Luís de Camões, considerado o primeiro escritor da língua portuguesa, registrou a história em “Os Lusíadas”, poema que conta a saga dos portugueses para estabelecer seu reino, no século XIV. A “Inês morta” da história é Dona Inês de Castro, prima do infante Dom Pedro (que depois foi coroado Pedro I, de Portugal).
Inês era natural de Castela e dama de companhia de Constança, princesa espanhola, mulher de Pedro.
Certo dia, Dom Pedro passou a olhar a jovem aia com outros olhos: ficou apaixonado, mas seu pai, Afonso IV, não gostou nada da ideia e mandou enviar a jovem de volta para Castela (Espanha). Mas Pedro continuou o relacionamento por cartas e visitas. À época, Inês também já era casada. Aos olhos da Igreja, era uma relação pecaminosa. Para justificar os constantes encontros, Pedro convidou Inês para madrinha de seu filho Fernando.
Em 1345, Constança morreu e Pedro se amasiou com Inês de Castro (tiveram três ou quatro filhos). Posteriormente, ele afirmou que havia se casado com a amásia e os filhos mortos também eram legítimos.
Afonso IV conhecia as pretensões da família Castro e estava cada vez mais alarmado com o crescimento da sua influência. Isto, associado às pretensões de Fernando, filho legítimo, ao reino, fizeram o rei decidir-se por matar Inês e seus filhos. Três conselheiros, Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pero Coelho, foram encarregados da missão macabra e não tiveram dificuldade em executá-la.
Em 1357, Afonso IV morreu e Pedro I ascendeu ao trono, promovendo a vingança que por tanto tempo esperou. Matou dois dos três conselheiros (Diogo conseguiu fugir) depois de submetê-los a torturas com requintes de rigor. Em seguida, fez a amada ser coroada post-mortem (com direito à cerimônia de beija-mão, no corpo já em decomposição) e transferiu os restos mortais de Inês para o Mosteiro de Alcobaça, em procissão solene. O túmulo é um ponto turístico do país. As sepulturas de Pedro I e Inês de Castro estão frente a frente. O rei disse que, no dia em que acordassem para subir ao Paraíso, estariam olhando um para o outro.
Mas isso não adiantou nada. A amásia e os filhos estavam mortos e nada podia ser feito sobre isto. Reza a lenda que, quando os conselheiros perguntaram ao rei se estava satisfeito, ele disse que “Não, agora, Inês é morta”. A expressão passou a ser usada quando a solução de um problema chega tarde demais e não produz resultados efetivos.
Outros autores portugueses e espanhóis também narraram o fato, mas Camões, com genialidade, cravou a melhor definição de Inês de Castro: “A que, depois de morta, foi rainha”.