Na maioria dos casos, o comportamento da mitomania não traz benefícios reais a quem apresenta este distúrbio dissociativo de personalidade, ao contrário do que acontece com pacientes que apresentam condutas antissociais, que criam simulações para obter vantagens, mesmo que em detrimento de outras pessoas. Os mitômanos também não pretender atrair a atenção, como é o caso do transtorno de Munchausen, cujos portadores simulam sintomas e doenças para passar longas horas em hospitais e clínicas.
A principal diferença entre um mitômano e um mentiroso ocasional é que este último não cria resistências para admitir a verdade, quando é flagrado: são as pequenas mentiras do dia a dia, cometidas por todos: o trânsito congestionado para justificar um atraso, falsos elogios para agradar amigos e familiares, etc. Contamos mentiras o tempo todo: alguns estudos afirmam que duas pessoas, no primeiro contato, chegam a mentir três vezes a cada dez minutos.
A mitomania está relacionada principalmente à baixa autoestima e ao transtorno obsessivo compulsivo (TOC): o paciente não espera receber um prêmio ou escapar a uma punição: simplesmente gera um universo fictício: pode criar uma família inexistente, um emprego de destaque, viagens, títulos acadêmicos, etc., sempre com o intuito de poder se relacionar com amigos e colegas.
Aparentemente, o portador de mitomania não consegue lidar com sua realidade. Enquanto uma criança mente sobre a nota baixa que recebeu numa avaliação na escola para evitar (ou adiar) uma punição – fato que também demonstra um problema no relacionamento familiar –, o mitômano simplesmente não aceita a nota e imagina um desempenho mais favorável.
As mentiras dos mitômanos geralmente são muito bem delineadas: os portadores engendram tramas bastante convincentes e ricas em detalhes, chegando mesmo a acreditar temporariamente nelas. Por isto, o diagnóstico é muito difícil: é preciso conviver por um tempo relativamente com o mentiroso compulsivo para conseguir apreender as primeiras brechas desta vida imaginária. No tratamento, é preciso o apoio da família, para que o paciente seja confrontado com a sua realidade.
Não existem causas específicas para a mitomania. Ela pode surgir a partir de uma família desestruturada e, nestes casos, é comum a criação da família ideal: por exemplo, se o pai é ausente ou violento, o mitômano pode desenvolver histórias dando conta da boa relação, citando passeios, jogos e viagens completamente inexistentes. A própria caracterização da doença na CID (Classificação Internacional de Doenças, manual de diagnósticos da Organização Mundial da Saúde) ainda é incompleta.
Histórico familiar, primeiras impressões sobre os pais e outras figuras parentais e hereditariedade parecem estar associadas ao distúrbio, que também pode ser disparado por um evento traumático, como um acidente ou a morte súbita de alguém muito próximo. O problema costuma surgir a partir da puberdade, mas pode acometer pessoas já na idade adulta.
Quem mente de forma patológica pode se acostumar ao seu mundo fictício a tal ponto de não conseguir identificar os motivos que determinaram esta condição. Alguns pacientes, no entanto, costumam apresentar remorso em algum momento, o que pode ser o elemento desencadeador para a procura de ajuda psicológica. No entanto, quanto mais tempo o mitômano transita em sua história, mais difícil é encarar o desmentido formal. O tratamento mais adequado é a psicoterapia cognitiva; caso o paciente apresente outros problemas, como angústia profunda, depressão e ansiedade, um psiquiatra pode prescrever medicamentos.