O homem da máscara de ferro é o nome dado a um prisioneiro chamado Eustache Dauger, mantido, a partir de 1669, em diversas prisões francesas, como a Bastilha, símbolo da revolução liberal, e a Fortaleza de Pignerol (atualmente, a região, pertencente ao Piemonte, na Província de Turim, pertence ao território italiano).
Durante 34 anos, o encarcerado este sob escolta de Bénigne Dauvergne de Saint Mars (comandante dos dois presídios), até morrer em 1704, sob o reinado de Luís XIV, o Rei Sol. A máscara original da história era apenas um pedaço de veludo preto. A identidade começou a ser discutida com uma gravura anônima pintada à mão, provavelmente publicada em 1789.
Um pouco antes, em 1771, o filósofo francês Voltaire afirmou, na segunda edição de “Questions sur l’Encyclopedie”, que o homem da máscara de ferro o irmão gêmeo do rei Luís XIV. Seu encarceramento foi devido a possíveis complicações na sucessão de Luís XIII. O Rei Sol aparentemente não queria saber de outros pretendentes à Coroa.
Entre 1717 e 1718, o filósofo também foi detido na Bastilha, onde teria obtido provas da existência do homem da máscara de ferro. O raciocínio de Voltaire foi simples: se havia necessidade de manter a face ocultada, é porque, evidentemente, ela poderia ser reconhecida por nobres, clérigos e guerreiros. O único rosto tão popular, à época, era o do soberano. Ao menos na capital e nos arredores.
Provavelmente, a afirmação de Voltaire era apenas mais uma estratégia para desvalorizar a monarquia francesa, totalmente absolutista.
Creditam-se a Luís XIV duas frases emblemáticas: “O Estado Sou Eu” e “Eu quase esperei”, para queixar-se de atrasos das suas carruagens, sempre pontuais.
No final da década de 1840, o escritor Alexandre Dumas, Pai, autor de “Os Três Mosqueteiros”, “O Conde de Monte Cristo”, “A Rainha Margot” e “Os Irmãos Corsos”, publicou “O Homem da Máscara de Ferro”: um sucesso instantâneo para os padrões editoriais da época.
O homem da máscara de ferro: Literatura, teatro e cinema
A saga do homem da máscara de ferro já foi narrada em palcos de diversos países e recebeu novas versões literárias sobre a real identidade do protagonista.
Em 1998, o cineasta americano Randall Wallace levou às telonas a história escrita por Dumas. No filme, os três mosqueteiros (Athos, Porthos e Aramis, coadjuvados por D’Artagnan), descobrem o plano para neutralizar o real herdeiro do trono (Felipe – este é o nome do personagem – teria nascido alguns minutos antes de Luís). Depois de muitas peripécias, o vilão é morto e Felipe, conduzido ao trono. Nada disto, porém, possui qualquer comprovação histórica.
A produção, no entanto, foi considerada um fracasso de público e crítica, ao contrário de outro longa-metragem, realizado em 1939 por James Whale, com Louis Howard no papel principal. Em 1977, Richard Chamberlain encarnou os gêmeos reais em um filme de Mike Newell. Os três filmes estão disponíveis no Youtube (www.youtube.com).
Comprovações e refutações
A identidade do prisioneiro misterioso de Pignerol e da Bastilha nunca foi comprovada – e talvez ele nunca tenha existido. Os boatos, contudo, dão conta de que ele foi preso a mando da Coroa francesa e obrigado a portar permanentemente uma espécie de gaiola que impossibilitava a verificação de sua identidade.
Não existe nenhum registro sobre a prisão e a permanência do príncipe Felipe (ou Eustache, ou ainda Marchioly, nome com o qual teria sido sepultado). Isto, no entanto, não era um fato raro durante a Idade Média europeia: nos países absolutistas, a legislação variava de acordo com os interessantes dos governantes e das eminências pardas (assessores e conselheiros poderosos, que sempre agiam nos bastidores).
A máscara de ferro, por outro lado, é um instrumento de tortura totalmente improvável. Durante o repouso noturno, o presidiário poderia lesar gravemente o rosto e o pescoço: e isto perdurou por 34 anos. Em uma época sem antibióticos nem curativos eficazes, ele não poderia ter chegado aos 61 anos de idade com tantas sevícias (em outras versões, ele morreu aos 45 anos).
Por outro lado, surgiram muitas “testemunhas” surgiram, ainda que bastante tardias, para afirmar a nobreza, a elegância, a inteligência, a cultura e o porte viril do homem da máscara de ferro. Outros carcereiros que teriam travado contato com ele nas masmorras descreviam sobre a sobriedade do presidiário e sobre os sentimentos de respeito que ele despertava.
Os relatos continuam: o nosso “máscara de ferro” mantinha distância dos demais condenados (ou apenas detidos sem qualquer tipo de processo legal), apesar de nunca agir com menosprezo ou arrogância. Apenas parecia sentir que não pertencia àquele universo.
O prisioneiro foi transferido diversas vezes – transformou-se uma espécie de “turista acidental” das prisões francesas. Estas transferências quase sempre redundavam de tentativas frustradas de travar contato com o exterior: o homem da máscara de ferro teria desenvolvido uma espécie de fixação para contar a sua história e conseguir algum tipo de ajuda.
Em 1698, o preso misterioso foi encaminhado definitivamente à Bastilha. Relatos do comandante, que também foi transferido para a famosa torre, para evitar que mais pessoas tomassem conhecimento da história trágica, indicam que o planejamento foi cuidadosamente traçado, para impedir quaisquer eventualidades.
Uma curiosidade: a Bastilha nasceu como um portão do bairro de Saint Antoine, em Paris. A construção foi erguida pelo rei Carlos V (1364-1380) e posteriormente ampliada para defender o lado leste da cidade contra os ataques ingleses, na Guerra dos Cem Anos (1337-1543).
Quando populares marcharam contra a fortificação, no final do século XVIII, ela já havia voltado a abrigar poucos presos. Sua tomada, porém, em 14 de julho de 1789, é um marco da revolução, e assinala a data nacional da França.
Voltando ao homem da máscara de ferro, sua estada na Bastilha não mereceu nenhum registro por parte das autoridades. Nem sequer seu nome teria sido revelado antes da sua morte (Marchioly ou Marchiel). Pode parecer procura de pelo em povo, mas muitos estudiosos que há muitos segredos sobre esta personalidade tenha vivido cercada de tantos mistérios e enigmas.