E talvez seja apenas isto, mesmo: um mistério envolvido em lendas. Hy-Brasil, Brasil de São Brandão ou ilha de São Brandão começou a surgir em mapas cartográficos a partir do século XVI, mas muito antes disto ela já despertava interesse para os estudiosos da fantasiosa geografia medieval, que colocava Hy-Brasil e as ilhas das Sete Cidades e das ilhas Afortunadas em algum lugar do Atlântico, a 200 milhas das ilhas britânicas.
A história da ilha Hy-Brasil
A história da ilha Hy-Brasil tem início com São Brandão, o Navegador (484-577). Foi um religioso católico nascido no atual Condado de Kerry, na Irlanda. O sacerdote recebeu seu cognome – Navegador – em função de viagens missionárias que realizou pela costa oeste do seu país de origem e também na Escócia e País de Gales; nos dois reinos, ainda sem as fronteiras bem definidas, ele construiu abadias para cristianizar os povos locais.
Até então, nenhum mistério: diversos missionários espalharam-se por todo o norte europeu para levar a verdadeira fé a todos os povos, e a Irlanda era a “fronteira final” – o ponto mais ocidental do mundo na época. De acordo com interpretação literal do texto de São Mateus, o Evangelho deveria ser “pregado em todo o mundo”. Então viria o fim do mundo.
Provavelmente o sacerdote-navegante se confundiu em seus cálculos marítimos. É possível que ele tenha aportado em Shetland e nas ilhas Órcadas (Escócia) e nas ilhas Faroé (atualmente pertencentes à Dinamarca), mas os demais territórios indicados por ele entre o mar do Norte nunca foram identificados. Mesmo assim, seus registros deram origem a diversos mitos dos povos do norte, especialmente entre os celtas.
Os escritos de São Brandão
Nenhum escrito de São Brandão sobreviveu ao tempo. Os documentos mais antigos são datados dos séculos X e XI (há uma tradução francesa das “Navigation Sancti Brendani” – “Navegações de São Brandão” de 1125). Mesmo assim, eles influenciaram a imaginação dos marinheiros europeus.
Entre os relatos, consta que o santo e outros 60 monges (alguns afirmam que era 150) aportaram no dorso de uma baleia para celebrar a Missa de Páscoa, imaginando se tratar de uma ilha. Depois do culto, os sacerdotes acenderam fogo para se aquecer, o que rapidamente assustou o grande mamífero: os monges mal teriam tido tempo de retornar aos navios.
Em algumas décadas, o escasso tráfego marítimo no norte do Oceano Atlântico foi provavelmente. Baleias, serpentes, golfinhos, eram todos classificados como monstros marinhos que arrastavam os marujos para o fundo do abismo (ensinava-se que o Atlântico era o último abismo, em um tempo em que a terra considerada chata).
O que haveria depois do Mar Oceano? Histórias e lendas começaram a surgir e se mantiveram no imaginário popular por toda a Idade Média (didaticamente encerrada em 1453). A ilha Hy-Brasil foi identificada, em várias expedições costeiras medievais, como os Açores e as Canárias e o continente americano, apenas entrevisto, era tido como uma terra maravilhosa que ocultava muitos tesouros para quem se aventurasse. Novas expedições, no entanto, só surgiram no século XV, quando os conhecimentos náuticos eram muito mais avançados.
São Brandão teria chegado também a lugares tão distantes como o cabo Espichel e o portinho da Arrábida (sudoeste de Portugal). A viagem durou sete anos, ao fim dos quais a tripulação atingiu a Terra Repromissionis, o Paraíso terrestre. Infelizmente, as cartas de rotas se perderam e não temos chance de encontrar o Jardim do Éden.
Reposicionando a ilha
No tempo das Grandes Navegações, a localização geográfica da ilha Hy-Brasil foi alterado. A partir de 1572, ela começou a se “deslocar” para o sul e o oeste do Atlântico. Sua posição chegou a ser “descoberta” na Angra do Heroísmo, ilha mais meridional dos Açores.
A origem do nome parece óbvia para nós: nosso país foi batizado em função da abundância de pau-brasil na costa baiana, madeira usada para fabricar corantes vermelhos. Para manter a tradição de São Brandão, no entanto, muita gente pretende que o nome seja derivado de Hy-Brasil, “descendentes do vermelho” em gaélico. Os celtas utilizavam cinábrio (sulfureto de mercúrio) como corante para o vermelhão e também para as pinturas de guerra.
Mais lendas da ilha Hy-Brasil
Nos textos de Platão, Atlântida era uma lendária ilha ou continente situado “à frente das Colunas de Hércules” (o estreito de Gibraltar, a ligação entre o Atlântico e o Mediterrâneo). No diálogo “Timeu”, Atlântida é apresentada como uma grande potência naval que conquistou muitas terras da Europa e África Ocidental antes da Era de Sólon (portanto, há 9.600 anos). Após uma tentativa frustrada de invadir Atenas, no entanto, a ilha afundou no mar “em um único dia e uma única noite de infortúnio”.
A possibilidade da existência de terras além das Colunas de Hércules (ali posicionadas pelo herói grego para sustentar o céu, que era considerado sólido – o firmamento) foi intensamente discutida pelos antigos, mas foi finalmente abandonada. Com as viagens transatlânticas e a possibilidade de encontrar novos continentes, a tese voltou e Atlântida chegou a ser identificada com a ilha Hy-Brasil.
A ilha vivia envolvida por névoa e, por isto, sua identificação era difícil para os navegantes. A neblina levantava-se apenas um dia a cada sete anos. Ao menos, foi isto que disseram os aventureiros do século XVII, comandados pelo capitão John Nisbet, que teriam visualizado a ilha Hy-Brasil no exato momento em que o Sol brilhava na costa. Eles teriam voltado para a Inglaterra com os porões repletos de cargas de ouro e prata.
Eram os deuses astronautas?
A última aparição de Hy-Brasil ocorreu no século XIX, quando outros navios ingleses avistaram e perderam de vista a terra que, segundo alguns escrivães, era habitada por deuses irlandeses. Outros afirmam que padres e monges teriam obtido profundos conhecimentos em suas expedições, fato que teria permitido construir uma avançada civilização.
No século XX, pesquisadores passaram a afirmar que Hy-Brasil não era habitada, mas um posto avançado de grupos alienígenas. Nos anos 1980, um incidente na Inglaterra envolvendo a queda de um avião, situou Hy-Brasil a 280 km a nordeste de Londres. Porém, militares teriam identificados luzes brilhantes sobre a região, possivelmente disparadas por um OVNI (objeto voador não identificado). Foram feitas descrições sobre o tamanho, formato e iluminação da nave espacial.
Em 2010, o especialista em computação John Penniston acreditou ter encontrado uma mensagem codificada em uma série aleatória de números. Finalmente, após muitos estudos e pesquisas, Penniston chegou à tradução: “Exploração da humanidade continua para o avanço planetário”. Estaríamos sendo orientados a cruzar as fronteiras do espaço sideral.