Você sabe onde surgiu o chiclete?
O hábito (ou mania) de mascar chiclete – na verdade, resinas extraídas de árvores – surgiu há milênios. Há registros de que os gregos utilizavam gomas de mascar como método de higiene bucal. Na América pré-colombiana, maias, astecas e outras culturas do México e Guatemala já se distraíam com o látex do pé de sapoti, árvore originária da América Central. Os nativos batizaram a goma como chicle, que significa movimento (“cle”) da boca (“chi”).
Como o sapoti é uma fruta muito saborosa, ele seguiu com os conquistadores europeus para as ilhas do Caribe, Filipinas e Indonésia. Com isto, mascar chiclete se tornou hábito comum em praticamente todo o mundo. O consumo de chiclete é alto: o Brasil, terceiro produtor mundial, produz 57 mil toneladas a cada ano.
O chiclete de hoje
O doce, como nós o conhecemos atualmente, surgiu no final do século XIX. O general e presidente do México Antônio Lopes de Santana (então exilado nos EUA) apresentou o chicle ao fotógrafo Thomas Adams. O espírito empreendedor do fotógrafo falou alto e ele imaginou que poderia usar a matéria-prima para fabricar e recauchutar pneus.
No entanto, a resina do sapotizeiro era mole demais para isto. O problema é que Adams havia adquirido grande quantidade de chicle do general mexicano. Era preciso encontrar alguma função. O fotógrafo amoleceu ainda mais a resina (com água quente) e aromatizou-a com extrato de alcaçuz, uma planta de raiz adocicada, e um pouco de licor.
A novidade foi um sucesso: rapidamente, foram vendidas 200 unidades em uma farmácia. Em 1871, Adams patenteou uma máquina de fazer chiclete e seu nome foi eternizado: até hoje, o doce que leva o seu nome é vendido no mundo inteiro. A produção industrial teve início em 1872.
As duas guerras mundiais contribuíram para popularizar o chiclete. O doce era tido como terapia relaxante, que ajudava a reduzir o estresse do front. Outra função era impedir o congelamento da mandíbula nos longos dias frios e nas emboscadas noturnas.
No início da segunda metade do século XX, para reduzir os custos de produção, as resinas naturais (como a do sapotizeiro) começaram a ser substituídas por substâncias sintéticas derivadas de petróleo. A borracha assim obtida é muito mais barata do que a de origem vegetal.
O chiclete chegou ao Brasil em 1945. Natal, capital do Rio Grande do Norte, foi a primeira cidade a receber uma fábrica de chicletes, que se espalharam rapidamente por todos os cantos do país.
Pouco tempo depois, nos anos 1960, surgiram os primeiros chicletes sem adição de açúcar. Era apenas uma estratégia de marketing: o produto começou a ser anunciado como protetor dos dentes, por não provocar cáries. Mas o chiclete “sugar free” foi bem aceito pelos consumidores, já que, além de não causar problemas dentais (como outros doces), também protege a boca, por estimular a produção de saliva, que mantém os dentes limpos e contribui para matar as bactérias da boca. Com isto, ajuda a eliminar o mau hálito.
Com ou sem açúcar, no entanto, é necessário tomar alguns cuidados. Crianças pequenas, se engolirem o doce podem se sufocar ao mascar chiclete ou ter problemas de oclusão intestinal. Qualquer pessoa que engula um chiclete vai expeli-lo exatamente como entrou, porque nosso organismo não consegue digeri-lo, mas, nos adultos, a passagem pelo sistema digestório é mais tranquila. A guloseima não deve ser consumida de barriga vazia, para não provocar um estímulo da produção de suco gástrico, que pode resultar em gastrites e úlceras.
Você sabia?
O chiclete não gruda nos dentes porque eles são estruturas duras e úmidas (os dentes são lisos como o vidro e estão constantemente umedecidos pela saliva). Para grudar, é preciso que o chiclete encontre uma superfície seca e porosa.
O produto perde a maciez à medida que o mascamos. Os aromas artificiais e o açúcar, depois de algum tempo, são dissolvidos e seguem o caminho comum da digestão junto com a saliva. Só fica na boca a borracha, que é dura e esbranquiçada. Se for exposto ao ar, o resto de chiclete se torna ainda mais endurecido.
O sabor tutti frutti (todas as frutas, em italiano), um dos mais populares entre os chicletes, varia de país para país. A base da receita é apenas banana e laranja, mas cada país usa produtos locais. No Brasil, há adição de abacaxi, baunilha e morango. Nos EUA, entram em cena as cerejas, frutas bastante apreciadas. Na Europa, o segredo é a canela e no Oriente, o cravo. Mas a receita não é fixa, depende das frutas da estação.
Os chicletes sem açúcar realmente protegem nossos dentes. Os ésteres de ácidos graxos (em palavras mais simples, óleos vegetais), que fazem parte da composição do doce, possuem função desengraxante, isto é, eles retiram a gordura que eventualmente esteja na boca. Os produtos açucarados fazem a mesma tarefa, mas eles depositam parte do açúcar nos dentes, o que prejudica o esmalte dos dentes e abre caminho para as cáries.
Apesar de muitas escolas proibirem, alegando que o consumo prejudica a concentração e atrapalha a leitura, mascar chicletes com certa frequência ajuda a melhorar a memória. Pesquisadores ingleses descobriram que a mastigação estimula regiões do cérebro relacionadas à memorização. Além disto, ocorre um aumento do fluxo sanguíneo (o que melhora a oxigenação das células) e, com isto, o cérebro inteiro passa a funcionar melhor.
Entretanto, não se deve exagerar com o chiclete. Apesar de ele ser útil até para emagrecer, porque aumenta a sensação de saciedade e reduz a vontade de consumir doces, o excesso sobrecarrega a mandíbula e pode causar bruxismo.
Em Cingapura (cidade-Estado situada no sudeste asiático), a venda de todas as formas de chiclete é proibida: o produto é considerado ilegal e provoca casos de polícia. O “infrator” pode ser condenado a pagar multa e até a passar alguns dias atrás das grades.
Os chicletes medicinais recebem a adição de determinados produtos: nicotina (para quem quer parar de fumar), ou guaraná (para quem quer ficar acordado). A indústria está desenvolvendo um produto que vai fazer sucesso entre os homens, especialmente os mais velhos: chiclete com citrato de sildenafilo, substância que garante boas (e longas) ereções penianas.