O Greenpeace – Paz Verde – foi criado em 1971. A primeira atuação ambientalista de protesto da organização foi contra testes nucleares numa ilha da costa do Alasca (EUA). Hoje, sabe-se, que a energia liberada nestes testes dá a volta ao mundo diversas vezes, de acordo com a potência da detonação: um teste nuclear feito no oceano Pacífico, pela França, atravessou três vezes a Amazônia, sem causar problemas graves, mas afetou a saúde de pessoas na Oceania, sul da Ásia e países do norte da África (Egito, Argélia, Líbia, Tunísia e Marrocos). A França deve pagar 10 bilhões de euros em indenizações.
Numa época em que ninguém falava sobre ecologia ou biodiversidade, o Greenpeace uniu pacifismo e ambientalismo. O grupo, surgido em plena Guerra do Vietnã, era formado inicialmente por desertores, que cruzavam a fronteira do Canadá para não ter que combater.
No segundo protesto contra os testes nucleares, os 12 fundadores embarcaram em direção da ilha, para tentar impedir a detonação, ainda sem o nome oficial: o grupo autodenominava-se “Não Faça Onda”, em referência ao maremoto provocado pelo artefato atômico, nome grande demais para caber nos buttons vendidos para arrecadar fundos. Os militantes não chegaram ao destino: foram interceptados pela marinha americana e obrigados a voltar para Vancouver. No entanto, quando chegaram, já eram notícia.
Robert Hunter, um dos iniciadores do movimento, estava lendo um livro sobre mitos indígenas e ficou impressionado com uma profecia, proferida cerca de 200 anos antes: “Um dia, a terra vai adoecer. Pássaros cairão do céu, mares vão escurecer e os peixes dos rios aparecerão mortos na correnteza. Neste dia, os índios perderão o espírito, mas vão recuperá-lo, para ensinar ao homem a reverência pela terra. Todas as raças vão se unir, sob a bandeira do arco-íris, para acabar com a destruição. Eles serão os guerreiros do arco-íris.
Anos depois, o principal barco do Greenpeace seria batizado como “Rainbow Warrior” (guerreiro do arco-íris) e se transformaria em símbolo do ativismo ambiental.
O Greenpeace no Brasil
O Greenpeace desembarcou no Brasil durante a Conferência ambientalista que ficou conhecida como Rio-92. Neste encontro, 180 países reconheceram os danos ao planeta provocados pela atividade humana e estabeleceram metas pra reduzir poluição, desmatamento, degradação de ambientes, etc.
Em 26.4.1992, exatamente seis anos após o desastre na Usina Nuclear de Chernobil (Ucrânia), o Greenpeace desembarcou em Angra dos Reis (RJ), onde afixou 180 cruzes no pátio da usina nuclear brasileira, em referência aos mortos na explosão. Chernobil é uma cidade fantasma até hoje e continua fazendo vítimas, em função da radioatividade.
Um dos efeitos práticos da ação do Greenpeace no Brasil foi a edição de uma lei, já em 1993, impedindo a importação de resíduos de metais pesados, que contaminam o solo e o ar. O Brasil aderiu à Convenção de Basileia, que impede a comercialização destas substâncias entre os membros da OCDE – Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico, vinculado à ONU.
Na Amazônia, o Greenpeace ajudou na regulação do desmatamento. Nos anos 1990, não havia registro dos setores que impulsionavam a agricultura em áreas de floresta, a fiscalização era praticamente nula e a exploração comercial ocorria sem restrições, inclusive com a exportação de madeiras nobres.
A marinha tentou interceptar o barco do Greenpeace, que subia o rio Amazonas com ativistas brasileiros a bordo. Diversas entidades da sociedade se posicionaram a favor do movimento; finalmente, o Superior Tribunal de Justiça pediu que a expulsão fosse revogada, o que significou o reconhecimento do Greenpeace como organização não governamental.
No século XXI, o Greenpeace continua ativo (e agressivo, segundo alguns contraditores). Denunciou a contaminação por Poluentes Orgânicos Persistentes, usados pelas grandes refinarias, protestou contra a produção de grãos transgênicos, organizou o primeiro guia consumidor, com uma lista de alimentos transgênicos comercializados no país.
Após muitos protestos e intensa pressão sobre o Congresso Nacional, o Greenpeace conseguiu suspender, em 2002, o comércio de mogno, árvore brasileira ameaçada de extinção. Na época, o governo determinou a realização de auditoria em todos os planos de manejo do Pará, denunciando os “Parceiros do Crime”, lista de extrativistas que não respeita a legislação.
Em 2009, o Greenpeace denunciou a “Farra do Boi” na Amazônia. Após três anos de investigações, o relatório mostra o relacionamento perverso entre governos e pecuaristas, que muitas vezes resulta em desmatamento, trabalho escravo e invasão de reservas indígenas.