Até o século XV, o homem era o rei da criação. Planetas e estrelas giravam ao redor da Terra para nosso deleite e prazer. Animais e plantas nos haviam sido dados como alimento, decoração e companhia. Ninguém poderia pensar que os animais eram seres inteligentes.
Mas alguns curiosos resolveram nos tirar da zona de conforto. O telescópio decretou que não estamos no centro do planeta e moramos num planeta bem chinfrim. Depois descobriram seres infinitamente pequenos, que nunca veremos. Outro curioso percebeu que os animais e plantas evoluem. Viramos animais, mas os únicos racionais.
Agora sabemos que também não estamos sozinhos no quesito racionalidade. Nossos primos, os gorilas, chimpanzés, orangotangos e bonobos produzem cultura: aprendem a fazer ferramentas – toscas, é verdade – e ensinam os filhotes a usá-las. Traçam estratégias de defesa e já desenvolveram até alguns defeitos da humanidade:
biólogos observaram guerras de gorilas para ocupar territórios de outros bandos e fêmeas de chimpanzés que só transam se o parceiro lhes trouxer um presente, como uma penca de frutas ou pedaço de carne, uma espécie rudimentar de prostituição.
Golfinhos e baleias possuem sofisticados meios de comunicação e localização, vivem em grupos para defender-se e caçar. As baleias desenvolveram o canto e um grupo de golfinhos do Pacífico foi observado saltando em terra – em movimentos descoordenados – para voltar ao mar depois de “caminhar” alguns metros. Os pesquisadores perceberam que inicialmente a brincadeira era de um animal solitário, mas vieram outros e repetiram a performance. Faziam só por lazer, não havia nenhuma necessidade relacionada à atividade.
Primatas, golfinhos e baleias são estudados há tempos pela sua inteligência. Mas há outros. Entre os animais domésticos, o prêmio vai para o porco. Estudos revelam que porcos conseguem entender o funcionamento de um espelho: eles usam o reflexo para encontrar alimento ou um filhote intencionalmente escondido (um carneiro, por exemplo, ao ver a imagem refletida, passa a marrar contra o espelho, entendendo-o como um rival; alguns cães e gatos fazem o mesmo).
Entre os invertebrados, o campeão é o polvo. Já foram vistos vários espécimes manipulando conchas e outros materiais para construir abrigos. Também parecem ter a capacidade de brincar: atiram objetos na corrente, sem nenhum motivo aparente. E talvez tenham faculdades sensitivas: lembram-se do polvo que previa os resultados no último campeonato mundial de futebol? Brincadeiras à parte, é surpreendente verificar que um molusco revela inteligência.
No Japão, um macaco da espécie Macaca fuscata descobriu que podia proteger-se do inverno mergulhando nas fontes termais. Outros animais resolveram fazer o mesmo. Hoje, há migração de macacos para a região termal quando o frio se aproxima.
Não é preciso ser especialista para saber que os animais não são apenas inteligentes, mas revelam interesses, aptidões e até defeitos individuais. Quem já conviveu com um cão ou gato sabe disto. A inteligência é atributo do reino animal. Aonde será que isto nos levará?