavaleiro da charrete ou cavaleiro do lago, ele foi um dos heróis que teria encontrado o Santo Graal, ao lado de Galahad e Percival. Ele é citado pela primeira vez no século XII, no romance de Chrétien de Troyes.

O código da cavalaria tinha sete pontos principais: buscar a perfeição, ter amor para como os familiares, ter piedade para com os doentes, ter doçura com crianças e mulheres, manter a retidão das ações, respeitar os semelhantes e ser justo na guerra (e leal na paz).

Os temas dos relatos da Távola Redonda, no entanto, estão repletos de falhas que atentam contra este código. Apesar dos temas cristãos que permeiam os relatos, os cavaleiros da Távola Redonda são representados com muitos defeitos e vícios humanos.

Lancelot teria sigo agraciado com muitas bênçãos divinas, como força, graça e beleza. O cavaleiro se apaixonou pela rainha Guinevere, mulher do rei Artur. Na verdade, já estava apaixonado mesmo antes de ela se tornar rainha.

Enquanto estava na França, Artur nomeou Mordred como regente do reino e guardião de Guinevere. O cavaleiro acusou-o de ser amante da monarca. Mesmo sem assumir a paixão pela rainha, Lancelot duelou com Mordred e outros cavaleiros.

Inocentado, com ou sem razão, Lancelot foi o pivô para a batalha entre Artur e Mordred, na qual este último não conseguiu sobreviver. No duelo, mesmo matando o rival, o rei foi ferido mortalmente, com uma pancada de espada na cabeça. Lancelot e Guinevere retiraram-se para conventos, onde logo morreram. Seus corpos foram sepultados em uma mesma campa.